domingo, setembro 30, 2012

COSMÓPOLIS (Cosmopolis)



Por mais que andem dizendo por aí, David Cronenberg nunca deixou de ser ele mesmo. Nem quando fez aquela célebre trinca de filmes com Viggo Mortensen. E se muitos reclamaran que ele foi por demais convencional em UM MÉTODO PERIGOSO (2011), com certeza não poderão dizer o mesmo de COSMÓPOLIS (2012), o retorno de Cronenberg às origens, de maneira ainda mais radical.

É difícil sair do cinema entendendo completamente o que se passa no filme. O clima de estranheza, tão presente em obras como VIDEODROME – A SÍNDROME DO VÍDEO (1983) e em EXISTENZ (1999), para citar dois grandes filmes do diretor, aparece ainda mais forte. Aliás, o filme é tão corajoso que até lembra a frieza cirúrgica de seus experimentais trabalhos iniciais – STEREO (1969) e CRIMES OF THE FUTURE (1970). Na tradução para as telas, o romance de Don DeLillo se transforma numa autêntica obra cronenberguiana, cheia de elementos familiares à sua filmografia, que certamente serão facilmente compreendidos por aqueles que acompanham o seu trabalho.

Em COSMÓPOLIS, o cineasta não oferece muitas concessões e deixa dúvidas quanto ao tema aparentemente principal do filme. Seria mesmo sobre o capitalismo às vias de entrar em colapso? Afinal, Cronenberg nunca foi um cineasta muito interessado em assuntos de política e economia. Seus principais temas são o corpo, as mutações e o sexo. E isso não deixa de aparecer no filme. Ao tentar compreender o que se passa no universo de COSMÓPOLIS, o espectador pode se ver com os neurônios fervilhando, já que os diálogos são ditos de maneira muito estranha e às vezes aparentemente sem sentido.

Na trama, Robert Pattinson é o magnata Eric Packer, um sujeito que quer atravessar a cidade em sua enorme limusine - que funciona para ele como casa e escritório - para cortar o cabelo. Sua fortuna foi construída fazendo especulações em bolsas de valores em todo o mundo. Mas ele é um sujeito entorpecido, em busca de algo que o faça se sentir vivo. Mesmo em situações intensas ele se mostra indiferente, apático. Um homem morto, como lhe diria o personagem de Paul Giamatti mais adiante. Seu relacionamento com a esposa, com quem ele se casou há poucos dias, vivida por Sarah Gadon, é de esfriamento. O sexo só aparece entre os dois como tópico de conversa, pouco depois de ele ter transado com outras mulheres, entre elas, a personagem de Juliette Binoche. "Você exala sexo", ela diz ao marido.

Falando assim até parece que o filme é fácil. Na verdade, ele é muito desafiador ao optar por usar longas sequências de diálogos frios. Assim, vale a pena experienciar o filme no cinema e ver a reação das pessoas, a maioria delas de ódio ou de rejeição. Então, qual a importância de um filme como esse, se é para desagradar a maior parte do público? Principalmente oferecer algo novo e diferente para as plateias, fazê-las pensar, não esquecer o filme que acabaran de ver assim que sairem do cinema.

Por isso, quem for ao cinema achando que o que é apresentado no trailer - com aquela edição frenética - representa o filme está enganado. Quem for à procura de ação talvez deva manter distância de COSMÓPOLIS. Ou então já ir preparado para uma experiência nova e fascinante. Um objeto estranho que ajuda a pensar, a refletir não só sobre o universo cronenberguiano, mas também sobre o nosso próprio mundo. Que é tão ou mais complicado quanto.

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