quinta-feira, agosto 09, 2012

OS IMPERDOÁVEIS (Unforgiven)



Depois de mais de 19 anos de quando o vi pela primeira e única vez no cinema, poucos dias antes da cerimônia do Oscar de 1993 no extinto Cine Diogo, eis que decidi rever, em DVD, OS IMPERDOÁVEIS (1992), de Clint Eastwood, que faturou as principais estatuetas e que, na época, vou confessar, não me entusiasmou. Talvez porque eu ainda não fosse fã de western (embora já gostasse de Leone), talvez porque ainda não estivesse maduro o suficiente para perceber a grandeza da obra. E que grandeza, meus amigos. Terminei de ver o filme com o coração na mão, lembrando a sensação que filmes posteriores do diretor provocaram em mim.

Lembrei principalmente dos finais carregados de pesar de UM MUNDO PERFEITO (1993), de MENINA DE OURO (2004) e de GRAN TORINO (2008). Rever OS IMPERDOÁVEIS tendo visto esses trabalhos com o amargo tema recorrente da culpa faz mais sentido dentro da filmografia do diretor. Há quem diga que essa evolução resulta da própria vida de Clint, que na juventude não era essa figura carinhosa que hoje é admirada por tantos.

Na trama, o velho Clint é um fora-da-lei aposentado. Sua amada (e falecida) esposa havia feito com que ele se regenerasse. Até a bebida ele largou. Cuidando de porcos e galinhas, com um casal de filhos pequenos, numa casinha humilde, ele sente-se tentado a executar um serviço, para pegar uma recompensa oferecida por um grupo de prostitutas. Uma delas foi esfaqueada no rosto e as demais juntaram dinheiro para pagar um assassino profissional para vingá-la.

Assim, o grupo formado por ele, um velho amigo também aposentado (Morgan Freeman) e um garoto que não enxerga direito (Jaimz Woolvett) parte em busca de matar os tais homens. Mas as coisas não são tão fáceis. O próprio Clint Eastwood do filme já problematiza e contrasta aquele que era visto com cinismo e violência em filmes que ele dirigiu e protagonizou, como O ESTRANHO SEM NOME (1973), e nos trabalhos que ele fez com Don Siegel e Sergio Leone, dois diretores a quem o filme recebe dedicatória carinhosa. Agora o assassinato de uma pessoa é vista como algo absurdamente cruel.

E esse peso de dezenas de mortes é compartilhado conosco. O personagem de Gene Hackman, um xerife cruel da cidadezinha, que proíbe a entrada de pessoas com armas de fogo, é um antagonista de muita força dentro do filme. OS IMPERDOÁVEIS se detém no personagem de Hackman durante vários minutos, para que possamos ver a sua força e inclusive admirá-lo. Afinal, ele é o homem da lei e os assassinos contratados são os bandidos. Mas as coisas se invertem com o inevitável embate dos dois.

O DVD duplo da Warner (Premium Edition) é uma pequena joia, trazendo extras como o making of da produção e um pequeno doc sobre Eastwood. Mas os extras que mais contam são o programa para a televisão EASTWOOD ON EASTWOOD (1997), de mais de uma hora de duração, e o divertido episódio da série MAVERICK em que Clint participou, "Duel at Sundown" (1959). Interessante ver este episódio para conferir o Clint pré-Leone, pré-Siegel e antes de se tornar esse gigante do cinema na direção. O som 5.1 do DVD é de dar gosto. Em certos momentos, nos sentimos em meio à chuva e à lama. O fato é que essa revisão subiu o filme para o topo de meus favoritos do diretor. E dizer isso, dentre tantas outras obras-primas que ele dirigiu e/ou protagonizou, é sinal de que estamos diante de um dos melhores filmes de todos os tempos.