sábado, agosto 04, 2012

JOGO SUBTERRÂNEO



Meu primeiro contato com a literatura de Julio Cortázar conta menos de um ano. Foi um professor do mestrado que me instingou à leitura de um de seus contos mais famosos e, posteriormente, à revisão de BLOW-UP – DEPOIS DAQUELE BEIJO, de Michelangelo Antonioni, adaptado de "As babas do diabo". Depois dele, foi a vez de eu conferir A HORA MÁGICA, de Guilherme de Almeida Prado, outra adaptação de um conto de Cortázar, "Troca de luzes". Quanto a JOGO SUBTERRÂNEO (2005), de Roberto Gervitz, a iniciativa de ver o filme não foi minha. Foi novamente de uma professora do mestrado, com a intenção de compararmos e discutirmos o filme e o conto "Manuscrito achado num bolso".

JOGO SUBTERRÂNEO é o segundo trabalho de Gervitz desde FELIZ ANO VELHO (1987). Dezoito anos separam um filme do outro e não sei porque ele passou tanto tempo sem filmar. Ambos os filmes são adaptações de obras literárias, mas com JOGO SUBTERRÂNEO, ele tomou mais liberdades, já que tinha em mãos um pequeno conto, que ele poderia alargar, criar mais personagens, ir para outros caminhos diferentes da obra do escritor argentino. O resultado não foi dos mais felizes, mas não deixa de ser um filme interessante. Foge do padrão a que estamos acostumados.

Na trama, Felipe Camargo é um sujeito que tem o hábito de fazer um jogo: no metrô, ele escolhe uma mulher que ele acha interessante e fica torcendo para que ela desça nas estações que ele mentalmente quer. Se ela fugir daquilo que ele deseja, ele deixa ela seguir; caso ela desça na estação que ele deseja, ele a segue e a persegue. Assim, três mulheres surgem no filme, as personagens de Maria Luíza Mendonça, Júlia Lemmertz e Daniela Escobar. Cada uma delas tem um papel diferente quando entra em sua vida. Mas a maior importância na história é dada à personagem cheia de mistérios e de temperamento instável de Maria Luíza.

O filme é uma espécie de história de amor sem sentimento. Ou com sentimentos que não emocionam, que, de propósito ou não, acabam seguindo uma linha racional próxima ao conto de Cortázar, muito embora algumas cenas tentem optar por forçar alguma emoção. Mas tudo que o filme consegue é nos manter sempre distantes de seus personagens, todos eles fechados em sua própria solidão. Uma solidão atribuída também à cidade de São Paulo e ao metrô.

A cada dia que o tempo passava, mais o filme se distanciava de minha memória. Fui lembrando dele agora, aos poucos, enquanto escrevia este texto, pois já faz várias semanas que o vi. Escrever é mesmo um belo exercício de memorização.