terça-feira, julho 10, 2012

MARTY



“See, dogs like us, we ain't such dogs as we think we are.” 
(Marty Pilletti) 

Que filme bonito que é MARTY (1955), de Delbert Mann! Infelizmente precisou Ernest Borgnine morrer para que eu finalmente o assistisse, como uma homenagem ao ator. Difícil não simpatizar com a persona que ele cria neste filme, que lhe rendeu seu único Oscar de melhor ator (além de filme, direção e roteiro, e a Palma de Ouro em Cannes). Trata-se de um trabalho bastante influenciado pelo neorrealismo italiano. A bela fotografia em preto e branco que fica mais bonita à noite, a aparente simplicidade do enredo e o ar melancólico são elementos que fazem com que nos lembremos do cinema italiano nascido junto aos destroços da Segunda Guerra Mundial. Ajuda também o fato de Marty e sua família serem ítalo-americanos.

Marty (Ernest Borgnine), o sujeito que dá nome ao título, é um açougueiro de 34 anos que logo no início do filme é cobrado pela sociedade por não ter se casado ainda, ao contrário de seus irmãos e irmãs. Não apenas pelos clientes do açougue, mas também por sua mãe, que o incentiva a sair à noite, quando ele já está cansado de ir para as festas, ser rejeitado pelas mulheres e voltar sozinho e frustrado para casa. Até que, numa festa, ele vê uma moça que se encontra também solitária e rejeitada por não se adequar aos padrões de beleza requeridos pelos homens. Eles usam o termo "dogs" para se referir às pessoas feias. Para as mulheres, traduzem como "barangas" nas legendas.

Mas Marty, ao estabelecer contato com essa mulher, começa a gostar dela. E durante aquela noite, os dois conversam bastante. E o modo como o filme lida com esses momentos ao mesmo tempo tão comuns, mas tão especiais, lembra bastante o cinema europeu, com seu andamento mais despreocupado com o tempo. O filme trata também de outras coisas que complementam o enredo: a forma como sua mãe trata a moça; o fato de os amigos a acharem uma baranga; a tia velha que é largada pelo primo de Marty e a esposa  em sua casa; tudo isso contribui, no final, para a emocionante resolução.