segunda-feira, julho 09, 2012

AMARGO TRIUNFO (Bitter Victory /Amère Victoire)



A experiência de filmar AMARGO TRIUNFO (1957) não foi das mais agradáveis para Nicholas Ray. Uma série de frustrações aconteceu. Desde a não aprovação do roteiro de Ray pelo produtor francês, que fez modificações, até a escalação do ator alemão Curt Jurgens no papel do Major Brand e não um ator americano como Ray queria – o diretor pensava em Montgomery Clift ou Paul Newman. No caso, Clift estava impossibilitado por causa do acidente automobilístico que sofrera. Pelo menos a decisão de colocar Richard Burton como o principal protagonista foi mantida. Ele interpreta o capitão com tendências suicidas James Leith. Outro incidente desagradável: o produtor francês chegou a escrever para a Columbia relatando os problemas com o álcool de Ray. Fora a dificuldade de filmar no deserto africano.

A história se passa durante a Segunda Guerra Mundial, na Líbia, um território invadido pelos alemães, mas com bases inglesas. Assim como acontece em HORIZONTE DE GLÓRIAS (1951), há em AMARGO TRIUNFO uma forte rivalidade entre dois homens. Aqui, o Major Brand e o Capitão Leith. Mas diferente de termos um autoritário e simpático John Wayne, é difícil para a audiência simpatizar com o antipático Curt Jurgens. Há um triângulo amoroso também. A esposa de Brand, também membro do exército britânico, teve um relacionamento antes da guerra com Leith. E ela ainda é apaixonada por ele. Brand não sabia e não gosta nada disso, o que só aumenta a tensão entre os dois homens.

O filme lida também com a questão da coragem e da covardia, que estão em ambos os homens, mas em caráter diferenciado. Durante a missão para roubar papéis de uma base alemã, Brand treme e não tem coragem de matar um sentinela alemão; Leith faz isso com tranquilidade. Toda essa sequência, dos soldados britânicos vestidos com roupas árabes esperando o momento de atacar, é uma das melhores do filme. Bem como o ataque definitivo à base. Ray já havia mostrado domínio em sequências de ação em QUEM FOI JESSE JAMES? (1957).

Porém, essa é apenas a primeira parte do filme, que se mostraria menos centrada no conflito entre britânicos e alemães do que no embate entre Brand e Leith. Brand, para mostrar superioridade e tentar matar Leith, deixa-o no deserto com os homens feridos, para seguir em frente com os demais soldados, que não o veem como um bom líder e nem respeitam sua autoridade. A partir desse momento, o filme é centrado basicamente na sobrevivência no deserto, nas decisões difíceis que é preciso tomar, no reencontro dos dois rivais, nos perigos do próprio deserto, que trata de finalizar aquilo que os oficiais não conseguem.

AMARGO TRIUNFO tem momentos brilhantes. Gosto muito da primeira sequência da invasão da base alemã, de vários momentos no deserto e do final amargo e frio. É mais um belo trabalho do cineasta, embora o considere um pouco abaixo de outros filmes seus.

P.S.: No Blog de Cinema do Diário do Nordeste tem texto sobre a liberação pela Justiça Federal de A SERBIAN FILM - TERROR SEM LIMITES. Veja AQUI.