domingo, maio 06, 2012

PARAÍSOS ARTIFICIAIS



Um dos grandes méritos de PARAÍSOS ARTIFICIAIS (2012) é poder contar com a presença sempre deslumbrante de Nathalia Dill, que aparece no filme em cenas de sexo até que bastante ousadas para esses tempos tão comportados do cinema brasileiro. O que também justifica a classificação de 16 anos que o filme recebeu é a temática das drogas, em que os personagens enfrentam o céu e o paraíso do contato com drogas como mescalina, ecstasy, GHB e cocaína. É a vontade de transgredir as regras que vem junto com a juventude, junto com a vontade de abraçar o mundo, de ter novas experiências, de aproveitar a vida, ainda que essa pressa de viver não seja algo consciente. Raramente os jovens têm consciência de que aquele período de ouro que eles estão vivendo é tão especial.

Estreia na direção de Marcos Prado (do documentário ESTAMIRA, 2004) em um longa-metragem de ficção, o filme conta com o apoio de José Padilha como produtor, ele mesmo que também veio do documentário e que atingiu o ápice com a ficção. A bela Nathalia Dill, inclusive, esteve no primeiro TROPA DE ELITE, no papel de uma estudante, mas passou um tanto desapercebida. E não deixa de ser interessante esse migrar de um tipo de cinema para outro e conquistar não apenas reconhecimento, mas uma habilidade que parece natural no trato com o filme.

Em PARAÍSOS ARTIFICIAIS, temos dois personagens principais cujas histórias se cruzam em diferentes momentos e em diferentes lugares. O filme, ao utilizar uma narrativa de idas e vindas no tempo, evita algumas surpresas que iriam fazê-lo parecer uma telenovela. Assim, já sabemos desde o início que Nando (Luca Bianchi) irá ser preso por tráfico de drogas. E sabemos também que Érika (Nathalia Dill), a DJ que ele "conhece" em Amsterdã, ele já havia conhecido antes, alguns anos atrás em uma rave numa praia paradisíaca do Nordeste do Brasil. É lá também que podemos testemunhar a viagem psicotrópica de Érika e sua amiga/amante Lara (Lívia Bueno).

São três tempos que se alternam, mas que não tornam o filme irregular. Há uma unidade entre esses tempos e mesmo entre o contraste entre o Nordeste brasileiro, Amsterdã e o Rio de Janeiro. Mérito também do montador Quito Ribeiro. Ao falar de amor, dor e arrependimentos, o filme leva o espectador a um estado de identificação e de cumplicidade com os personagens, sentindo com eles o prazer, mas principalmente a angústia, pois do lado de cá somos mais conscientes do que acontecerá. Ou do que poderá acontecer.