quinta-feira, fevereiro 02, 2012

PAIXÃO DE BRAVO (The Lusty Men)



Continuando a peregrinação pela obra de Nicholas Ray, chegamos a este western moderno, PAIXÃO DE BRAVO (1952), passado no Texas, em cidades que promovem rodeios. Hoje em dia o tema é polêmico, pois envolve maus tratos com os animais, mas na década de 1950 não havia essa preocupação. Até mesmo a representação dos índios, quase todos exterminados na época, só servia ao espetáculo, para aquecer as competições e lembrar àquelas pessoas, com uma ponta de saudosismo, como era selvagem o lugar onde eles habitam.

No filme, Robert Mitchum é Jeff McCloud, um experiente homem de rodeios que já ganhou muito dinheiro, mas que também já desperdiçou tudo. Hoje ele se "aposentou" e só quer um lugar para trabalhar como vaqueiro numa fazenda no lugar onde ele passou a sua infância. É lá que ele conhece Wes (Arthur Kennedy) e Louise (Susan Hayward). Wes é um entusiasta dos rodeios e conhece a fama de McCloud. Consegue uma vaga de vaqueiro para ele, mas o que Wes quer mesmo é que McCloud lhe ensine os truques do rodeio: como ficar muito tempo num touro ou num cavalo bravo, como laçar um potro em poucos segundos etc. Seria uma maneira rápida de conseguir o dinheiro para que ele e a esposa pudessem comprar a casa que tanto almejam. Acontece que ela não gosta muito da ideia do marido, de se envolver num negócio perigoso, que pode matá-lo ou deixá-lo aleijado. Mas como homem é bicho teimoso, ele consegue convencê-la. Até porque, já na primeira vez que Wes tentou, ele ganhou um bom dinheiro.

O filme desenvolve um interessante triângulo amoroso entre o casal e o solitário McCloud, que rapidamente fica apaixonado por Louise. Conforme combinado, ele trabalharia como treinador de Wes e ficaria com 50% dos lucros. A solidão de McCloud é notada ainda mais quando vemos grupos de casais que vivem na rotina de rodeios, de mulheres que sofrem vendo seus maridos correndo perigo diariamente naqueles espetáculos selvagens. O filme também destaca a ambição cega de Wes, que, ao ganhar mais dinheiro e fama, esquece seus objetivos iniciais e passa até a ignorar a esposa. Assim, McCloud é o grande herói rayniano do filme: marginal, solitário, decadente e querendo muito ter uma família para se estabelecer.

Novamente, assim como acontece em CINZAS QUE QUEIMAM (1952), Ray faz questão de não ceder ao melodrama. No caso de PAIXÃO DE BRAVO, senti que isso prejudica um pouco o final, que me pareceu demasiado brusco em sua conclusão. Diria que se não fosse por esse detalhe, consideraria o filme um dos mais intensos do diretor. E um ensaio para o verdadeiro western que ele dirigiria a seguir: JOHNNY GUITAR (1954).

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