quinta-feira, outubro 20, 2011

A VIDA ÍNTIMA DE UMA MULHER (A Woman's Secret)



Este segundo longa-metragem de Nicholas Ray, A VIDA ÍNTIMA DE UMA MULHER (1949), chega a ser bem decepcionante. Tanto se o vemos como uma obra autoral, quanto como um filme "de produtor". Segundo Geoff Andrew, autor do livro "The Films of Nicholas Ray", o filme é "sem dúvida, o trabalho mais anônimo de Ray". Conta também da falta de entusiasmo que o diretor tinha em relação ao projeto e isso é transparente ao se assistir o filme. O cineasta não modificou em nada o roteiro ruim de Herman J. Mankiewicz (um dos roteiristas de CIDADÃO KANE), como se quisesse se livrar logo do trabalho.

Antes de ler qualquer coisa a respeito do filme, fiquei bastante animado com o seu ponto de partida: uma mulher (Maureen O'Hara) confessa ter atirado na colega de quarto (Gloria Grahame). Seu amigo (Melvyn Douglas) acredita que ela está mentindo e tenta buscar descobrir a verdade. Para isso, através de flashbacks de sua narrativa para amigos, vamos conhecendo o passado dessas duas mulheres e a relação dele com elas. No início, os flashbacks até funcionam, mas logo a estrutura cansa, embora o filme seja curto – menos de 90 minutos. Sem falar na conclusão, que é bem ruim.

Como ainda não sou íntimo do trabalho de Nicholas Ray, tenho que recorrer a Geoff Andrew, que cita que o diretor não gostava de flashbacks e muito menos de tramas de mistério envolvendo whodunits. E se seu forte era a atração por tipos marginais, não era o caso de A VIDA ÍNTIMA DE UMA MULHER, que traz personagens ricos e bem sucedidos, embora o drama de Marian, a personagem de Maureen O'Hara, não seja exatamente de sucesso profissional, já que ela perdeu a voz que tinha como cantora e ficou sem poder exercer a atividade que tanto amava. Mas de todo modo ela não era uma loser, uma solitária ou pária, tipos característicos do cinema de Ray.

Curiosamente, foi durante as gravações deste filme que Ray iniciou um relacionamento que se transformaria em casamento com Gloria Grahame. O casamento duraria quatro anos, mas o que gerou escândalo foi quando em 1960 a atriz se casou com um dos filhos do diretor, o que para a imprensa foi quase como cometer um incesto.

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