quinta-feira, outubro 27, 2011

TRANSEUNTE



O filme de estreia na ficção de Erik Rocha, o filho de Glauber Rocha, carrega ainda alguns elementos do documentário, o gênero com que o cineasta trabalhou anteriormente, que a propósito foi sobre seu pai, ROCHA QUE VOA (2002). Uma vez separado do pai, embora ainda deva ser associado a ele por muito tempo – ou por toda a vida –, ele agora entra num território novo com TRANSEUNTE (2011), filme que deve muito à figura do protagonista, o seu Expedito, vivido com muita propriedade por Fernando Bezerra.

Como o próprio título dá a entender, trata-se de um filme sobre uma pessoa que vaga pelas ruas, sozinho. Expedito é um homem que acabou de se aposentar e cuja rotina é ouvir o futebol num radinho de pilha (ou às vezes ir ao estádio também sozinho) e se perder no meio da multidão para não ficar o tempo inteiro trancafiado em casa - entre outras coisas corriqueiras que o filme faz questão de mostrar sem muita pressa. O andamento de TRANSEUNTE é lento e, como pouca coisa acontece de extraordinário na trama, é preciso estar com o sono em dia para ver o filme. Ou então se identificar com o protagonista, como eu pude presenciar durante a sessão.

Um crítico de cinema veterano aqui da cidade estava ao meu lado e ficou especialmente encantado com o terceiro ato do filme, que mostra o momento em que o protagonista passa a frequentar um grupo de seresta. Nesse grupo, reúnem-se pessoas que valorizam as canções mais antigas e que se constituem numa espécie de grupo de resistência. Então, este crítico ficava cantarolando baixinho algumas das canções da seresta, como que se deliciando com aqueles momentos. Alguns deles, realmente muito bonitos, realçados pela fotografia em preto e branco. Porém, como não me identifiquei com o personagem, nem me senti tão instigado pela narrativa e pela própria linguagem do filme, assumi uma postura de maior distanciamento, o que pra mim não é muito bom.

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