segunda-feira, outubro 31, 2011

CONTÁGIO (Contagion)



Será que essas declarações de Steven Soderbergh de que ele vai se aposentar é tudo balela? Afinal, no IMDB consta ainda HAYWIRE, a ser lançado este ano, e mais outros três trabalhos para os próximos anos (MAGIC MIKE, THE MAN FROM U.N.C.L.E. e LIBERACE). Alternando entre grandes produções e filmes pequenos e independentes, Soderbergh sempre fez o que quis em Hollywood. Parece que foi ontem que vi pela primeira vez o seu longa de estreia, SEXO, MENTIRAS E VIDEOTAPE (1989). De lá pra cá, sua carreira foi oscilando e trilhando caminhos cada vez mais distintos.

CONTÁGIO (2011) está entre as superproduções do diretor. Custou 60 milhões de dólares, mas provavelmente o custo se deve ao elenco estelar. Reunir num mesmo filme Matt Damon, Laurence Fishburne, Marion Cotillard, Kate Winslet, Jude Law, Gwyneth Paltrow e Elliot Gould não é pra qualquer um. A trama por si só já é bastante atraente para nós, tão obcecados que somos por tragédias apocalípticas, seja através da natureza, seja por invasão alienígena, por zumbis ou por doenças. Esse último caso, inclusive, é o que mais se aproxima da realidade. O vírus Ebola e as gripes suína e aviária foram exemplos do quanto a população ficou apavorada com uma possível epidemia de grandes proporções. Por isso CONTÁGIO deve conseguir uma boa plateia pagante.

O filme começa com a personagem de Gwyneth Paltrow voltando para casa, já doente. Aparentemente é a partir dela que o mal se espalha por todo o globo. O marido, vivido por Matt Damon, não estava preparado para perder ao mesmo tempo a esposa e o enteado. Enquanto isso, cientistas como a personagem de Kate Winslet, investem seu tempo e se sacrificam para encontrar uma solução para o problema. Há também a figura do blogueiro (Jude Law) que tem milhões de seguidores e que prega que o sistema está escondendo e lucrando com a doença. Pouco comentada, até por ser uma atriz pouco conhecida, a personagem de Jennifer Ehle é uma das mais interessantes para a trama do filme.

Um dos aspectos mais ofensivos de CONTÁGIO é julgar tão mal a internet, pintando-a mais maléfica do que a televisão e a imprensa oficiais, quando sabemos que a coisa não é bem assim. Isso acaba depondo contra o filme. Afinal, apesar de tudo, as redes sociais têm um papel fundamental hoje para dar voz aos excluídos, aos silenciados pelos órgãos oficiais. Outro problema é que, a julgar pelo trailer, era de se esperar um filme mais emocional. O que vemos é um trabalho que se detém mais sobre os aspectos científicos da doença, o que não é nenhum pecado, apenas não gera catarse e trata a situação com distanciamento.

É uma opção estética de Soderbergh para o seu filme, que, diferente de TRAFFIC (2001) e de BUBBLE (2006), dois trabalhos que lidam com múltiplos personagens, mas que conseguem compartilhar seus problemas com o espectador com mais intensidade, prefere a precisão da montagem, muito bem construída em sua colcha de retalhos. Por essas e outras razões que se pode dizer que CONTÁGIO é um dos melhores trabalhos sobre epidemia já realizados.

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