terça-feira, julho 05, 2011

UM NOVO DESPERTAR (The Beaver)



Há algo de patético em UM NOVO DESPERTAR (2011). Mas patético no sentido amplo do termo. Ter Mel Gibson como protagonista desse conto sobre um sujeito que encontra a solução para seu problema num fantoche de um castor é uma boa sacada da diretora e amiga Jodie Foster. Ela dirige e interpreta a esposa de Gibson, um sujeito que já tentou de tudo para se livrar do fantasma da depressão, mas sem resultado. Pouco depois de uma tentativa frustrada de suicídio, ele encontra esse fantoche que toma as rédeas de sua vida e passa a administrá-la. A ponto de ele conseguir a simpatia de sua esposa de volta, a alegria de poder estar em contato com o filho mais novo e o sucesso na vida profissional. Só ainda não consegue é a amizade e o respeito do filho mais velho (Anton Yelchin), que aprendeu a odiar o pai e a vê-lo como exemplo a não ser seguido.

Quanto a Gibson, ele é um exemplo de ator-autor. Por isso atribuo a autoria do filme não apenas a Foster, mas também a ele, que ultimamente tem se entregado a papéis dolorosos, como o de O FIM DA ESCURIDÃO. Os problemas que ele passou por falar o que não devia na imprensa na vida real e que têm causado rejeições a sua pessoa em Hollywood, bem como o seu estado envelhecido, em comparação com a figura do galã dos filmes de ação da década de 1980, tudo isso contribui para a construção convincente do personagem.

Não deixa de ser corajoso da parte de Foster dirigir um filme que tem ingredientes de uma comédia, mas cujo tom, o tempo todo, é carregado de uma grande melancolia. Mesmo não sendo um filme perfeito, é uma bela obra sobre superação, mas não apenas isso, já que o tal castor também vai se tornando uma espécie de muleta. Ou algo mais perigoso do que isso. A subtrama de Yelchin e seu relacionamento com a personagem de Jennifer Lawrence – cada vez mais bela, ainda mais em trajes de torcedora, uma delícia – fica em segundo plano, mas ganha um link interessante, pois ambos carregam problemas ligados à família.

E foi justamente o relacionamento de Yelchin com o pai o que mais me comoveu ao final do filme, a ponto de eu chegar às lágrimas. Muito provavelmente porque eu tenho um sentimento de débito para com meu pai e me projetei naquele abraço doloroso e amargo. Um abraço emocionado já é algo que me comove quando mostrado com sinceridade e delicadeza nos filmes. E quando há alguma identificação, então, aí já é covardia. O fato de ter um ator como Mel Gibson, com quem eu sempre tive muita simpatia, no papel dessa pessoa que precisa de ajuda e que só encontra rejeição por parte do filho, me fez ver o filme sob outra perspectiva: sob a perspectiva do meu pai. E confesso que não foi fácil pra mim.

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