sábado, abril 30, 2011

THOR



Kenneth Branagh foi o sujeito que fez duas adaptações de tragédias shakesperianas que disputam pau a pau com as dirigidas e protagonizadas por Laurence Olivier: sua estreia com HENRIQUE V (1989) e a versão com elenco estelar e com cerca de quatro horas de duração de HAMLET (1996). Por uma razão ou outra, Branagh foi saindo de cena aos poucos, coincidentemente depois de sua separação com Emma Thompson. Por isso, a notícia de que ele havia sido o diretor escolhido para dirigir THOR (2011) pegou muita gente de surpresa. Não que ele não tenha nada a ver com o herói mitológico, mas por ele estar um pouco fora da grande mídia mesmo.

De qualquer maneira, o importante é que THOR é bem sucedido dentro do ambicioso projeto da Marvel de construir uma linha de filmes baseados nos quadrinhos e que sejam interligados, assim como é o universo Marvel. Assim, os dois filmes com o Homem de Ferro e com o Hulk já traziam elementos para juntar o quebra-cabeças necessário para o tão aguardado filme dos Vingadores. Tanto é que já se cria expectativa de saber o que aparece no final dos créditos. Quase como um presente para aqueles que ficam até o finalzinho, mesmo quando a direção do cinema insiste em manter as luzes ligadas. Não vou dizer o que aparece nesse easter egg, mas já adianto que lá pelo meio do filme, vemos uma breve participação de Clint Barton, o futuro Gavião Arqueiro, vivido por Jeremy Renner.

O filme do Poderoso Thor, se não é tão empolgante assim, fica na mesma linha dos demais produzidos pelos estúdios Marvel, o que já é lucro. A primeira parte, passada em Asgard, a cidade dourada dos deuses e onde Odin é o senhor supremo, lembra bastante os épicos fantasiosos realizados nos anos 70 e 80, dando aquele ar kitsch agradável. Ao mesmo tempo, os efeitos especiais são tão bons e, o mais importante, usados a serviço da história, a fim de transformar o filme quase numa autêntica HQ em movimento.

Depois que Thor (Chris Hemsworth) é banido por Odin (Anthony Hopkins) para a Terra, o filme muda um pouco a sua essência inicial, mas isso não quer dizer que tenha ficado ruim. Passa a ser mais divertido e mais fácil de agradar as plateias que desconhecem o "Deus do Trovão". Afinal, há um romance no ar, entre o Thor caído e despido de poderes e a personagem de Natalie Portman, a pesquisadora Jane Foster. Foram tomadas algumas licenças poéticas, como o fato de tirarem de cena o alter-ego de Thor, o Dr. Blake. Do jeito que ficou, o Thor do cinema está mais próximo da versão Ultimate, um pouco mais "realista". Mas as escolhas foram boas e o filme diverte até o final.

Poderia ser melhor? Claro que poderia, mas quem sabe a Marvel um dia ainda nos presenteie com uma obra que vá figurar não apenas entre as melhores adaptações de quadrinhos de todos os tempos, mas entre os melhores filmes da década ou algo parecido. Sonhar é de graça e o filme dos Vingadores vem aí. E CAPITÃO AMÉRICA: O PRIMEIRO VINGADOR está agendado para 29 de julho próximo.

sexta-feira, abril 29, 2011

O BURACO (The Hole)



Da turma de cineastas que fizeram fama com o cinema fantástico na década de 80, Joe Dante sempre foi aquele que mais procurava se aproximar do gosto juvenil. Seus filmes até poderiam ter um caráter político-social nas entrelinhas, mas na forma era basicamente cinema de horror para toda a família, incluindo aí as crianças. Não é à toa que seu filme mais famoso até hoje continua sendo GREMLINS (1984). Se bem que ele começou com um entretenimento um pouco mais adulto, com filmes como PIRANHA (1978) e GRITO DE HORROR (1981).

O BURACO (2009), realizado com a nova tecnologia 3D, não estreou nos cinemas brasileiros, indo parar direto em vídeo. Ruim para os distribuidores, que deixaram de exibir um autêntico 3D em detrimento de picaretagens feitas para ganhar dinheiro dos desavisados. Mas ver o filme em casa foi um prazer pra mim. Ainda mais porque consegui uma cópia em mkv ripada de blu-ray. Quer dizer, numa televisão digital a imagem fica melhor do que a de um dvd normal de dupla camada. E ainda tem um som fantástico em 5.1. De dar gosto.

Porém, se o filme não fosse realmente bom, o espetáculo não seria completo. O BURACO é um horror juvenil que mostra uma família constituída por uma mãe e dois filhos, de mudança para outra casa. O filme demora um pouco a dizer as razões das constantes mudanças, mas o que interessa é que, nessa nova casa, há um buraco no porão trancado com cadeados, que uma vez aberto pelos dois meninos – um rapaz e um garotinho – transforma a vida deles e da bela vizinha num inferno de sustos e medo. O filme mais diverte do que assusta, mas Dante sabe muito bem manipular a audiência, mesmo usando clichês de filmes de terror que ele mesmo usou no passado, como na cena da piscina, por exemplo.

E não que isso deponha contra, mas o filme parece um bom episódio estendido de ALÉM DA IMAGINAÇÃO, série que Dante participou com um episódio em 1985. O diretor também participou de outras séries tipo antologia como HISTÓRIAS MARAVILHOSAS (1986), REBEL HIGHWAY (1994), NIGHT VISIONS (2001) e, mais recentemente, MASTERS OF HORROR (2005-2006).

quinta-feira, abril 28, 2011

O MORRO DOS VENTOS UIVANTES (Wuthering Heights)



Nem tinha a intenção de rever este filme tão cedo. Mas era uma daquelas obras que eu guardava com carinho, vistas no início de minha cinefilia e digno representante do ultrarromantismo. Clássico em quase todos os sentidos, exceto no de ser romântico, desvairado; diferente do clássico, racional. Mas é clássico no sentido de ser um dos filmes mais lembrados do ano de 1939, considerado por muitos como o ano de ouro de Hollywood. Talvez até haja um pouco de exagero nessa afirmação, mas não deixa de ter já se tornado usual.

A revisão de O MORRO DOS VENTOS UIVANTES (1939) se deveu à leitura do romance de Emily Brontë para uma disciplina que estou ministrando de literatura inglesa. Tinha dois meses para terminar de lê-lo, mas – shame on me – não estou nem na metade. E fiquei logo curioso para ver como William Wyler fez para traduzir a obra para o cinema. O que ele teve que cortar para deixar o filme redondinho para os padrões hollywoodianos da época. E realmente ele fez um belo trabalho, cortando sem piedade personagens pouco importantes para que o filme fluísse bem. As quase duas horas de filme passam como se fossem apenas trinta minutos. (Diferente do livro, que está demorando dias e depende muito da boa vontade do leitor para a finalização.)

Em O MORRO DOS VENTOS UIVANTES, o herói (ou antiherói), Heathcliff, é vivido pelo shakesperiano Laurence Olivier, que dá a dramaticidade necessária para tornar o personagem ao mesmo tempo puro de amor e envenenado por sentimentos de vingança e ressentimento. O personagem surge como um garotinho de aspecto cigano que foi adotado por uma família e que é o xodó do patriarca. Isso, até o velho bater as botas e ele ser transformado em criado, humilhado pelo irmão de criação, enquanto morre de amores por Catherine (Merle Oberon), que desde criança brincava com ele nos campos e com o tempo essa amizade foi se transformando em paixão.

Acontece que Catherine é uma garota que também sente atração pelo luxo, pela riqueza, e sente-se tentada a aceitar o pedido de casamento de um rapaz rico, Edgar (David Niven), não apenas maltratando o coração de Heathcliff, mas humilhando-o. É quando ele sai do vilarejo e volta rico, disposto a se vingar daqueles que o maltrataram. A sua presença repercute como um veneno para os habitantes daquele lugar.

O estilo discreto na direção do canceriano William Wyler contribui para que esqueçamos que estamos vendo um filme. Ainda que seja pouco valorizado dentre os adeptos da "política do autor", Wyler possui uma filmografia rica em títulos interessantes e memoráveis. O MORRO DOS VENTOS UIVANTES, sem dúvida, é uma de suas obras mais notáveis.

quarta-feira, abril 27, 2011

TURNÊ (Tournée)



Eis um filme que vai conquistando aos poucos o espectador, com seu jeito todo próprio, mas que muitos consideram herdeiro do estilo de John Cassavetes, cineasta de quem eu sou ainda muito devedor. TURNÊ (2010), de Mathieu Amalric, transparece um clima de improvisação do início ao fim, muito embora esse aspecto possa ter sido muito bem pensado e tratado até com certo rigor pelo diretor/ator.

Amalric, mais conhecido por sua notável interpretação em O ESCAFANDRO E A BORBOLETA, interpreta um ex-produtor de televisão de Paris que mudou de vida e anda com um grupo de strippers americanas itinerantes, fazendo aqueles espetáculos burlescos. O detalhe é que as garotas não são exatamente modelos, algumas delas estão bem acima do peso e a vida na estrada não é fácil. Ele, como diretor do espetáculo, costuma se mostrar sempre amável e isso passa um sentimento de afabilidade aos personagens, todos meio losers.

O fato de as mulheres andarem praticamente nuas com frequência não quer dizer que o filme seja erótico. A nudez delas é vista quase como uma nudez espiritual, como se elas estivessem também despidas de dignidade ou algo do tipo. Talvez essa impressão que eu tive se deva ao fato de que elas despertam mais tristeza do que excitação. E, provavelmente, essa seja a intenção de Amalric.

Ao voltar para sua terra, a França, para rever os filhos e a mulher, e procurar casas de espetáculo para que as meninas possam se apresentar, vamos conhecendo um pouco mais do personagem, seu passado, como ele é visto por aqueles a quem deixou, suas falhas, dando a ele uma proximidade com o espectador tal que quando o filme se aproxima do fim é justamente quando mais estamos gostando. E é melhor que seja assim.

TURNÊ ganhou o prêmio de direção em Cannes no ano passado.

terça-feira, abril 26, 2011

RIO



Ultimamente tenho evitado ver esses desenhos animados lançados nos cinemas. A não ser pelo último Miyazaki, nem mesmo os tão aclamados últimos exemplares da toda-poderosa Pixar me apeteceram. Aí fico achando que estou virando um velho chato que não vê mais graça em desenho animado, que não consegue gargalhar como o sujeito da cadeira do meu lado gargalhava. Mas parece que era só ele. Não sei se era impressão minha, mas dessa vez eu não senti no ar aquela sensação de alegria diante do que estava na tela. Talvez por culpa daqueles óculos 3D que atrapalham na hora de ver a reação da plateia.

Infelizmente RIO (2011), dirigido pelo brasileiro Carlos Saldanha, da trilogia A ERA DO GELO (2002, 2006, 2009), é mais um a engrossar a lista de filmes que devem agradar aos outros e não a mim. Se bem que no caso de RIO, a recepção até que está sendo um pouco mais morna por parte da crítica. Talvez agrade mais às crianças. Mas, como preferi ver o filme numa sessão legendada, só havia adultos. Inclusive, havia uma senhora que deveria ter uns noventa anos de idade. Pelo menos, o uso dos recursos 3D no filme não é exagerado, é bem discreto. Aliás, que bela jogada essa desses executivos, hein. Fazer a gente pagar mais por um filme que poderia ser visto quase sem nenhuma diferença em 2D!

As ararinhas são simpáticas e devem despertar um pouco da ternura perdida nos dias de hoje. Mas se por um lado os bichinhos são bacanas, a construção do vilão, o pássaro branco que trabalha para os bandidos do morro, é muito ruim. A Disney já fez melhores, mas vai ver o problema é que aqui não é a Disney. Os desenhos animados de antigamente (PINÓQUIO, BAMBI, PETER PAN, A BELA ADORMECIDA) tinham uma aura de mistério e terror que parece que atualmente não se tem mais coragem de fazer. Aí, tudo fica insosso. E o carnaval do Rio, bem, até que foi bem retratado, ainda que tenha faltado uma panorâmica de cima para mostrar o tamanho de uma escola de samba. E Jesse Eisenberg ficou ótimo como dublador do Blu.

domingo, abril 24, 2011

ÁGUA FRIA (L’Eau Froide)



Dos cineastas franceses que se tornaram famosos a partir da década de 1990, os que eu mais tenho acompanhado a carreira são François Ozon e Olivier Assayas. Curiosamente, apesar de achar o segundo superior, acabei vendo mais filmes de Ozon, talvez por força das circunstâncias, já que seus filmes chegam mais facilmente ao circuito brasileiro. Quanto a Assayas, meu primeiro contato com seu cinema foi através de meu amigo Renato Doho, que gravou numa fitinha vhs o ótimo IRMA VEP (1996). O que deu para notar logo de cara nessa obra empolgante – e que se confirmaria em obras seguintes – é o interesse de Assayas por elementos que vão além das fronteiras da França.

O rock and roll, por exemplo, está presente em praticamente todas as obras que vi do diretor e, como bom apreciador desse estilo musical que sou, seus filmes acabam me conquistando logo de cara. ÁGUA FRIA (1994) não é exceção, já que é recheado de pérolas do rock, interpretadas por artistas como Nico, Leonard Cohen, Creedence Clearwater Revival, Janis Joplin e Bob Dylan. E essas canções tocam em momentos particularmente oportunos na trama, dando ao filme um ar lírico que eleva os nossos sentimentos, ao mesmo tempo que intoxica o nosso sangue.

A trama é simples, levando em consideração que o próprio Assayas já fez filmes bem mais complexos, como ESPIONAGEM NA REDE (2002) e TRAIÇÃO EM HONG KONG (2007). Em ÁGUA FRIA, temos um casal de jovens um tanto rebeldes que, devido aos maus tratos dos adultos, resolvem fugir de tudo, assim romanticamente, sem ter dinheiro ou rumo certo. O filme mostra a força destrutiva da energia juvenil, especialmente na sequência de uma festa que acontece numa casa abandonada. Lá, meninos e meninas tomam todas e destroem e queimam tudo no lugar. Ao ver tantos hormônios e energia em ebulição e com o rock no talo, deu até saudade de meus vinte anos, por mais que não tenham sido tão divertidos quanto eu gostaria que fossem.

ÁGUA FRIA foi um dos filmes vistos no "cineclube" do Michel Simões.

sábado, abril 23, 2011

SOBRENATURAL (Insidious)



Surge a primeira boa surpresa de 2011 no circuito brasileiro. E ela partiu do homem por trás do primeiro JOGOS MORTAIS (2004), James Wan. O diretor trabalha com maestria os clichês de filmes de casas assombradas e cria uma obra realmente assustadora, coisa que não se vê no cinema contemporâneo há muito tempo. Quem vê só o trailer ou a sinopse de SOBRENATURAL (2010) não tem ideia do quanto o filme evolui.

Na trama, um dos garotos, filho do casal vivido por Patrick Wilson e Rose Byrne, não acorda de um sono. Os médicos não vêem aquilo como um estado de coma, de acordo com os testes, e três meses depois o corpo inerte do garoto permanece deitado na cama da residência do casal. Os médicos haviam desistido do caso. Em meio a esse cenário extremamente triste para uma família, não tinha como ficar pior, certo? Errado. Sempre pode ficar pior. E a família passa a ser assombrada por situações crescentemente perturbadoras.

Em certo momento, o filme tem um quê de POLTERGEIST, de Tobe Hooper e Steven Spielberg, mas toma o seu próprio e original rumo. Wan toma controle da situação e do timing dos momentos de susto, que pegam a audiência de surpresa inúmeras vezes. SOBRENATURAL é certeza de arrepios e perturbação durante a sua duração. Barbara Hershey, em sua participação pequena, mas importante, é a nossa Bette Davis, a atriz que foi famosa por sua beleza e sensualidade no passado e que tem se firmado como uma dama dos filmes de terror na fase madura, vide o seu papel em CISNE NEGRO. Quanto aos elementos fantasmagóricos/demoníacos do filme, impressionante como James Wan tangencia o sutil e o exagerado com habilidade.

sexta-feira, abril 22, 2011

EU SOU O NÚMERO QUATRO (I Am Number Four)



E pelo visto, 2011 é o ano dos super-heróis no cinema. Enquanto os mais esperados THOR, CAPITÃO AMÉRICA, X-MEN: PRIMEIRA CLASSE e LANTERNA VERDE não chegam, o ano começou com o aparentemente morno BESOURO VERDE e com esta adaptação de um livro que obviamente foi pensado para os cinemas, EU SOU O NÚMERO QUATRO (2011), sob os cuidados do competente diretor D.J. Caruso. Que infelizmente não pôde fazer muita coisa de uma história meia-boca. Porém, levando em consideração a história fraca, até que ele não se saiu tão mal, já que o filme é bem movimentado. Lembremos que ele tem se especializado em thrillers competentes – ROUBANDO VIDAS (2004), PARANÓIA (2007) e CONTROLE ABSOLUTO (2008) – e ele ainda vai estar no comando de uma série bastante querida dos apreciadores de quadrinhos de qualidade ("Y – O Último Homem"). Muita responsabilidade.

Enquanto isso, vamos nos contentando com essa historia de um pequeno grupo de alienígenas com poderes especiais que são caçados por outros alienígenas do mal que destruíram o seu planeta. Alex Pettyfer, o jovem ator que deve ser o novo queridinho das meninas, sonha em ter uma vida normal, ser um adolescente normal, mas o homem que é quase um pai para ele (Timothy Olyphant) tem sempre que lembrá-lo de suas responsabilidades e do perigo de eles serem descobertos. Eles estão sabendo que os números um, dois e três foram assassinados e que ele é o próximo da fila dos assassinos de dentes caninos.

Talvez a melhor coisa do filme seja a jovem Sarah (Dianna Agron, de GLEE), viciada em fotografia e que se apaixona pelo novato misterioso. A relação dos dois é um forte atrativo para o público feminino. Os produtores de Hollywood estão cada vez mais espertos (ou desesperados) para ampliar cada vez mais o número de espectadores de seus filmes. E a julgar pelo final, tudo indica que EU SOU O NÚMERO QUATRO é só o começo de uma longa e nova franquia.

quinta-feira, abril 21, 2011

EM UM MUNDO MELHOR (Hævnen)



Susanne Bier é uma cineasta que me chamou muito a atenção quando vi o excelente DEPOIS DO CASAMENTO (2006). Desde então tenho ficado atento a seus filmes, embora não o suficiente para me dar motivação para procurar ver seus trabalhos anteriores. Afinal, são tantos os filmes para ver e tão pouco o tempo disponível. O que se pode fazer é aproveitar as oportunidades. E aproveitei, quando estive em São Paulo, e vi que EM UM MUNDO MELHOR (2010), ganhador tanto do Oscar quanto do Globo de Ouro de melhor filme em língua estrangeira deste ano, estava em cartaz. Por isso, minha expectativa em relação ao filme era grande.

No entanto, não sei se porque tinha dormido pouco no avião e tinha acabado de almoçar, mas o filme me deu um sono daqueles. Dos que eu estou acostumado a ter com frequência e que eu atribuo à laringite alérgica. Assim, me desculpem se eu estou fazendo julgamento errado, mas como soube que não sou o único a não ver tantas qualidades no trabalho de Bier, até me sinto um pouco mais conformado com o fato de não ter entrado no espírito e de ver de maneira até racional falhas da diretora em não construir uma atmosfera de suspense quando deveria – caso da sequência da bomba no carro.

O filme engana um pouco o espectador ao começar na África, com o pai de um dos garotos protagonistas trabalhando como médico numa comunidade muito pobre. EM UM MUNDO MELHOR foca a atenção na amizade desses dois garotos dinamarqueses que se sentem deslocados em relação à sociedade – no caso deles, a escola e a família – e procuram meios de se rebelar. Meios um tanto exagerados, digamos assim. Em certo momento, dá pra se pensar que o filme trata da construção de pequenos sociopatas, mas depois vemos que a coisa não é tão simples assim. De todo modo, com sono ou sem sono, e tendo em vista o fato de já ter visto a refilmagem americana de BROTHERS (2004), meu interesse pela filmografia de Susanne Bier esfriou. Mas pelo menos posso elogiar a bela projeção digital do Reserva Cultural. Mal dá pra diferenciar de uma projeção em película.

quarta-feira, abril 20, 2011

PÂNICO 4 (Scream 4)



Onze anos bastam para percebermos a ação do tempo, tanto nos atores quanto nos hábitos. PÂNICO 4 (2011) é tanto uma revitalização da franquia para as novas gerações, quanto um convite àqueles que acompanharam nos anos 1990 as desventuras de Sidney (Neve Campbell), sempre atacada por uma criatura vestida de preto e com um rosto de fantasma, pronta para esfaquear a próxima vítima. Wes Craven já havia se mostrado um mestre da metalinguagem ao brincar com seu personagem mais famoso em O NOVO PESADELO: O RETORNO DE FREDDY KRUEGER (1994) e dessa vez ele novamente se utiliza de sua arma mais forte, a esperteza, para tornar um trabalho que poderia ser repetitivo e enfadonho em algo inteligente.

Se o primeiro PÂNICO (1996) já era carregado de ironia com relação aos clichês dos filmes de horror - o que acabou gerando outros filhotes bastardos na mesma época e mesmo comédias-pastelão como TODO MUNDO EM PÂNICO -, o que dizer deste novo exemplar, que já começa com uma brincadeira em torno das tradicionais ligações do assassino de voz assustadora para suas vítimas? O prólogo fala por si só, mas seria um mero aperitivo se o filme não fosse suficientemente inteligente para atualizar a franquia.

Porém, na verdade, pouca coisa muda e em alguns momentos a sensação de déjà vu até incomoda, já que não há sustos de verdade. O que salva é a agilidade de Craven na condução da trama, bem como o retorno de Kevin Williamson ao comando do roteiro. Conta pontos também rever o trio principal – Neve Campbell, David Arquette e Courtney Cox –, mesmo que para ver a ação do tempo, nem sempre generoso. Esses três andaram um pouco sumidos das telas e quando voltaram não parecem ter tanta força assim. Por isso a necessidade de um elenco de apoio composto por adolescentes, tanto para servir de alvo para o maníaco misterioso, quanto para dar um gás ao filme. Daí as presenças de Emma Roberts e Hayden Panettiere e as participações especiais de Kristen Bell e Anna Paquin.

Quanto à violência, ela parece leve para uma geração já acostumada a filmes como JOGOS MORTAIS (que é a principal citação dentre os filmes de horror do novo milênio). As próprias meninas do filme são tão insensíveis à violência quanto os garotos, como pode-se ver na cena em que duas delas estão deitadas na cama gargalhando ao ver as cenas gory de TODO MUNDO QUASE MORTO. E isso é mais um sintoma dos novos tempos.

terça-feira, abril 19, 2011

SAMPA 2011



Foi inusitado. Até eu estava me questionando porque eu estava fazendo aquilo: viajar para São Paulo dois finais de semana seguidos. A desculpa para a segunda viagem foi a promoção da TAM. E é uma desculpa bem boa, levando em consideração o preço das passagens. Alia-se a isso um dos eventos culturais mais legais da cidade e a boa hospitalidade do meu amigo Michel Simões. Mas talvez no fundo eu ainda estivesse me sentindo meio sozinho e ainda não totalmente preparado para essa nova fase da minha vida. Queria que este mês de abril tivesse mesmo cara de férias. Como realmente está tendo. Fiz o que pude para não fazer um relato gigantesco e muito detalhista do que foram esses dias, mas acabou ficando um pouquinho longo mesmo. Dividi o relato em lado A e lado B. Sendo que o lado A tem como destaque o show do U2 e o lado B, a Virada Cultural.

Lado A

Sobre o show do U2 especificamente, acho que já falei o bastante. E acho até que ninguém deu muita bola. Mas tudo bem. Acabo escrevendo esses relatos mais pra mim mesmo. É uma forma de deixar registrados os meus sentimentos e pensamentos de momentos que considero especiais. As fotos também ajudam, ainda mais porque quase sempre estamos felizes quando aparecemos nelas.

Nesta primeira viagem fui com meu amigo Zezão. Havíamos comprado ingressos para arquibancada e de costas para o palco. Não era o melhor lugar, mas o show não ficou menor por causa disso. Assim que chegamos no aeroporto, fomos mui gentilmente recebidos pela amiga do Zezão, Aline, muito simpática, e seu marido. Antes de tomarmos um belo de um café da manhã, tiramos fotos na Praça da Independência e sentimos um ar atípico de São Paulo num parque arborizado e cheio de skatistas e de pessoas levando seus cachorros para passear. Beautiful day, que continuou ainda com almoço com Tiago e Alê regado a muito papo legal, cineminha à tarde (EM UM MUNDO MELHOR) e passeio pela Paulista e Augusta à noite, quando encontramos nosso amigo Murilo e esperimentamos a culinária indiana. Como diria o Radji: "very guti". Aliás, um dos melhores passatempos que eu e o Zezão fazíamos era imitar o inglês indiano do personagem de THE BIG BANG THEORY.

Além do show do U2, o domingo ainda contou com o aniversário do Diego Maia. As mesas que ele reservou davam volta. Metade delas era composta por cinéfilos. Chico Fireman, Mitchel, Alê Marucci, Tiago Superoito, Gustavo, além de Michel e Zezão compunha a lista das pessoas que eu conhecia e que estavam presentes. De lá, fomos direto para o U2, apesar de o tempo estar se fechando e prenunciando uma chuva daquelas.

A segunda-feira, que o Bono havia dito que seria feriado em São Paulo, até que pareceu bem normal, com todos estranhamente trabalhando. :) Eu, como não gosto de perder as oportunidades, quis ver mais um filminho (MEU MUNDO EM PERIGO, já comentado), afinal, muitos filmes do circuito alternativo nem chegam em Fortaleza. Logo, dou prioridade a eles quando estou lá. O Zezão quis dar uma passada no Centro e foi ótimo. Visitamos a Galeria do Rock, pegamos mais uma chuva e quando chegamos o Michel ainda foi nos deixar no aeroporto. O lado A terminou muito bem.

Lado B

A minha intenção em passar mais dias em São Paulo era meio como fazer um repeteco do que foram os inesquecíveis dias de abril de 2010 lá. Dessa vez, se não foram tão bons, isso se deve a uma série de fatores, como o fato de eu não encontrar as pessoas que eu gostaria de ter encontrado. Marcelo V. e Ana Paul estavam viajando, Gustavo Cavinato estava recebendo os pais, Vébis continua me devendo cópias de seus filmes e não deu pra organizar um big encontro como da última vez – e nem de ver o Carlão Reichenbach. A Virada Cultural, se era um meio de encontrar amigos, também era de desencontros, pois muitos queriam ver coisas diferentes. Ainda assim, eu e o Michel conseguimos ver shows com o Murilo (no sábado) e com o Aguilar (no domingo).

Na sexta pré-virada, a programação foi sessão dupla solitária (DEUSES E HOMENS e TURNÊ) e depois encontro com uma dupla de amigos do Michel – Estela e Fabiano. O nome da Estela sempre me faz lembrar um episódio engraçadíssimo do SEINFELD e o Fabiano é parecido com o Fernando Meirelles, com quem curiosamente trabalhou na O2.

O sábado da Virada foi uma maratona. Vimos o show da Tiê, que teve uma série de problemas técnicos, mas que apesar de tudo foi muito bonito de se ver. Ela é um encanto e ficou aquele gostinho de quero mais quando acabou o mini-show. Depois que vi a entrevista dela no Programa do Jô, sinto que fiquei mais íntimo dela, ao saber de sua timidez. Rolou uma identificação. Depois da Tiê, foi a vez de conferirmos os shows da banda cover Beatles 4Ever. Os caras da banda simplesmente prometeram tocar todos os álbuns dos Beatles durante as 24 horas da Virada! E conseguiram chegar ao final da maratona, como pudemos constatar no final da tarde de domingo. No sábado vimos as apresentações do WITH THE BEATLES ao RUBBER SOUL. Os caras esbanjavam simpatia e competência. Dava vontade de ficar até o fim, ver tudo, mas o corpo tem a sua sabedoria própria e nos mandou ir embora. Momento mais emocionante de todos pra mim: a execução de "In my life". Arrepiei.

O domingo foi curto: acordar ao meio dia, almoçar com o Aguilar, bater aquele papo sempre muito agradável com esse amigo com quem eu tanto me identifico, e voltar lá para o palco dos Beatles para ver o finalzinho da festa. Até o próprio Aguilar que disse preferir Rolling Stones, pulou no bis no final, ao som de "Twist and Shout", que deve ter feito tremer o Centro de São Paulo. Conseguimos ver os shows dos dois PAST MASTERS e ainda deu pra ver o finalzinho do show do Erasmo Carlos lá no Arouche, com um público bem diferente dos outros palcos. Ao irmos embora estava começando num outro palco Paulinho da Viola, para muitos a grande atração da Virada. Mas, além de não me atrair muito, de eu não conhecer o repertório, estava bastante cansado. A proposta de uma pizza com um filme na casa do Michel foi recebida com satisfação.

A segunda-feira seguiu sem muitas novidades. Acho que já estava com saudades de casa e aquela história de me sentir bem como um anônimo perambulando pelas estações de metrô não me fazia tão bem ao coração nesse dia em particular. Mas tive sorte com a sessão dupla (POESIA e INCÊNDIOS) e depois com outra boa sessão privada lá na casa do Michel - finalmente consegui chegar lá de ônibus, sem me perder. O saldo foi mais do que positivo. Foi ou não foi?

Segue LINK para algumas das fotos que eu tirei durante esses dias.

segunda-feira, abril 18, 2011

A ÁRVORE (The Tree)



Acho que andei me acostumando mal a dormir tarde, depois das três da manhã. Ontem fui dormir à meia-noite e acordei várias vezes durante a noite. E aqui estou para aproveitar este momento de estar mais acordado para atualizar mais uma vez este espaço. (Curiosamente, o Horóscopo Personare falou em Marte entrando na minha casa 1 e sinalizando muita energia para os próximos 40 dias, coisa que eu preciso administrar bem.)

Em relação ao filme escolhido para comentar, já faz algumas semenas que o vi na sessão de arte em Fortaleza. A ÁRVORE (2010), da diretora francesa Julie Bertucelli, a mesma de DESDE QUE OTAR PARTIU (2003), é uma obra bem interessante, uma história de amor que vai além da morte e que tem algo de fantástico, de sobrenatural, mas que é tratado com certa sutileza, embora a sequência final seja mesmo impressionante e muito bem realizada para uma produção fora de Hollywood.

A ÁRVORE é uma coprodução França/Austrália/Alemanha/Itália e se passa num lugar desolado da Austrália, sendo obviamente falado em inglês. Charlotte Gainsbourg mostra mais uma vez ser uma das melhores e mais interessantes atrizes de sua geração. Ela interpreta a mãe de quatro filhos que perde o marido, que teve um ataque cardíaco enquanto estava dirigindo e bateu a caminhonete justamente na imensa árvore que fica ao lado da casa onde moram. A garotinha mais nova tem a impressão de que o espírito do pai está na árvore e que se comunica com ela; a mesma impressão (ou certeza) tem a esposa.

Dizer mais pode estragar um pouco a apreciação deste filme que me pareceu uma versão "do bem" de A ÁRVORE DA MALDIÇÃO, de William Friedkin, ao enfocar o elemento da revolta da natureza. As crianças do filme também dão o seu show particular e a diretora, embora tenha dado um espaçamento temporal grande entre um filme e outro, como trabalhou como assistente de direção para Kryzystof Kieslowski e Bertrand Tavernier, pode ainda gerar bons frutos, que se transformariam em grandes árvores como a desse filme.

sábado, abril 16, 2011

MACHETE



Como o filme de Robert Rodriguez e Ethan Maniquis (nem sabia que havia esse codiretor) não chegou aos cinemas de Fortaleza e já está disponível no mercado de vídeo, o jeito foi ver em casa mesmo. Claro que o trailer promete um filme muito mais animador, mas MACHETE (2010) não deixa de ser uma diversão despretensiosa, um filme B que pode se dar ao luxo de contar com um elenco classe A. Se bem que o protagonista, Danny Trejo, o Machete do título, já dá o tom de B do filme, que conta com interpretações toscas, principalmente de Trejo e Steven Seagal. Aliás, eu devo ser mesmo um sujeito preconceituoso, pois sempre evitei os filmes com Seagal. Mas dessa vez não tive como evitar. O sujeito está um pouco fora de forma, coisa que nem sua tradicional indumentária preta pôde disfarçar.

Quanto ao elenco classe A - Robert De Niro, Jessica Alba, Michelle Rodriguez, Lindsay Lohan -, eles entram na brincadeira numa boa, embora muitos tenham se queixado de o fato de Jessica Alba ter usado uma dublê na cena de nudez e de Lindsay também ter preferido esconder os seios. Assim, a nudez de fato fica por conta de atrizes desconhecidas, sendo a melhor delas a que está no prólogo (animador, com seus excessos de violência gráfica) que precede os créditos, que apresentam o elenco de um jeito que lembra muito os spaghetti westerns e os filmes de Quentin Tarantino.

Na trama, Machete é um ex-policial federal que está sem identidade e dado como morto. Ele sobrevive com subempregos, ajudado pela personagem de Michelle Rodriguez, que supostamente vive de vender tacos e café num trêiler. Jessica Alba é a agente responsável por fiscalizar aqueles mexicanos que estão ilegais no país, bem como dar uma checada em coisas mais sérias, como tráfico de drogas e envolvimento com a máfia. Machete é contratado pelo personagem de Jeff Fahey para assassinar o senador candidato a reeleição que planeja construir uma cerca elétrica para evitar a passagem dos mexicanos pelas fronteiras. Pelo serviço ele ganharia uma boa soma em dinheiro.

Lindsay Lohan tem um papel bem menor do que eu esperava, mas sua aparição no final, vestida de freira com uma arma na mão, não deixa de ser visualmente marcante. Assim como Michelle Rodriguez de tapa-olho, talvez uma homenagem a KILL BILL, do amigo Tarantino. É um filme cujo tom combina com o desleixo habitual de Rodriguez na direção. Diria que se ele continuar seguindo essa seara, vai estar no caminho certo. Nunca será um diretor sofisticado como Tarantino, mesmo. Ainda assim, não há como não ficar impressionado com a cena de Machete saltando de uma janela usando as tripas de um inimigo.

quinta-feira, abril 14, 2011

A COLINA DOS HOMENS PERDIDOS (The Hill)



Mais um grande cineasta deixou o nosso mundo. Sidney Lumet faleceu no último dia 9, aos 86 anos, deixando como filme-testamento uma obra impecável, uma das melhores de sua longa e diversificada carreira. ANTES QUE O DIABO SAIBA QUE VOCÊ ESTÁ MORTO (2007) é um trabalho extraordinário e fez com que muitos esperassem com ansiedade pelo próximo trabalho do mestre. Infelizmente não haverá. Mas temos uma vasta filmografia a explorar. Lumet começou dirigindo episódios de séries para a televisão nos anos 1950 e estreou no cinema com um drama judicial que se transformou em um clássico: 12 HOMENS E UMA SENTENÇA (1957).

A fim de ver um filme inédito para mim do diretor como uma forma de homenageá-lo, estava à procura de O HOMEM DO PREGO (1964), drama elogiadíssimo que deve estar em algum lugar aqui na minha bagunça. Em vez dele, encontrei este A COLINA DOS HOMENS PERDIDOS (1965), feito praticamente na mesma época. Trata-se de um filme sobre militares presos numa penitenciária para desertores, ladrões, gente que desrespeitou o código militar na época da Segunda Guerra Mundial. Sean Connery, já um astro que havia feito três filmes como James Bond e um filme com Alfred Hitchcock, é o protagonista deste drama tenso que é um primor de direção e movimentação de câmera do primeiro ao último fotograma.

Lumet preferiu fazer um filme sem utilização de música, tornando-o ainda mais tenso e realista. Há utilização de muitas gruas, travellings e profundidade de campo, como também uso de câmera na mão em alguns momentos. A trama acompanha um grupo de cinco militares que vão para essa prisão que tem como principal "atrativo" um morro onde os presidiários são obrigados a subir e a descer até a exaustão, com um peso nos ombros. Detalhe: a prisão é localizada no norte da África e o calor é capaz de fazer alguns deles desmaiarem. O filme foca na relação desse grupo de homens com dois militares perversos, que tiram o personagem de Connery para Cristo sempre que podem. Do grupo de prisioneiros, além de Connery, o mais corajoso e companheiro é um negro, interpretado por Ossie Davis, que chegou a trabalhar com Spike Lee em seus primeiros filmes e representa a resistência negra nos Estados Unidos racista dos anos 60. O filme parece um pouco teatral às vezes pelo uso de muitos diálogos, mas não há como não negar sua grandeza. Além do mais, o final brusco mostra o quanto Lumet estava antenado com um tipo de cinema mais moderno.

Agradecimentos especiais a Carlão Reichenbach, que gravou uma cópia desse filme para mim já faz alguns anos e só agora o vi.

quarta-feira, abril 13, 2011

MEU MUNDO EM PERIGO



Realizado antes de SE NADA MAIS DER CERTO (2009), MEU MUNDO EM PERIGO (2010), produzido com poucos recursos, o que fica bastante aparente na fotografia um tanto escura e nas várias sequências em interiores, continua provando que José Eduardo Belmonte é um dos cineastas brasileiros mais interessantes da nova geração. Desde que chamou a atenção do país com A CONCEPÇÃO (2006), Belmonte tem despertado o interesse dos cinéfilos. Assim como em A CONCEPÇÃO, o diretor traz novamente no elenco a presença sempre bem-vinda de Rosanne Mullholland e Milhem Cortaz.

O que mais desperta a atenção no filme e que pode deixar muita gente irritada é o quanto os personagens masculinos são "bundas-moles". Quando não, são asquerosos e desrespeitosos, como o pai do personagem de Milhem Cortaz, que bolina às escondidas a mulher do filho. Ela tem que aguentar aquele velho bêbado, desejando a sua morte. Do outro lado desse pequeno painel, temos o loser vivido por Elcir de Souza. Ele disputa a guarda do filho com a esposa, ao mesmo tempo em que fica obcecado por uma bela jovem (Rosanne Mullholland), que aparentemente é muda. O destino dos dois homens será definido por um acidente.

A maior parte do filme se concentra na relação dos personagens de Elcir e Rosanne. Se por um lado, é interessante ver uma relação que não é necessariamente baseada em sexo, por outro, quem não gostaria de ver Rosanne Mullholland novamente nua? E o diálogo dos dois, por mais que seja uma das melhores coisas do filme, chega a incomodar em alguns momentos, justamente pelo posicionamento idiota do personagem de Elcir. Assim, a imagem que temos dos homens do filme é a de uns completos imbecis, que só servem para causar empecilhos e desgraças na vida das mulheres. Desse modo, mesmo sem querer, o filme dialoga com um ótimo curta-metragem de Karim Aïnouz chamado SEAMS. Ser homem e ver esses filmes faz com que nos questionemos sobre a posição masculina na sociedade atual.

terça-feira, abril 12, 2011

U2 360º - MORUMBI, SÃO PAULO, 10 DE ABRIL DE 2011



Nem parece que faz 20 anos que ACHTUNG BABY foi lançado. E precisou de todos esses anos para que eu pudesse ter a chance de ver a banda ao vivo. Esse disco de 1991 foi o que marcou o início do meu interesse pelo U2. Lembro que, quando o álbum saiu, uma das rádios daqui, que costumava fazer programas especiais só com canções de determinadas bandas, fez um com o U2. A maioria das canções era deste álbum revolucionário. E eu gravei numa fitinha K7. Só uns dois anos depois é que eu tive condições de comprar o CD, que na época era artigo ainda caro.

E até hoje é o disco que serve de base para os melhores momentos dos shows da banda. Nesse show de domingo no Morumbi, tive o prazer de ouvir ao vivo cinco faixas do clássico álbum: "One" (a mais bela canção do U2), "Until the end of the world" (uma das favoritas da casa, maravilhosa), "Mysterious Ways" (obra-prima, pra dançar também), "Even better than the real thing" (que abriu o show de modo que eu fiquei arrepiado) e "Ultraviolet (Light my way)" (uma das surpresas do show, por ser pouco tocada e menos lembrada).

Antes de o show começar, tivemos que ouvir o minishow do Muse, a banda de abertura. Felizmente eles tocaram a canção que eu conhecia – e que gosto bastante -, que é "Time is running out". Mas mesmo esta canção não me deixou entusiasmado o suficiente. Na verdade, não via a hora que o show acabasse para ver logo a atração principal. E antes do Muse teve outra atração: a chuva. Felizmente ela passou assim que os shows começaram. São Pedro gosta de U2, alguns diriam.

Voltando ao show principal, as maravilhas tecnológicas apresentadas pela banda são uma atração à parte. O telão em forma de nave espacial que a certa altura do show se transforma em algo mais é impressionante. E foi mais legal ainda ver que o telão desceu e se transformou numa tela cheia de luzes coloridas, como algo de outro planeta, justo quando eles começam a tocar "Zooropa"! Sim, uma canção de um disco que eles têm dado pouco espaço nos shows. Eu considerei um presente para mim. Outra canção rara de se ver nos shows foi "Out of Control", faixa do primeiro álbum. Que infelizmente substituiu "I will follow", mas tudo bem.

O show foi quase perfeito. O "quase" se deve a "I'll go crazy if I don't go crazy tonight", faixa do álbum novo e que deveria ser banida para sempre dos shows. Ponto baixo do show e uma canção bem constrangedora para o U2. Por outro lado, gostei muito de "Get on your boots", que é uma espécie de retorno à fase anos 90 da banda. E de "Magnificent", que tem um dos solos de guitarra mais belos de The Edge.

Mas o momento mais emocionante da noite para mim, que fez cair uma lágrima furtiva de meus olhos foi mesmo "Miss Sarajevo". Até porque a banda fez o favor de colocar no telão cenas do videoclipe, que é o único da banda que sempre que eu vejo eu me arrepio. Assim, não há coração que resista. Sem falar que Bono substituiu Pavarotti de maneira tão bela que não teve como não se arrepiar dos pés à cabeça. O público aplaudiu sua performance entusiasmado.

Aliás, como não ficar encantado ao ouvir em coro todos cantando "I still haven’t found what I’m looking for"? Muitas vezes Bono deixava o microfone só para ouvir o público cantando. Quase uma espécie de "Hey, Jude" do U2. Foi um momento religioso até. E por falar em Beatles, Bono fez menção a simplesmente três canções dos garotos de Liverpool: "Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band", "Blackbird" e "Helter Skelter". A maior banda de rock de todos os tempos sendo homenageada pela maior banda da atualidade. Muito justo.

E ainda citando as faixas oitentistas, muito lindo ouvir "Where the streets have no name" junto com "Amazing grace". Tudo a ver com o aspecto religioso da banda. E eu nem falei nada sobre o aspecto político, sempre presente nos shows. Dessa vez, eles homenagearam as mães que perderam os filhos no recente massacre no Rio de Janeiro, ao som de "Moment of surrender", a faixa que encerra o espetáculo inesquecível.

Eis um link para quem quiser conferir o setlist da noite.

E outro para ver as fotos que tirei do evento do ano.

quinta-feira, abril 07, 2011

UMA MANHÃ GLORIOSA (Morning Glory)



O filme pode até não ser grande coisa, apesar da direção de Roger Mitchell (UM LUGAR CHAMADO NOTTING HILL, 1999), mas Rachel McAdams faz toda a diferença. Essa garota se revelou em MENINAS MALVADAS, ainda como coadjuvante, mas foi a partir de TUDO EM FAMÍLIA que ela me conquistou de fato, com sua beleza apaixonante e seu sorriso mágico. Seu sorriso, aliás, é tão importante que até no interessante TE AMAREI PARA SEMPRE, ela acaba não se destacando muito, pois passa boa parte do filme chorando ou séria. Fico pensando como ela está no novo filme de Woody Allen, MIDNIGHT IN PARIS, com Marion Cotillard para fazer concorrência.

Em UMA MANHÃ GLORIOSA (2010), ela é uma moça que acabou de perder um emprego numa rede de televisão. Ela é uma batalhadora produtora de televisão que nem tem tempo para uma vida social e afetiva. E sair do emprego não muda muito para ela, a não ser ficar ainda mais preocupada, pois precisa conseguir outro urgente. Assim, ela envia currículos e mais currículos para redes de televisão, até receber um telefonema de um chefe de uma rede de tv decadente, para produzir um programa matinal. O programa é uma espécie de mix de "Bom Dia, Brasil" com Ana Maria Braga. Afinal, o período da manhã não é muito propício para notícias pesadas. Isso é, pelo menos, o que os americanos convencionam ou o que o filme leva a crer.

Se o filme é ou não fiel à realidade de uma rede de televisão, achei isso até pouco importante. Nem acredito que a história tenha sido o grande foco de UMA MANHÃ GLORIOSA. Afinal, a trajetória da personagem é até um pouco previsível. Mas o interessante é que o filme foge um pouco das comédias atuais, que administram o foco em romances. O único romance que aparece no filme não é tão valorizado, que é o caso dela com o personagem de Patrick Wilson. Quem ganha destaque é Harrison Ford, como um ranzinza repórter que se encontrava sob contrato da emissora e que tem um histórico impressionante de reportagens ao redor do mundo. Para ele, participar de um noticiário matinal seria uma humilhação. Mas como ele não tem outra escolha, acaba tendo que apresentar o programa ao lado de Diane Keaton. As cenas das tentativas da nova produtora de alavancar o decadente programa são hilárias.

E curiosamente, o clichê de comédia romântica no final é transferido de maneira diferente nesta comédia. Faltou mais emoção, é verdade, mas ainda assim, é sempre bom sair do cinema se sentindo um pouco mais leve, por mais que o filme visto esteja longe da excelência desejada. Mas não posso encerrar o texto sem dizer uma coisa, por mais machista que seja: Rachel McAdams de calcinha é um dos pontos altos do filme, hein. A gente vê que ela não é só um rostinho bonito. :)

quarta-feira, abril 06, 2011

FÚRIA SOBRE RODAS (Drive Angry 3D)



Para cada cinco filmes que faz, um deles é bom – ou muito bom, às vezes. Este é Nicolas Cage, e se FÚRIA SOBRE RODAS (2011) se enquadra na categoria de bom ou ruim, diria que é uma discussão complicada e que não leva a lugar algum. Afinal, se levarmos em consideração que a intenção do filme é mesmo ser uma diversão despretensiosa e bem próxima da era grindhouse, e até mais próximo do que Robert Rodriguez e Quentin Tarantino fizeram em seus trabalhos, já que não há aqui uma intenção de fazer um filme de autor ou algo mais sofisticado em cima dos clichês do "gênero", o filme de Patrick Lussier até que é bem sucedido. Se FÚRIA SOBRE RODAS passa longe da excelência das obras dos dois cineastas citados, seu filme merece ser visto como um passatempo digno e desavergonhado.

Quando se vê o trailer que diz "do mesmo diretor de DIA DOS NAMORADOS MACABRO (2009)", já se sabe que não dá para esperar muita coisa. Felizmente, de seu filme anterior, Lussier trouxe apenas o sexo e a violência, que, aliás, são muito bem-vindos. Os dois filmes trazem mulheres nuas em ambientes públicos de forma involuntária. Será uma tara do diretor? Ou estarei eu querendo trazer autoria a um cineasta medíocre?

Na trama, Nicolas Cage é John Milton (clara referência ao autor de "Paraíso Perdido"), um cara que fugiu do inferno para salvar a sua neta do sacrifício planejado por um grupo de satanistas. No caminho, ele encontra uma loirinha invocada e boa de briga (Amber Heard, delícia de garota e que defende muito bem o papel). Os dois passam a ser perseguidos também por um sujeito que veio do inferno buscar o fugitivo, o "Contador", interpretado pelo sempre simpático William Fichtner - acho que passei a gostar dele por causa de PRISON BREAK.

No caminho, muita perseguição de carros, violência gráfica, um pouco de sexo, Nicolas Cage fazendo seu papel habitual, uma parceira que se mostra muito boa em filme de ação, e uma trama que guarda semelhanças com outro filme com Cage, MOTOQUEIRO FANTASMA. Aliás, FÚRIA SOBRE RODAS é o que o filme da Marvel quis ser e não conseguiu. Ou não, se considerarmos a história do Motoqueiro trágica demais para ser usada em tom de paródia.

terça-feira, abril 05, 2011

VIPS



E Wagner Moura se mostrou um ator tão extraordinário que até um filme menor como este VIPS (2011) se torna um ítem quase obrigatório. Claro que o filme tem as suas qualidades. Só o tema em si não deixa de ser bem interessante. Afinal, o personagem principal, interpretado por Moura, não é apenas um golpista, um mentiroso, mas um sujeito que mente tão bem que acredita nas próprias mentiras. Aí é que está a beleza da coisa. Até lembra aquele famoso poema do Fernando Pessoa: "O poeta é um fingidor..."

Wagner Moura é Marcelo do Nascimento, um rapaz que não quer ser um "zé ninguém" na vida e que acredita ser filho de um piloto de avião. Ele tem tanta fixação por aviões, que acaba arranjando um jeito de pilotar um, envolvendo-se com traficantes de drogas e armas no Paraguai. Aliás, um dos melhores momentos do filme é vê-lo cantando "Será", da Legião Urbana, com ele imitando inclusive a dança de Renato Russo, num inferninho paraguaio, cheio de tipos exóticos. Outro momento divertido é quando ele se faz passar por filho do dono da Gol, e nisso até o próprio Amaury Jr. participa interpretando a si mesmo.

Trata-se de um filme que ousa muito pouco nos aspectos formais. O diretor, Toniko Melo, faz apenas o "feijão-com-arroz" habitual, mas faz com competência. O ponto alto acaba sendo o modo como ele finaliza o filme, mas podemos atribuir o mérito ao roteirista Bráulio Mantovani, o homem por trás de obras como TROPA DE ELITE, CIDADE DE DEUS, CHEGA DE SAUDADE, QUERÔ e TROPA DE ELITE 2. Por outro lado, colocar Wagner Moura no papel de um menino de 17 anos foi forçar demais a barra. Ter arranjado um garoto parecido com ele talvez fosse a melhor opção. Ainda assim, ainda que não seja um grande filme, a presença de Wagner Moura cada vez mais tem tornado a ida ao cinema bem recompensadora.

segunda-feira, abril 04, 2011

BLACK RAIN – A CORAGEM DE UMA RAÇA (Kuroi Ame)



Senti-me um pouco carniceiro com o fato de querer ver BLACK RAIN – A CORAGEM DE UMA RAÇA (1989) justo no momento em que o Japão está passando por uma crise que faz lembrar os tempos da Segunda Guerra Mundial, quando o povo japonês teve que conviver com a destruição e as terríveis sequelas de duas bombas atômicas. O terremoto que resultou no pior tsunami da história do país foi noticiado à exaustão pela mídia, mas agora que as coisas se acalmaram um pouco, o interesse parece haver diminuído, ainda que algo tão alarmante quanto o vazamento de radiação continue sendo extremamente preocupante.

BLACK RAIN, de Shohei Imamura, é esclarecedor ao mostrar alguns detalhes do dia em que a bomba atômica atingiu Hiroshima, destruindo a cidade inteira e causando um estrago ainda mais aterrorizante naqueles que estavam em seus arredores. Os efeitos de maquiagem já na época da produção pareciam um pouco de filme B dos anos 50, mas o que conta é a intenção e a intensidade e seriedade com que Imamura retrata aquela triste situação – a fotografia em preto e branco ajuda a dar um ar mais documental ao filme. Talvez seja um pouco desanimador para quem espera mais momentos de destruição e menos sequências passadas cinco anos depois, quando o filme ganha uma narrativa mais lenta.

A tal chuva negra do título se refere à chuva que sucedeu ao impacto da bomba e que atingiu algumas pessoas. Tanto aqueles que foram irradiados pela luz radioativa quanto os que foram banhados por essa chuva têm a morte como destino breve. Passados cinco anos, o filme concentra a atenção na jovem Yasuko e seu casal de tios. Eles estavam juntos no dia da explosão e passaram por uma cidade que mais parecia o inferno na Terra. A garota se aproxima da idade de casar, mas precisa de atestados médicos que afirmem que ela está com saúde e que não foi atingida pela bomba. Seus tios a tratam melhor do que seus pais, com amor e afeto e isso é algo que Imamura faz questão de mostrar.

Quer dizer, não se trata de um filme exploitation, até porque os japoneses contemporâneos de Imamura tratam com muita seriedade o acontecido. Há uma crítica feroz à guerra. O Sr. Shizuma, ao ouvir, sobre a Guerra da Coreia e da suposição de os Estados Unidos poderem novamente lançar outra bomba, vê com tristeza o quanto a humanidade parece estar regredindo. Ao mesmo tempo, vê sua esposa e sua sobrinha – além de amigos queridos – apresentaram os sintomas mortais gerados pela radioatividade. BLACK RAIN é um filme lento e triste que reflete sobre o absurdo da guerra e, mais particularmente, do ato brutal de se matar milhares de pessoas inocentes.

sexta-feira, abril 01, 2011

AS MÃES DE CHICO XAVIER



Uma boa surpresa este AS MÃES DE CHICO XAVIER (2011), mais uma produção da Estação da Luz, a mesma que trouxe CHICO XAVIER e NOSSO LAR e que bem ou mal tem capitalizado em cima da onda espírita. Porém, embora se questione a qualidade desses filmes e o fato de eles virem com a intenção de propagar a fé espírita, todos eles trazem algo de muito interessante e atraente para o espectador comum. No caso de NOSSO LAR, a produção mais cara do cinema brasileiro, havia um problema de direção de atores que incomodava. O mesmo se repete em AS MÃES DE CHICO XAVIER, mas a sorte dessa vez é que alguns dos atores incorporam tão bem seus personagens que, em determinado momento, a emoção vem com força.

É o caso, principalmente, da atriz Vanessa Gerbelli, que está muito bem no papel da mãe que perdeu seu filho de cinco anos de idade e que vê em Chico Xavier uma chance de entrar em contato com a criança. A cena em que Vanessa está no banco de uma praça com Tainá Müller é a primeira a pegar o espectador de jeito e a mostrar que para ver o filme é preciso estar preparado para derramar algumas lágrimas. A conversa gira em torno de uma pessoa ser capaz de se doar por outra e é a partir dessa sequência que o filme se mostra abertamente contra o aborto, o que é explicitado ainda mais na dedicatória final.

AS MÃES DE CHICO XAVIER, dirigido por Glauber Filho e Halder Gomes, compensa a quantidade de atuações ruins com as performances de gente boa como as duas atrizes citadas, mais Herson Capri, Caio Blat e, claro, o próprio Nelson Xavier, numa interpretação quase mediúnica, cheia de paz e espiritualidade. Importante observar que desde que ele interpretou Chico Xavier no filme de Daniel Filho, o ator, que não tem nenhuma crença religiosa, passou a prestar mais atenção às coisas do pós-vida. E o filme ganha muito com a sua interpretação mágica e doce do médium mais famoso do Brasil. E se NOSSO LAR contou com bons efeitos especiais, AS MÃES DE CHICO XAVIER também possui momentos de destaque nesse campo, como na cena que mostra o terror de quem acabou de se suicidar ou no trágico assalto no ônibus. Mas no final o que interessa mesmo é o amor daquelas tão sofridas mães. E isso muito me comove.

P.S. Antes de começar o filme, outros dois filmes espíritas são anunciados em trailer: O FILME DOS ESPÍRITOS, que conta mais uma vez com a presença de Nelson Xavier, e ÁREA Q, ficção científica rodada em Quixadá e Quixeramobim, duas cidades do sertão cearense.