segunda-feira, março 28, 2011

UM LUGAR QUALQUER (Somewhere)



E cada vez mais Sofia Coppola sai da sombra do pai e se torna uma autora de mão cheia. UM LUGAR QUALQUER (2010) é, junto com ENCONTROS E DESENCONTROS (2003), o seu momento de maior brilho. Embora nos outros filmes o registro intimista também esteja presente, é com a obra que a consagrou que o novo trabalho encontra mais pontos em comum. Até por ter como protagonista um personagem masculino. No anterior, tínhamos Bill Murray, agora Stephen Dorff, ambos interpretando atores, embora em situações um pouco distintas - um decadente, o outro, no auge do sucesso. Há a vida em hotéis de luxo, o glamour que se constitui em vazio, o desconforto em relação à riqueza, levado às últimas consequências em MARIA ANTONIETA (2006). Todos elementos bastante comuns nesses filmes. Pode parecer frescura para muitos, mas provavelmente só sabe como é esse vazio quem nasceu em berço de ouro, como é o caso de Sofia.

As cenas das gêmeas loiras que fazem shows de pole dancing para o protagonista remetem diretamente ao videoclipe "I just don't know what to do with myself", da dupla White Stripes, que a própria Sofia dirigiu. Em UM LUGAR QUALQUER, a canção que toca no show das gêmeas é o rock "My hero", do Foo Fighters, que aliás ficou lindo e toca do início ao fim. Sofia não tem a menor pressa em contar sua história, mais pautada em atmosfera e personagens do que em um enredo. Ver a doce melancolia do jovem ator, assistindo aquelas lindas moças com pouca roupa dançando exclusivamente para ele, mostra que Sofia nunca teve problemas em mostrar sua admiração pelas formas femininas. Lembremos que ENCONTROS E DESENCONTROS (2003) se inicia com o belo traseiro de Scarlett Johansson em close-up. Aliás, percebe-se uma admiração pelo corpo feminino em todos os filmes de Sofia, inclusive em sua estreia, AS VIRGENS SUICIDAS (1999).

UM LUGAR QUALQUER talvez seja o seu filme mais "europeu", que encontra ecos nos Estados Unidos provavelmente apenas com o cinema de Gus Van Sant, também adepto de performances intimistas e planos lentos e longos. Os personagens são interpretados por Stephen Dorff, o jovem ator de sucesso que tem tudo o que quer, mas que sente um vazio no peito, um mal estar existencial; e a bela Elle Fanning, que interpreta sua filha de onze anos. Com a ausência da mãe, que viaja para dar um tempo na relação, a menina fica sob os cuidados do pai, pouco acostumado com sua presença. A garota experimenta o contato com o pai com alegria e disposição, embora mesmo os momentos alegres do filme estejam impregnados com um pouco de melancolia. Mas é justamente por esse tom que UM LUGAR QUALQUER conquista o espectador que quer experimentar algo diferente na sala escura do cinema. O Leão de Ouro em Veneza foi justo.

P.S.: Já está online a edição de março da Revista Zingu!, que conta como destaques o Dossiê Geraldo Vietri e o especial "O carnaval no cinema". Além dos extras, sempre saborosos.

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