quinta-feira, março 17, 2011

A ERVA DO RATO



Infelizmente, como não tive o prazer de ver A ERVA DO RATO (2008) no cinema em gloriosa película como vi CLEÓPATRA (2007), tive que apelar para o meio alternativo mesmo. Com certeza, no cinema, a experiência teria sido bem mais intensa. O filme conta com a segunda colaboração de Alessandra Negrini com o diretor Júlio Bressane, bem como com a bela fotografia de Walter Carvalho. Ambos os filmes lidam com o sexo e a nudez da atriz, mas sempre mostrando a erudição do autor através de textos lidos e de uma linguagem estranha, mas que exatamente por isso desperta o interesse do espectador que quer ver algo diferente no cinema.

Bressane faz o que quer. Cineasta vindo do cinema marginal do fim dos anos 60, tem uma filmografia rica e nem sempre de fácil compreensão, mas por isso mesmo instigante. A utilização na maioria das vezes de câmera parada (principalmente no início) e na preferência pelos personagens e objetos se apresentando no quadro faz com que os momentos de movimentação da câmera se destaquem brilhantemente. A trama conta com apenas dois personagens, os dois sem nome. Em um tempo histórico indefinido, Selton Mello é um homem que conhece uma mulher (Negrini) num cemitério. Ela desmaia e Bressane, sem muita preocupação em fazer um filme realista, faz uma bonita sequência da proposta que o homem faz à mulher, utilizando um linguajar do século XIX, para que os dois morem juntos. Ela aceita tão rapidamente que a cena parece inverossímil. Ou, pelo menos, herdeira de alguns filmes da Nouvelle Vague.

Uma vez que ela começa a viver na casa dele, sua principal função passa a ser a de datilografar os curiosos textos que ele lê em voz alta. Vez ou outra, ela pára a atividade mecânica quando percebe algo interessante nos textos ditados. Um dos textos se refere a alguns tipos de veneno, sendo um deles a "erva do rato" do título. Há também um rato no filme, que aparece quando o personagem de Selton Mello passa a tirar fotos de sua companheira nua e que pode ser encarado como um terceiro personagem do filme.

A ERVA DO RATO tem um final um pouco difícil de decifrar, mas independente de se entender ou não, os momentos misteriosos e eróticos e a erudição coerente com o histórico dos filmes de Bressane são suficientes para sua valorização. Uma das interpretações do filme afirma que o rato e o esqueleto seriam manifestações materiais da palavra ditada no início do filme, quando as palavras passam a ser substituídas por fotografias. E tanto as palavras quanto as fotografias são vistas pelo protagonista como uma obsessão. Fascinante isso, embora eu tenha sentido uma diminuição da força do filme em seu final.

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