quinta-feira, fevereiro 03, 2011

TETRO



Apesar de ter sentido uma recepção fria no ar, estava com uma boa expectativa em relação a TETRO (2009). Afinal, era um acontecimento histórico ver um filme novo de Francis Ford Coppola no cinema, depois de mais de dez anos. A última vez havia sido o fraco O HOMEM QUE FAZIA CHOVER (1997). Isso parece que foi há séculos. E como Coppola se tornou uma lenda, principalmente por causa da trilogia O PODEROSO CHEFÃO (1972, 1974, 1990), um filme novo seu é sempre um acontecimento, por mais que o anterior, VELHA JUVENTUDE (2007), tenha sido ignorado pelas distribuidoras e continue inédito no Brasil. E se é mesmo inferior a TETRO como dizem, até entendo o porquê de nenhuma distribuidora ter se interessado em lançá-lo, por mais que colocar no cartaz o termo "do mesmo diretor de O PODEROSO CHEFÃO" seja um atrativo e tanto. E essa estratégia foi utilizada pela Imovision, que felizmente lançou cópias em película. Como o filme é muito bonito plasticamente, com fotografia estilizada em preto e branco e em scope, só de imaginar uma projeção digital ruim e mutiladora da Rain já dá arrepios.

Infelizmente toda essa expectativa em torno de TETRO acabou indo por água abaixo. Seu trabalho parece o de um diretor iniciante que não tem noção de que o roteiro que está em suas mãos é constrangedor. Por mais que o início gere interesse, o desenvolvimento é arrastado e a conclusão é totalmente sem noção. A desculpa de que o filme é um melodrama não funciona, nem as inserções de CONTOS DE HOFFMAN que se destaca por ser em cores e com outra janela. Os rápidos flashbacks do protagonista também são mostrados em cores. Inclusive, pode-se dizer que um dos melhores momentos do filme é uma dessas lembranças. A mais traumática delas.

Na trama, o jovem Bennie (Alden Ehrenheich), garçom de cruzeiro, faz uma parada em Buenos Aires, onde mora longe da família há vários anos o seu irmão mais velho Tetro (Vincent Gallo). Bennie é bem recebido pela esposa de Tetro (Maribel Verdú), mas o irmão age com certa hostilidade. Inicialmente, demonstra total desinteresse em sequer ver Benny. Na manhã seguinte, os dois se cumprimentam, ainda que de maneira bem pouco carinhosa. Tetro se recusa a responder as perguntas do irmão e a falar da família.

TETRO guarda elementos de várias obras de Coppola, principalmente as que enfatizam questões familiares, tema de obras como O PODEROSO CHEFÃO, VIDAS SEM RUMO (1983) e O SELVAGEM DA MOTOCICLETA (1983). Deste último, inclusive, há semelhanças formais e de conteúdo. Ambos usam fotografia em preto e branco e ambos mostram um irmão mais novo vivendo à sombra do irmão mais velho. Lembro de não ter gostado de O SELVAGEM... na época que o vi, mas preciso de uma revisão. Com certeza, melhor que TETRO é. E a não ser que Coppola tenha transferido todo o seu talento para a filha, torço para que o seu próximo projeto faça jus ao passado glorioso.

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