terça-feira, fevereiro 15, 2011

LIXO EXTRAORDINÁRIO (Wasteland)



Como é bom ir ao cinema e se surpreender. E mais do que isso: se emocionar, a ponto de ir às lágrimas com o drama e as alegrias de pessoas que, de desconhecidas, passam a quase vizinhos ou amigos, tal o grau de aproximação com que o artista plástico Vik Muniz estabelece com aquele grupo de catadores de lixo do Jardim Gramacho, em Duque de Caxias.

Em LIXO EXTRAORDINÁRIO (2010), vemos com certeza um dos momentos mais importantes da vida de Vik Muniz, o artista plástico brasileiro mais famoso da atualidade. Ele ficou conhecido por utilizar o lixo em suas obras de arte, reinventando à sua maneira quadros famosos com a utilização de fotografias de anônimos e material reciclado. Quando, no início do filme, ele diz que pretende deixar os Estados Unidos e ir ao lixão do Jardim Gramacho para fazer o seu trabalho e mudar a vida de uma comunidade, nós pagamos pra ver.

A sequência que mostra Vik arquitetando seu plano no computador é o que mais se aproxima de um registro de ficção mostrado no filme. Fica bem na cara que aquele momento foi mais ou menos ensaiado. Ou pelo menos bem planejado. Quando Vik chega no aterro é que a linguagem de documentário predomina de vez. Vemos ali uma verdadeira cidade de lixo e ficamos tão embasbacados quanto ele.

Aos poucos, vamos conhecendo alguns dos selecionados por Vik, pessoas que terão suas vidas mudadas por uma intervenção do artista. Essas pessoas são mostradas com tanta beleza, mesmo estando sujas e maltrapilhas, que é como se a beleza partisse de nossos corações. Como não se emocionar quando a associação dos catadores é assaltada? Ou quando uma das moças conta do dia em que perdeu o seu bebê? Ou da emoção de um dos rapazes em sua visita a Londres? Ou do fato de o próprio Vik Muniz perceber que a sua própria existência também ficou marcada depois desse encontro?

Com certeza tem dedo de João Jardim aí. Jardim dirigiu o maravilhoso PRO DIA NASCER FELIZ (2006), que também conta com relatos cheios de vida e de emoção de pessoas comuns, mas que ganham grandeza na tela. Ainda assim, a diretora "chefe" do filme é Lucy Walker. LIXO EXTRAORDINÁRIO foi um projeto que deu certo. Parabéns para Walker, para Vik, para Jardim, para Fernando Meirelles e sua O2 Filmes, uma das produtoras que viabilizou essa bela obra.

LIXO EXTRAORDINÁRIO concorre ao Oscar na categoria de melhor documentário.

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