quinta-feira, janeiro 20, 2011

JANGO



Estudando um pouco sobre os escritores da geração de 1930, e vendo o quanto eles eram politicamente engajados, senti necessidade de ver um documentário para entender um pouco mais o contexto social e político do país, da Era Vargas ao Golpe de 64. Na falta de outra opção que me viesse à mente, optei por JANGO (1984), do mesmo Silvio Tendler que dirigiu o empolgante UTOPIA E BARBÁRIE (2010).

Porém, ao contrário do novo filme, que lida com o desencanto e o fim das utopias, JANGO é um retrato nada imparcial de João Goulart. A intenção era mesmo utilizar o filme como objeto de propaganda e de avanço para a redemocratização, em momentos de "Diretas Já". Dentre os depoimentos, se eu não me engano, o único defendendo a ditadura é o do General Antonio Carlos Muricy. Mas seus depoimentos, por mais sóbrios que sejam, não ajudam a colocar a balança de modo que o espectador escolha o seu lado.

O que eu senti, vendo o filme, foi que ele envelheceu bastante. Hoje é visto mais como um retrato da época em que foi realizado do que da época que deseja focar seu relato. João Goulart é mostrado como um grande estadista, homem correto, com uma família exemplar e com um grande compromisso para com o povo, a ponto de se sacrificar e fazer um comício perigoso, em tempos em que já se falava num possível avanço dos militares para tirá-lo do poder. Como provavelmente tiraram de cena o presidente anterior, Jânio Quadros, que dizia que abdicou por causa de forças ocultas.

O bom de ter visto o documentário foi ter entendido um pouco o posicionamento de Rachel de Queiroz – que não aparece no documentário –, que foi militante do PCB, mas depois se tornaria amiga do General Castelo Branco. Ela disse que odiava o janguismo, muito provavelmente porque o governo de João Goulart tinha Getúlio Vargas como modelo a ser seguido. Não deixa de ser uma ironia o fato de Getúlio, que tanto caçou os comunistas, ser exemplo para um presidente que o admirava mas que era, no mínimo, simpatizante dos comunistas e perseguido pelo imperialismo americano.

Outro ponto que depõe contra o filme – mas que para muitos é considerado um ponto positivo – é a canção de Milton Nascimento ("Coração de Estudante"), que tanto tocou na televisão durante o luto de Tancredo Neves, aliado de Jango, que se tornou quase um santo para o povo sem ter tido a oportunidade de demonstrar a sua capacidade de governar.

P.S. Está no ar a nova edição da Revista Zingu!. Dessa vez, com a estreia de Adilson Marcelino como editor-chefe. Tive o prazer de contribuir com dois textos para o Dossiê Miziara. Escrevi sobre dois filmes da fase pornô do diretor: RABO I e OSCARALHO - O OSCAR DO SEXO EXPLÍCITO. Há também várias colunas novas. Vale conferir. Ainda mais agora, que a Zingu foi premiada e ganhou mais prestígio ainda.

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