quinta-feira, dezembro 30, 2010

BELLE TOUJOURS – SEMPRE BELA (Belle Toujours)



Pelo menos uma coisa muito boa este BELLE TOUJOURS – SEMPRE BELA (2006) provocou em mim: uma vontade imediata de rever o célebre A BELA DA TARDE (1967), de Luis Buñuel. A revisão da obra há alguns meses foi recebida com entusiasmo por mim. Entendi melhor o filme. Ou pelo menos acho que entendi – a caixinha misteriosa é feita para não ser entendida mesmo, creio eu. Pois bem. Eis que, ao ver BELLE TOUJOURS encabeçando a lista de favoritos do Tiago Superoito e percebendo que as chances de esse filme chegar aos cinemas de Fortaleza eram mínimas, resolvi ver logo em casa mesmo na noite de natal.

Conheço pouco do cinema de Manoel de Oliveira. Só havia visto antes o excelente UM FILME FALADO (2003) e um filme que me confundiu talvez por eu não ser católico e não me identificar com a personagem – ESPELHO MÁGICO (2005). Ainda assim é um filme que tem o seu encanto. O mesmo eu poderia dizer de BELLE TOUJOURS, mas a minha queixa com o filme é o fato de ele passar a impressão de tentar explicar o que não precisava ser explicado. De mexer com algo que já era perfeito e completo, por mais sutil e respeitador da obra original que Oliveira seja.

Michel Piccoli está tão idoso e com o rosto tão inchado que mal consegue expressar o cinismo de Husson, seu personagem no original de Buñuel. Ele é o único ator do filme original que volta para essa continuação/homenagem. Catherine Deneuve não aceitou reviver Severine. E algo me diz que ela tomou a decisão acertada. A substituta até que funciona, já que, durante o jantar, ela diz ser outra mulher, que deseja esquecer o passado. BELLE TOUJOURS é um filme sobre a obsessão de um homem por uma mulher, mas também do quanto o sadismo e a perversidade não necessariamente morrem com a idade.

Interessante a extrema falta de pressa do diretor para contar o seu filme. A imagem de Paris à noite, por exemplo, é fixada na tela, como se o diretor quisesse que nós apreciássemos cada detalhe, como se estivéssemos dentro de um museu de arte. E o jantar é outro exemplo disso: os dois comendo em silêncio. Os atores mais conhecidos da filmografia de Oliveira aparecem no bar, onde o agora alcoólatra Husson pede avidamente as suas doses duplas de uísque. Estão lá Ricardo Trêpa, como o garçom, e Leonor Baldaque, como uma das prostitutas.

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