terça-feira, setembro 21, 2010

O QUE RESTA DO TEMPO (The Time That Remains)



Não consigo evitar de fazer comparações entre Elia Suleiman e Amos Gitai. Nem sei se os dois cineastas têm alguma rixa, mas sei que os seus povos têm. Suas maneiras de abordar a questão "judeus vs palestinos" na panela de pressão que é o Estado de Israel e arredores são também distintas. Enquanto Gitai parece encarar essa briga como ridícula e que poderia ser utopicamente resolvida de maneira pacífica (vide a cena do trem em APROXIMAÇÃO), Suleiman prefere meter o dedo na ferida, escancarar a brutal invasão que foi o acordo imposto em 1948, que deu origem ao Estado de Israel e que transformou os palestinos em marginais. Os mais revoltados preferiram ficar e iniciar uma luta armada e de nervos que se estende até os dias de hoje.

Em O QUE RESTA DO TEMPO (2009), Suleiman usa de seu humor sarcástico, que com apenas dois filmes vistos já é possível se familiarizar, para mostrar mais uma vez o ponto de vista dos palestinos no conflito. E comparando com INTERVENÇÃO DIVINA (2002), o novo filme é muito mais pessoal. Afinal, ele trata da história de vida de seu pai e dele mesmo, embora sua participação no último ato do filme, já como adulto, seja quase um banho de água fria num filme que estava indo muito bem. Mas ainda que eu não tenha gostado da última parte, acredito que ela não tenha sido gratuita. Mostrar, por exemplo, a morte da própria mãe, não deve ser uma experiência muito agradável.

O filme começa com um prólogo intrigante: um motorista de taxi atende um cliente e uma tempestade inesperada faz com que ele se perca do caminho. O misterioso cliente (o próprio Suleiman) não fala uma palavra. Começam os créditos de abertura, em árabe e em inglês. Resta ao espectador entender o que representa essa sequência para o filme. Que é composto de quatro momentos, todos ocorrendo em Nazaré: 1948, 1970, 1976 e os dias de hoje. Ele recorre a situações inverossímeis, ao humor à Jacques Tati e a situações até violentas e surpreendentes, como a cena do soldado que em vez de se render aos israelitas prefere tirar a própria vida com um tiro na cabeça. Há também uma clara admiração para com o pai, que é visto como uma espécie de herói hollywoodiano. Inclusive, ele é mostrado de pele clara, o que mostra não apenas a influência da cultura pop americana em Suleiman como uma certa romantização da figura paterna. No mais, ainda que nem sempre seja agradável - e ele não está aí para agradar, mas para incomodar mesmo -, o cinema de Suleiman é bem vindo.

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