terça-feira, agosto 03, 2010

UMA NOITE EM 67



Maravilha o resgate que o cinema nacional tem feito com a história da música brasileira. UMA NOITE EM 67 (2010) é mais um belo exemplar dessa safra. E o interessante é que os diretores, Renato Terra e Ricardo Calil, aparentemente não tiveram muito trabalho. Apenas pegaram apresentações na íntegra da noite da premiação do Festival de Música Popular Brasileira de 1967 da TV Record e entrecortaram com depoimentos dos envolvidos. Tudo bem que os depoimentos são ótimos, mas o forte mesmo está naquelas preciosas imagens em preto e branco que funcionam como uma cápsula do tempo e fazem-nos sentir o clima caloroso daqueles momentos.

No Brasil, estava-se enfrentando uma ditadura que ainda se mostraria mais rigorosa, mas o posicionamento político dos jovens já se mostrava ferrenho. Faziam passeatas para tudo, até contra a guitarra elétrica. Gilberto Gil participou dessa ridícula passeata. Já tinha lido que ele era meio "Maria vai com as outras" no livro "Roberto Carlos em Detalhes", que conta um pouco do cenário dessa época. E isso só se confirma no documentário. O próprio Gil diz que só foi pra essa passeata por causa da Elis Regina. Pelo visto, a Elis era mesmo uma força da natureza, adorada por quase todo mundo.

Gosto muito do posicionamento de Caetano Veloso, que achava aquela passeata uma coisa fascista e ridícula. Tanto é que sua primeira apresentação de "Alegria, alegria" foi iniciada com a vaia do público por causa da banda de rock que ele arranjou para acompanhá-lo. Depois, aos poucos, ele foi conquistando todo mundo. Isso, segundo o depoimento de Nelson Motta. O próprio Nelson, que tinha uma composição competindo e naturalmente estava torcendo contra, ao final da apresentação, estava aplaudindo entusiasticamente. Mas a apresentação mostrada no filme não foi a inicialmente vaiada, mas a apresentação de classificação, já com a aceitação do público.

O ano de 1967 é conhecido como o ano mais psicodélico do século. E a canção de Caetano é a que mais está antenada com esse momento - junto com a participação dos Mutantes em "Domingo no Parque", interpretada por Gilberto Gil, que também pode ser conferida no documentário LOKI - ARNALDO BAPTISTA. Mas voltando ao Caetano, ele pode até ser visto em certo momento como uma espécie de junkie de sua geração, com shows loucos e tudo, se comparado com os demais. Muito divertido ver suas entrevistas na época. O pessoal da Jovem Guarda fica careta perto dele.

Quem quis fazer diferente foi Sérgio Ricardo, modificando o arranjo original. Aparentemente o cantor não era muito querido dos jovens, que o vaiaram a ponto de ele perder as estribeiras. Não aguentando as vaias do público, ficou puto, quebrou a viola e jogou-a à plateia. Os organizadores do festival, inclusive, ficaram preocupados, pensando que aquilo poderia ter ferido alguém.

Impressionante como Chico Buarque era um símbolo sexual para as mulheres na época. E ele acabou ficando sozinho quando da criação da Tropicália. Ele acabou se sentindo um velho, enquanto os outros eram os jovens, os revolucionários. Outro que parecia sozinho e um pouco estranho naquilo tudo era Roberto Carlos. Que contou que a canção escolhida para ser interpretada por ele não foi ideia dele. Ele apenas aceitou. E se saiu melhor do que a encomenda, interpretando um samba.

E interessante ver, durante os depoimentos, que nem sempre os entrevistados se mostram tão seguros. As palavras saem difíceis. Especialmente de Gilberto Gil e de Chico Buarque. É como se os diretores quisessem mostrar a insegurança desses artistas para aproximá-los mais da audiência. E acredito que conseguiram.

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