domingo, abril 25, 2010

O CORTE NO TEMPO: A MAGIA DA EDIÇÃO DE FILMES (The Cutting Edge: The Magic of Movie Editing)























Quando Ana Maria Bahiana esteve aqui em Fortaleza para ministrar o curso "Como Ver um Filme", uma das ferramentas que ela usou foi o documentário THE CUTTING EDGE, cujos trechos eram apresentados com legendas em inglês mesmo. Nos Estados Unidos, o documentário saiu num único DVD. Aqui no Brasil, ele foi incluído numa edição especial dupla de BULLIT, de Peter Yates. Que, aliás, também conta com um outro ótimo documentário, sobre Steve McQueen.

O CORTE NO TEMPO: A MAGIA DA EDIÇÃO DE FILMES (2004), de Wendy Apple, é uma aula de edição. E apesar de já começar mostrando uma cena de um dos filmes da franquia MATRIX, começa pra valer mesmo mostrando a evolução das técnicas de edição desde a aurora do cinema. Acredita-se que o primeiro cineasta a usar da montagem para fins narrativos - e por isso é considerado o "pai da montagem" - seja Edgar S. Potter, diretor de THE GREAT TRAIN ROBBERY, produção lá do comecinho do século XX. E, se Potter foi o pai da montagem, Griffith foi o pai do cinema clássico, modernizando e aperfeiçoando as técnicas. Em pouco tempo, todo mundo já estava familiarizado com os close-ups, as ações paralelas e os flashbacks.

Para os irmãos Lumière, no entanto, o cinema era uma invenção sem futuro, pois quem continuaria pagando para ver trens chegando em estação e coisas do tipo se elas poderiam ver a mesma coisa ao vivo? Mas aí vieram caras como Potter, D.W. Griffith e Georges Méliès – que, se eu não me engano, não é citado no documentário – e provaram o contrário.

Até a época do cinema mudo, a função de edição era praticamente das mulheres. Para os técnicos do cinema, a edição era como costurar. A coisa mudou um pouco a partir do cinema falado, mas ainda assim é possível destacar inúmeras montadoras de renome, como Thelma Schoonmaker, a parceira de Martin Scorsese, e a recém-falecida Dede Alen, mais conhecida por seu trabalho revolucionário em BONNY & CLYDE – UMA RAJADA DE BALAS, de Arthur Penn. Que, inclusive, tem cenas destacadas no documentário, que servem para ilustrar as inovações do cinema que a geração "Easy Rider" estava trazendo para os Estados Unidos, influenciada pelo cinema europeu. Na Europa, a Nouvelle Vague veio para quebrar as regras. E ACOSSADO, de Jean-Luc Godard, revirou a cabeça de muita gente.

Havia uma diferença que saltava aos olhos entre a edição feita nos Estados Unidos, a chamada "montagem invisível", e a realizada na Europa. Sergei Eisenstein foi um dos primeiros a trazer um novo estilo de montagem. Se os americanos queriam que o espectador esquecesse que estava vendo um filme, Eisenstein fazia questão de lembrá-lo. OUTUBRO e O ENCORAÇADO POTENKIN são dois exemplos fortes. Havia uma manipulação das emoções de uma maneira bem distinta. Tarantino, com aquele jeitão entusiasmado, diz que Eisenstein foi o primeiro "cineasta de verdade".

E já que o cinema podia trabalhar de maneira forte com as emoções do espectador, em épocas de guerra, principalmente, havia os filmes de propaganda. O mais famoso deles é O TRIUNFO DA VONTADE, de Leni Riefenstahl, que enaltecia a figura e o governo de Adolf Hitler. Brincando com essa coisa de "Que legal! Vamos morrer na guerra!", Paul Verhoeven, que chegou a ver filmes de propaganda nazista quando jovem na época da ocupação alemã na Holanda, fez o genial TROPAS ESTELARES, que usa de maneira bem sarcástica o filme de propaganda que convida as pessoas a se alistarem. Inclusive, Verhoeven também faz questão de mostrar cenas absurdamente sangrentas das lutas dos humanos com os insetos gigantes.

O documentário trata de mostrar também a complexidade de se editar o som em cenas aparentemente simples, de campo-contracampo. O exemplo em O ENCANTADOR DE CAVALOS foi bem interessante e ilustra bem essa dificuldade. Há também uma espécie de separação entre montagens em diferentes gêneros. Montar uma perseguição de carros, por exemplo, não é tarefa fácil. Mas há também destaque para a montagem de cenas eróticas. Os bons exemplos que servem para ilustrar isso estão em CORPOS ARDENTES, de Lawrence Kasdan, e IRRESISTÍVEL PAIXÃO, de Steven Soderbergh. Há sempre uma preocupação em não exagerar, afinal, isso ficaria a cargo do cinema pornográfico. Em IRRESISTÍVEL PAIXÃO há, inclusive, umas pausas bem interessantes durante as cenas entre George Clooney e Jennifer Lopez. Assistindo em um DVD player, o espectador pode até achar que é alguma falha no disco ou no aparelho.

Enfim, o texto está maior do que eu imaginava que sairia. Isso acontece quando eu tomo notas enquanto vejo um filme, prática que só costumo fazer quando vejo documentários ou comentários em áudio em DVDs. Ou filmes do Godard. :)

Agradecimentos especiais ao amigo Renato Doho pela cópia.

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