quinta-feira, janeiro 28, 2010

A VIAGEM DO BALÃO VERMELHO (Le Voyage du Ballon Rouge)























Gosto de ver o comportamento de cineastas orientais fazendo filmes no Ocidente. Gostei do olhar de Wong Kar-wai sobre a América em UM BEIJO ROUBADO; de Hideo Nakata reconstruindo o próprio trabalho em O CHAMADO 2; de boa parte dos trabalhos hollywoodianos de John Woo e Ang Lee. Hou Hsiao-Hsien não trabalhou em Hollywood, mas teve a oportunidade de dirigir uma produção francesa estrelada por Juliette Binoche no belíssimo A VIAGEM DO BALÃO VERMELHO (2007). Não foi a primeira vez que o diretor chinês mostrou um olhar estrangeiro de uma cultura diferente da sua - CAFÉ LUMIÈRE (2003) já era uma visita ao Japão e uma homenagem a Yasujiro Ozu. O novo filme é outra homenagem. Desta vez ao poético curta-metragem de Albert Lamourisse, O BALÃO VERMELHO, lançado em 1956 e recentemente relançado nos cinemas em cópias novas. O filme de Lamourisse mostrava um balão seguindo fielmente um garotinho, quase sempre no mesmo plano.

A leitura de Hou Hsiao-hsien, porém, não é tão centrada nessa situação. Há o balão vermelho, há a criança e há também a referência falada ao próprio filme, mas o filme foca em outras coisas, vistas através da personagem que seria o alter-ego de Hsiao-hsien, a jovem Song (Fang Song). Ela é uma chinesa estudante de cinema que trabalha de babá para o filho de Suzanne, a personagem de Binoche. Ela traz uma paz, uma serenidade que constrasta com o mundo estressante e tumultuado de Suzanne. E é sob a ótica de Song que vemos o filme. Hsiao-hsien tenta nos ensinar a ver, valorizado coisas que normalmente passariam batidas num filme convencional.

Sinto que já a partir da apreciação do segundo filme de Hsiao-hsien, já começo a me tornar um fã do cineasta. Há uma leveza tão agradável no modo como ele conduz seu filme que a impressão que temos é que estamos em outro estado da mente. Num estado superior, próximo da meditação. Mas há também uma certa inquietação, uma espécie de suspense, ainda que um suspense diferente. Ao posiconar sua câmera em determinado ângulo, tudo o que temos a fazer é olhar com sensibilidade e atenção para o que vemos na tela. Daí vem a expectativa. Em geral, temos uma posição privilegiada, como na sequência do afinador de pianos cego. Ou quando a câmera mostra parte da cozinha e da sala e a luz do sol iluminando a casa pela janela. São enquadramentos próximos da perfeição, onde aquilo que está fora de quadro também tem a sua importância.

E o interessante é que é perfeitamente possível amar o filme sem necessariamente amar os personagens, como acontece com ainda mais força em CAFÉ LUMIÈRE. Sabemos muito pouco do garotinho, de sua mãe e da estudante chinesa. Não precisamos nos identificar ou simpatizar com eles. Ainda assim há algo de cativante na personagem de Binoche, na sua maneira sempre agitada de lidar com o corre-corre cotidiano. E é muito bonito quando ela, depois de uma explosão de cólera com alguém, tenta se acalmar. E aí bate uma ponta de tristeza. Os planos de reflexos de janelas de vidro e de trens parecem uma obsessão de Hsiao-hsien, já que também aparecem enfaticamente em CAFÉ LUMIÈRE. É apenas o segundo filme do diretor que eu vejo e já sinto uma agradável familiaridade. Quero mais.

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