sexta-feira, novembro 13, 2009

UMBERTO D.























Um dos filmes mais importantes da história do cinema italiano e uma das obras máximas do neorealismo, UMBERTO D. (1952) continua comovendo as plateias de todo o mundo. Dirigido por Vittorio De Sicca, que já havia mexido com as emoções de milhões com LADRÕES DE BICICLETA (1948), o filme trata da velhice, da solidão e do abandono com uma sensibilidade rara. Eu já tinha muita vontade de ver o filme e fiquei mais ainda quando vi um trecho comentado por Martin Scorsese em seu documentário sobre o cinema italiano. Na época da realização de UMBERTO D., a Itália ainda não havia se reerguido de sua desastrosa incursão na Segunda Guerra Mundial, mas estava mostrando ao mundo um cinema admirável, nascido das cinzas e cheio de beleza. E que se tornaria o melhor do mundo na década seguinte.

Uma das principais características dos primeiros filmes neorealistas era a utilização de um elenco não-profissional. Carlo Battisti, o protagonista de UMBERTO D., fez o seu primeiro e único trabalho como ator neste filme de efeito devastador. Ele interpreta um senhor aposentado morando em Roma com seu cãozinho num quarto alugado de pensão. Quando o filme começa, ele já se encontra numa situação financeira crítica, com vários meses de aluguel atrasados e com a dona do imóvel ameaçando-o de despejo. O escasso benefício que recebe não é suficiente para pagar as suas contas e ele segue vendendo coisas de que ele gosta muito, como o relógio que guardava como uma relíquia. Sua melhor amiga é a empregada de sua senhoria, que se encontra grávida de um soldado americano e que teme ser demitida assim que a patroa descobrir.

O filme segue o ancião em sua triste luta. Os momentos mais dilaceradores são a cena em que Umberto tenta deixar o seu cãozinho com outra pessoa e aquela em que ele simula viver como um mendigo. Se o filme não me fez chorar como LADRÕES DE BICICLETA talvez seja por não ter nenhuma cena tão melodramática quanto a da atitude desesperada do pai do menino perto do final. Trata-se, porém, de um filme de uma sofisticação maior, um tanto mais contido e contando com um cuidado técnico mais apurado. Afinal, com o sucesso internacional obtido com LADRÕES..., De Sicca pôde realizar um filme com mais recursos, mas com seu estilo e ética intactos. E como não se emocionar com aquele final? Se o mundo é um lugar tão difícil de viver e as pessoas e as instituições desrespeitam os idosos, o amor, ainda que seja por um cãozinho, acaba sendo suficiente para manter a vontade de continuar a luta que é viver sem dinheiro, sem família e sem amigos.

P.S.: O site Pipoca Moderna apresenta hoje uma seleção de 13 filmes de horror lançados recentemente em DVD no Brasil para ver na sexta-feira 13. Eu participo com algumas minirresenhas.

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