sexta-feira, outubro 23, 2009

PACTO SINISTRO (Strangers on a Train)



Foi a terceira vez que vi PACTO SINISTRO (1951). Havia visto duas vezes no Corujão e só resolvi rever mesmo por causa da Edição Especial em dvd lançada pela Warner. É o filme de Hitchcock que recebeu o melhor tratamento pela companhia, que se caracterizou por lançar os filmes do mestre do suspense com qualidade mas sempre com poucos extras, diferente dos recheados dvds da Universal. PACTO SINISTRO ganhou um dvd duplo com luva contendo, além de vários extras, uma versão alternativa do filme, a chamada versão de pré-estreia, que tem pouca diferença com a versão oficial, terminando com a cena da namorada do protagonista recebendo, emocionada, boas notícias, isto é, sem o bem humorado epílogo. Eu, nadando contra a maré, gosto mais do final da versão alternativa, já que não vejo muita graça na piadinha do final oficial, por mais que seja coerente com o tom do filme, que se mostra, ao longo de sua metragem, um produto para não se levar tão a sério. Que o diga o garotinho rindo na famosa sequência do carrossel descontrolado. Em certo sentido, entendo a preferência por um final engraçadinho, já que num todo PACTO SINISTRO está mais para uma comédia de humor negro.

Mesmo analisando por esse aspecto, PACTO SINISTRO não está entre meus Hitchs favoritos. Digo isso pois sei o quanto o filme é tido por muitos como uma das obras-primas do mestre. Embora eu, racionalmente, veja inúmeras qualidades no filme e lembre de momentos inesquecíveis e marcantes, PACTO SINISTRO não provoca em mim taquicardias ou algo do tipo como ocorre em outras obras. É um filme que eu vejo como uma diversão leve e que repete várias das obsessões do cineasta, como a de conversar sobre um assassinato perfeito. No caso desse filme, há o "cris-cross", a troca de assassinatos cometidos por pessoas estranhas e idealizado pelo maluco Bruno Anthony, vivido por um excepcional Robert Walker.

Falando em Walker, nenhum dos documentários presentes no dvd fala da curiosidade mórbida acerca de sua morte. Só comentam sobre o seu problema com o alcoolismo e sua morte repentina. PACTO SINISTRO foi o seu penúltimo filme. Ele faleceu durante as filmagens de NÃO DESONRES O TEU SANGUE, o que deixou o diretor Leo McCarey numa situação complicada e tendo que fazer algo inusitado: aproveitar filmagens da morte de Walker no filme de Hitchcock para matar o personagem em seu filme. Lembro que escrevi sobre isso e sobre outras mortes em cena num texto para o Cinema com Rapadura anos atrás. Fiquem à vontade para conferir, caso não tenham lido ainda.

PACTO SINISTRO representa uma recuperação nas bilheterias e na carreira de Hitchcock, que viveria nos anos 50 sua fase mais produtiva e feliz. O filme também marca o início da parceria com o diretor de fotografia Robert Burks, que trabalharia em quase todos os trabalhos seguintes de Hitchcock. Alguns momentos do filme são brilhantes, como a cena do assassinato no parque de diversões. O interessante dessa cena é que Hithcock, ao mostrar os últimos suspiros da mulher através de uma lente dos óculos caídos no chão e de maneira bem estilizada, me fez lembrar os filmes de Dario Argento, que mostram assassinatos trazendo bem mais prazer estético do que um sentimento incômodo para o espectador. O que não deixa de ser algo assustadoramente fascinante. A cena do isqueiro é o momento de maior cumplicidade entre o espectador e o vilão, no sentido de que o público passa a torcer pelo vilão naquele momento. Como a sequência do telefonema em DISQUE M PARA MATAR (1954).

Já a conclusão do filme, não me pareceu tão boa. Fico imaginando se Hitchcock fosse mais fiel ao romance de Patricia Highsmith e fizesse com que o personagem de Farley Granger realmente matasse o pai de Bruno. Seria mais trágico e ainda mais sombrio. Mas talvez não fosse tão fiel ao estilo de Hitchcock e o seu gosto por homens inocentes acusados por um crime que não cometeram.

Na edição especial, o dvd traz, além da já citada versão para pré-estreia e do comentário em áudio de Peter Bogdanovich e dois outros convidados, um documentário de 36 minutos analisando o filme, um outro pequeno de 6 minutos sobre o ponto de vista da vítima, uma divertida avaliação do filme por M. Night Shyamalan e 10 minutos de imagens e de depoimentos de familiares de Hitchcock sobre como ele era no lar.

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