quarta-feira, setembro 30, 2009

VIDAS SEM RUMO (The Outsiders)



Mas que beleza de filme que é este VIDAS SEM RUMO (1983), hein! Fui vê-lo mais como uma homenagem a Patrick Swayze, falecido nos últimos dias, e dei de cara com um dos mais belos trabalhos da filmografia de Francis Ford Coppola. Começo a achar que a década de 80 na obra do cineasta é subestimada ou incompreendida. Talvez seja preciso um pouco mais de esforço para tentar entender esse período pouco apreciado na carreira de um dos cineastas mais importantes do cinema americano. VIDAS SEM RUMO é o JUVENTUDE TRANSVIADA de Coppola. Um filme que mostra a falta de rumo e de uma vida sem sentido de um grupo de jovens que aparecem o tempo todo atordoados, como se tivessem acordado em outro mundo. Essa sensação de deslocamento é sentida durante todo o filme e talvez até mesmo durante toda a obra do diretor na década de 80, onde predominam os filmes de época ou filmes que voltam ou flertam com o passado.

O filme impressiona pelo número de astros que, até então, não eram exatamente famosos, mas que se tornariam nos anos seguintes: C.Thomas Howell, Matt Dillon, Ralph Macchio, Patrick Swayze, Rob Lowe, Emilio Estevez, Tom Cruise e a belezura da Diane Lane, que é um caso especial, já que se tornou famosa mesmo só depois dos quarenta. Ainda que ela continua linda na fase madura, vê-la novinha é um colírio. Cada um desses atores teve uma história diferente e curiosa, mas só Tom Cruise alcançou o estrelato. E é impressionante como o personagem dele é bobo e quase sem função no filme. Na verdade, todos os personagens do filme não são nada inteligentes, mas isso acentua o fato de que são quase crianças, despejados num mundo hostil. Até a figura dos pais é ausente, já que os personagens de C. Thomas Howell e Rob Lowe são praticamente criados pelo irmão mais velho, vivido por Patrick Swayze.

A trama principal gira em torno de um assassinato cometido por um dos rapazes da turma. Os dois envolvidos fogem para um lugar distante, onde se escondem da polícia e de membros da outra gangue, que querem vingança. É nesse momento que Coppola explora mais sua paleta de cores na bela fotografia em technicolor, que faz o céu parecer o céu de filmes como E O VENTO LEVOU, que aliás é uma referência explícita. O personagem de Ralph Macchio compra um exemplar do livro de Margaret Mitchell para ler durante o período em que se encontram foragidos. Além das belas imagens do céu e da linda fotografia em scope - aliás, que bom que eu só vi VIDAS SEM RUMO agora, nessas condições, num dvdrip, e não no velho vhs que amputava o filme -, o filme ainda conta com a música de Carmine Coppola, pai do diretor, que compôs uma bela canção em parceria com Stevie Wonder, que abre os belos créditos iniciais. Tudo parece muito luxuoso e elegante hoje em dia. Não sei se foi visto assim na época que foi lançado.

Algumas cenas são bem memoráveis, como a sequência do assassinato na fonte, quando Coppola utiliza o vermelho na água, enchendo a tela; as cenas da turma no drive-in; as imagens à distância, em especial a da cena em que Diane Lane chega de carro e a fotografia destaca as sombras e o céu avermelhado. Todo o tom excessivamente melodramático e carregado que Coppola imprime parece uma tentativa (bem sucedida) de fazer um filme como se estivesse no fim dos anos 50 ou início dos 60, antes do chamado "fim da inocência". Enfim, um belo filme. Quanto a Patrick Swayze, que foi a desculpa para eu ver o filme, ele está muito bem na fita.

terça-feira, setembro 29, 2009

GET THRASHED - THE STORY OF THRASH METAL



O meu interesse por rock pesado começou lá por volta de 1990. Foi mais ou menos na época que o Guns N' Roses estourou. No mesmo ano eu conheci um colega da escola que me apresentou a um monte de bandas de metal, tais como Metallica, Iron Maiden, Helloween, Megadeth, Anthrax. Dessas, a que me conquistou de vez mesmo, a ponto de até hoje eu acompanhar a carreira, ainda que com menos entusiasmo, foi o Metallica. Mas talvez seja porque o Metallica transcendeu o thrash metal, soube se reinventar no histórico ano de 1991, ano em que também surgiu o furacão chamado Nirvana e o revolucionário ACHTUNG BABY, do U2. Mas vou tentar me concentrar apenas no thrash metal, já que esse é o tema do documentário GET THRASHED - THE STORY OF THRASH METAL, que começou a passar em festivais em 2006 e foi lançado em dvd nos Estados Unidos no ano passado.

GET THRASHED tem uma aura saudosista ao falar, através de depoimentos de membros de bandas e de fãs e de imagens de arquivo, dos anos dourados do thrash metal, que tem como ano base 1983, o ano do lançamento de KILL'EM ALL, o álbum de estreia do Metallica. O tipo de som que o Metallica apresentou nesse álbum era algo então inédito. Trouxe mais ferocidade para o metal, com um som onde predominava a velocidade e o peso. Depois, o próprio Metallica foi deixando um pouco de lado a crueza do seu álbum de estreia e lapidando mais o seu som, a cada novo disco. Vale dizer que a trajetória do Metallica até o "álbum preto" (1991) é invejável. Mesmo aqueles que implicaram com os novos rumos que a banda tomou a partir da década de 90 reconhecem a importância decisiva da banda para o estabelecimento daquele novo som que surgia na Califórnia e que tomou de assalto o mundo. Isso, sem ter nenhum apoio de rádios, já que o som era bem anticomercial e as bandas se mantinham com a vendagem dos discos e com os calorosos shows.

O documentário começa mostrando a cena thrash em Los Angeles e San Francisco, que trazia, além do Metallica, o Megadeth e o Slayer. O Megadeth surgiu depois que Dave Mustaine levou um pé na bunda dos membros do Metallica e resolveu formar a sua própria banda. Já o Slayer trouxe o thrash metal para um novo patamar, ainda mais agressivo e destruidor. Completando o quadrado das "big four", surge também o Anthrax, em Nova York. O diferencial do Anthrax era a utilização de vocais mais melódicos, em comparação com o que era então utilizado pelas outras bandas. Vale destacar que o thrash metal também tinha todo o cuidado musical que o heavy metal tradicional também tinha.

Depois de mostrar a cena californiana e novaiorquina, o documentário mostra o thrash metal ao redor do mundo. Alemanha, Canadá, Austrália e até o Brasil, com o Sepultura, foram lembrados rapidamente no documentário. O que causa o início do fim no gênero é o fenômeno Nirvana. De repente, as bandas grunge de Seattle que inicialmente abriam para as bandas de thrash metal nos shows (caso do Alice in Chains) foram alçadas ao estrelato e dominaram a atenção dos fãs de rock pesado. O thrash parecia ter ficado para trás e só passou a ser seguido pelos fãs mais fiéis, já que o próprio Metallica também já havia abandonado o estilo, à procura de um novo som. O thrash metal acabou sobrevivendo na fusão com outros estilos, fazendo com que uma banda como o Pantera conseguisse espaço naquela época.

Como vivi mais a década de 90 na música do que qualquer outra década, não tenho esse saudosimo dos tempos áureos do thrash metal oitentista, já que eu comecei a acompanhar quando o estilo já estava em declínio. E, pra falar a verdade, depois que fui conhecendo bandas mais sentimentais, como os Smiths, the Cure, o próprio U2 e o rock mais básico dos Ramones e das novas bandas punk que surgiam, ao mesmo tempo que ia descobrindo os clássicos (Beatles, Led Zeppelin, Rolling Stones, The Doors, Bob Dylan) e as bandas que surgiram na década de 90, fui deixando um pouco de lado meu interesse pelo metal. Que hoje se resume a Metallica e de vez em quando a uma audição de CHAOS A.D., do Sepultura. Mas, mesmo tendo ficado para trás, lembro com carinho daqueles anos de descoberta de um som que eu não sabia que existia e que era/é ao mesmo tempo tão rico e empolgante.

segunda-feira, setembro 28, 2009

OS VIVOS E OS MORTOS (The Dead)



Não estava nos meus planos ler James Joyce tão cedo. Afinal, minha rotina não tem me possibilitado ler algo tão denso, levando em consideração que a principal referência do escritor para mim era ULISSES. Mas eis que, num exercício de tradução para o curso de especialização, tive que traduzir "As Irmãs", o primeiro conto de DUBLINENSES. Fiquei extasiado com o conto e com o estilo de Joyce e resolvi comprar o livro. Descobri que havia contos ainda melhores, como os maravilhosos "Arábia" e "Eveline" e o excelente "Contrapartida". Os personagens de Joyce são todos acometidos de uma frustração pela vida, embora em quase todos os contos, eles experimentem, em alguns momentos, o que ele chama de epifania, palavra-chave para a obra, mas que não lembro de ter aparecido em "Os Mortos", o último e mais extenso conto do livro e o escolhido para ser adaptado por John Huston.

OS VIVOS E OS MORTOS (1987), filme-testamento dirigido quando o cineasta estava com a saúde bastante debilitada, é uma reflexão sobre a vida e a morte. Na verdade, vai além disso. Há muito mais a ser visto e explorado nesse conto amargo, transposto com sensibilidade, carinho e esforço por Huston. A desvantagem de se ver um filme adaptado logo depois de ler o texto original é fazer as tradicionais comparações entre literatura e cinema. Nos livros, o autor mostra explicitamente os pensamentos dos personagens, enquanto o cinema tenta mostrar isso com imagens e diálogos. Os pensamentos quase sempre devem ser compreendidos pelo espectador através das imagens. E nem sempre o diretor e o roteirista conseguem passar para o espectador o que o personagem está sentindo. O que de certa forma pode enriquecer e tornar a obra mais plural, pois cada espectador pode pensar o que quiser, mas no caso de obras adaptadas podem soar como falhas.

A minha maior curiosidade era saber o que Huston faria para tornar o final de seu filme tão belo, triste e impactante como é no livro, com as palavras finais do personagem de Gabriel (Donal McCann), escritas com tanta habilidade por Joyce. E eis que Huston não teve outra solução a não ser copiar as palavras finais do conto para encerrar o seu filme. Foi ao mesmo tempo uma escolha humilde e sábia. Não havia como transformar os pensamentos profundos de Gabriel em imagens. E assim, a melhor parte do conto, que mostra Gabriel e Gretta (Angelica Huston) no caminho de volta para o hotel, se não ficou tão belo quanto nas palavras de Joyce, o resultado nas telas foi bem satisfatório.

Aliás, eu fiquei achando que Huston iria alongar o conto, mas na verdade, o tamanho da obra foi perfeito para o cinema. Diferente de adaptações de romances, que costumam cortar trechos das obras ou apressar eventos, Huston conduziu seu filme sem nenhuma pressa, com um ritmo cadenciado e respeitando cada personagem, com especial carinho pelas duas tias idosas. Joyce, apesar de demonstrar seu desapego ou mesmo ódio por Dublin, ele demonstrava compaixão pelos perdedores, que são os grandes protagonistas de cada pedrada contida em DUBLINENSES. E uma das vantagens do filme em relação ao livro é poder se dar ao luxo de mostrar uma canção irlandesa cantada por uma senhora idosa ou outras músicas de época tocadas durante a festa, muito provavelmente feitas após cuidadosa pesquisa.

Huston até pode ter tido uma carreira cheia de altos e baixos, mas demonstrou gosto pela literatura e tentou corajosamente fazer filmes de obras bem ambiciosas, como MOBY DICK (1956) e até o livro de Gênesis - A BÍBLIA (1966).

sexta-feira, setembro 25, 2009

FESTIM DIABÓLICO (Rope)



A primeira vez que vi FESTIM DIABÓLICO (1948) foi logo no início de minha cinefilia. Foi numa Sessão de Gala da Rede Globo. O impacto do filme naquele momento foi imenso em mim. Tive uma espécie de taquicardia que durou mais de uma hora. Fui picado pelo veneno de Alfred Hitchcock e sua capacidade de nos tornar cúmplices de seus personagens que cometem um crime. Tanto o uso do plano-sequência "contínuo", quanto o fato de ter um cadáver na sala de estar enquanto pessoas tomam champagne me deixaram bem excitado. Durante muito tempo, FESTIM DIABÓLICO foi o meu filme favorito de Hitchcock. Aos poucos foi perdendo a posição para outros. Na revisão, no dvd da Universal, o filme caiu um pouco no meu conceito, embora ainda veja inúmeras qualidades na obra. Diferente de DISQUE M PARA MATAR (1954), por exemplo, que cresce exponencialmente com a revisão, em FESTIM DIABÓLICO podemos ver falhas na segunda vez que vemos o filme. Mesmo assim, trata-se de uma das obras mais importantes da carreira do mestre do suspense, graças à sua radicalidade formal.

E o engraçado é que, eu na minha ingenuidade, não havia percebido as conotações homossexuais presentes na obra. Nem mesmo na segunda vez que vi o filme percebi isso. Por isso a surpresa, quando vi o documentário de Laurent Bouzereau, em que esse é o principal tema abordado. FESTIM DIABÓLICO seria um filme sobre esse tema-tabu. Inclusive, inicialmente, Hitchcock queria Cary Grant e Montgomery Clift no elenco. Mas os astros, até por serem gays, não queriam ter os seus nomes envolvidos numa produção que abordava o assunto. Nos Estados Unidos da década de 40, ser homossexual era quase como ser um leproso. Assim, a figura máscula de James Stewart acabou por deixar essa conotação homo bem menos evidente e acabar com uma possível sugestão de que o seu personagem era um professor que havia tido relação sexual com um dos alunos.

FESTIM DIABÓLICO também foi o primeiro filme em cores de Hitchcock. Mas as cores são bem discretas, o que, de certa forma, é bom para que a plateia fique mais ligada na trama de suspense do que na beleza das imagens. Se bem que no já citado DISQUE M PARA MATAR vimos que é possível ao mesmo tempo admirar a beleza das cores e ainda ficar eletrizado pelo suspense. Nos anos 40, a década do film noir, a tendência ainda era usar bastante o preto e branco. Até pela facilidade de mover a câmera, entre outros problemas que o technicolor gerava no início. Vi uma imagem de uma câmera em cores da época ligada a uma dolly e, meu Deus, aquilo ali era monstruoso de tão grande. Com certeza deu muito trabalho para movimentar aquilo dentro de um espaço relativamente pequeno do apartamento. O uso do som direto também é um destaque do filme e foi uma das coisas a serem comentadas na entrevista de Hitchcock para François Truffaut. Aliás, quase tudo sobre o filme que eles conversaram foi a respeito de detalhes técnicos, como as nuvens suspensas por fios. O que não deixa de ser fascinante, como são todas as soluções originais encontradas por Hitchcock para construir seus filmes.

quinta-feira, setembro 24, 2009

MOSCOU



Não gosto desta nova fase de Eduardo Coutinho. Aliás, gostei de JOGO DE CENA (2007), mas não tanto quanto de seus filmes de formato mais "tradicional", os que registram momentos brilhantes de seus entrevistados. A obsessão pela interpretação da pessoa diante da câmera parece não ter feito tão bem ao cineasta. Por mais que seja louvável a tentativa de se reinventar sempre e assumir riscos, que já são grandes em qualquer documentário que lide com o acaso, não foi dessa vez que o tatear de Coutinho encontrou o interruptor. Talvez o filme que eu mais goste dele (entre os que vi) seja O FIM E O PRINCÍPIO (2005), onde ele mostra essa busca por algo que ele não sabe bem o que é e tem um resultado final, mais do que satisfatório, tocante.

O namoro com o teatro a partir de JOGO DE CENA o levou ao novo projeto: MOSCOU (2009), um registro dos bastidores de um ensaio de excertos da peça "As Três Irmãs", de Tchekhov, encenado por uma equipe num curto espaço de tempo e sem a intenção de estrear. Mas MOSCOU não é apenas um documentário sobre um ensaio de uma peça. Ele se pretende mais que isso. Mesclando falas da peça com depoimentos do elenco, o diretor tenta extrair das próprias experiências pessoais dos atores sentimentos reais. Mas como o próprio Coutinho diz que todos somos atores, o sentimento que o ator exprime enquanto está recitando a fala de uma personagem pode ser tão ou mais verdadeiro do que aquela experiência real contada em frente a uma câmera.

Não deixa de ser algo fascinante, mas não vi praticamente nada nos quase 80 minutos de MOSCOU - que é o que foi selecionado de 80 horas de gravações - que tenha me emocionado. Na verdade, achei tudo muito chato. Não embarquei na viagem do diretor dessa vez. Como acredito que muita gente não vai embarcar. Mesmo quando imagino: "se eu tivesse lido ou visto a peça de Tchekhov teria tido uma experiência muito melhor", ainda assim, creio que um filme deve existir por si só. Não se trata aqui de um filme cheio de referências culturais e intelectuais como os trabalhos de Godard, mas de um filme que tem apenas uma peça como eixo. Mas vai ver eu não tenha entendido a proposta do filme. E por entender, eu me refiro a entender com os sentimentos, não só com a cabeça.

quarta-feira, setembro 23, 2009

EU TE AMO, CARA (I Love You, Man)



"Você, meu amigo de fé, meu irmão camarada..." Acho que nenhum outro artista vai representar tão bem o amor entre amigos quanto o Rei Roberto Carlos e seu popular e emocionante clássico. Mas isso não quer dizer que outros não possam celebrar esse sentimento tão bonito através da arte. E o cinema, em especial as novas comédias americanas, têm trabalhado com o tema da amizade entre homens de forma bem recorrente, puxados principalmente pelos filmes produzidos ou dirigidos por Judd Apatow, como LIGEIRAMENTE GRÁVIDOS e SEGURANDO AS PONTAS. Mas não foi Apatow quem fez o melhor filme sobre o tema na atualidade e sim o diretor de QUERO FICAR COM POLLY (2004), John Hamburg.

EU TE AMO, CARA (2009) nos apresenta um sujeito que cresceu sem nunca ter um amigo. Ele (Paul Rudd) sempre teve namoradas e relacionamentos duradouros e estáveis. Nunca teve tempo de cultivar uma amizade masculina. Mas só percebe isso quando está prestes a se casar e sente uma grande dificuldade em encontrar um padrinho para o seu casamento. Ele passa, então, a ir em busca de um amigo, o que gera algumas situações bem engraçadas, já que é muito fácil um dos supostos novos amigos que ele procura, principalmente pela internet, achar que ele não quer só amizade. É tudo muito difícil até o dia que ele tem a sorte de encontrar um sujeito legal (Jason Segel, de RESSACA DE AMOR e da série HOW I MET YOUR MOTHER). E assim como acontece quando conhecemos uma garota, o protagonista também fica na dúvida se deve ou não ligar para o cara, para tomar uns drinks, já que, por experiência própria, chamar homem pra jantar pode não ser uma boa ideia.

O filme aproveita vários dos clichês das comédias românticas e transfere para o que foi chamado de "bromance", um filme sobre duas pessoas que se amam, mas um amor fraternal. E diferente dos filmes de Apatow, que faziam piada desse tipo de coisa, quase insinuando uma relação homossexual, EU TE AMO, CARA leva um pouco mais a sério a situação. Há momentos, por exemplo, quando os dois amigos ficam sem se falar, que fica mesmo um clima tenso no ar, como numa briga de namorados.

Eu tive a sorte de sempre ter poucos, mas especiais amigos. E uma das maiores virtudes da amizade, em comparação com uma relação de namoro ou sexo com uma mulher, é a sua durabilidade. Eu, por exemplo, tenho um grande amigo de infância que, apesar da distância - hoje ele é casado, mora longe, cuida do filho e tem uma série de problemas -, quando nos vemos, nem que seja uma vez por ano, o papo é sempre muito bom. E uma coisa que eu tenho constatado e que contraria o que eu tinha visto em séries como SEINFELD e A SETE PALMOS é que é possível sim cultivar novas amizades depois dos 30 anos. Até porque é até preciso fazer isso quando os amigos da sua idade já estão quase todos casados ou distantes. Mas sei também que, dependendo do amigo, estar casado não é obstáculo para continuar se vendo com frequência.

Agradecimentos especiais ao amigão Zezão pela cópia.

P.S.: Uma nova revista digital está disponível para apreciação dos cinéfilos. Trata-se da Foco - Revista de Cinema, desenvolvida por Bruno Andrade e que já começa com o pé direito, fazendo uma radiografia da obra de Samuel Fuller.

terça-feira, setembro 22, 2009

A ÓRFÃ (Orphan)



O sábado até que foi movimentado. A intenção inicial era ver MOSCOU, de Eduardo Coutinho, mas as coisas mudaram ao ritmo das circunstâncias. Meio que sem planejar muito e por uma questão de horário, depois de comer um peixinho frito lá na casa do amigo Santiago, passei no Iguatemi para encarar uma sessão dupla de filmes de terror com censura 18 anos: A ÓRFÃ (2009) e ANTICRISTO. À noite, fui aos shows de duas bandas suecas do projeto Invasão Sueca, lá na Órbita, em companhia do Murilo e do Alex. (Soube ontem através da Alê que o mesmo projeto está rolando em São Paulo também.) Costumo sempre sair um pouco insatisfeito do lugar, não sei bem qual a razão, mas dessa vez até que eu saí mais animado, já que os shows foram bons. As bandas, Britta Persson e Those Dancing Days, me agradaram bastante, apesar de eu não conhecer nada do som delas. Apesar de Those Dancing Days terem feito um show mais animadinho - era quase como se estivéssemos no começo dos anos 80, no auge da new wave -, e terem feito uma cover inusitada de "Toxic", da Britney Spears, eu gostei mesmo foi da Britta Persson e seu som mais intimista.

Quanto ao A ÓRFÃ, apesar de ter as suas falhas e de ter clichês tão manjados que chegam às vezes a incomodar, o filme superou as minhas expectativas, que eram baixas. E felizmente há muito mais do que o fraco trailer julga crer. Recentemente, meu interesse pelo filme foi crescendo, por causa de uns comentários que li, onde um sujeito chegou a dizer que o filme era a melhor produção da Dark Castle até o momento. Tudo bem que a companhia ainda não tem nenhum grande filme - o melhor, talvez seja justamente A CASA DE CERA (2005), do mesmo Jaume Collet-Serra de A ÓRFÃ -, mas desde que foi fundada sempre torci pelo seu sucesso.

A ÓRFÃ causou certo incômodo em organizações de adoção nos Estados Unidos. É o tipo de filme não recomendado para casais que planejam uma adoção. Engraçado que quando eu entrei na sala, sentei numa fileira em frente de uma senhora que estava acompanhada de uma adolescente. Até achei estranho terem deixado a menina entrar, pela classificação do filme, mas parece que acompanhada de um dos pais isso é permitido. Antes de o filme começar, a senhora conversava com a menina sobre as supostas razões de a órfã do filme ter se tornado tão malvada - isso sem ter visto o filme ainda. Entre as razões, ela explicava que era talvez porque a menina havia sofrido maus tratos e não tinha aprendido a perdoar. Mal sabia ela que o filme não estava muito preocupado em buscar razões para o fato de a menina ser uma psicopata. Na verdade, há sim uma explicação-surpresa para o mistério de Esther, mas passa longe de psicologismos.

Isabelle Fuhrman faz com vigor o papel de Esther, uma garota estranha, que usa vestidos fora de moda e umas fitas pretas cobrindo o pescoço e os pulsos. Vale também destacar a interpretação de Vera Farmiga (de OS INFILTRADOS) como a mãe adotiva de Esther. O prólogo, com ela entrando grávida no hospital é chocante e tem o tom exato de pesadelo. O fato de ela ter um passado de problemas com o álcool e de quase ter matado a sua filha pequena num acidente por causa de seu vício a torna uma das personagens mais interessantes do filme. Já o marido (Peter Sarsgaard), até por ser mais facilmente manipulado por Esther, parece um personagem bobo e mal construído, mas que serve aos propósitos do filme.

Dando uma olhada nas cenas que foram excluídas das primeiras versões do roteiro no IMDB, nota-se que todas as escolhas foram sábias e feitas para tornar o filme mais ágil. Apesar de não ser um filme que "sai junto" com o espectador da sessão, A ÓRFÃ é um belo trabalho, cheio de surpresas e que, em momento algum, deixa o espectador aborrecido. Pelo contrário, o fato de vermos tanto o ponto de vista da menina psicopata quanto de suas vítimas faz com que nos tornemos espectadores impotentes, sem poder fazer nada a não ser torcer para que a família consiga escapar das maquinações e maldades de Esther.

segunda-feira, setembro 21, 2009

ANTICRISTO (Antichrist)



Saí da sessão de ANTICRISTO (2009) sem saber se gostei ou não do filme. Em poucas palavras, posso dizer que não fiquei entusiasmado, mas que enxergo várias qualidades na obra. Mas mesmo as qualidades, eu encaro com um pé atrás, como se eu desconfiasse de Lars von Trier, como se ele fosse uma espécie de enganador, farsante, ou algo do tipo. O último filme dele que eu gostei de verdade foi OS IDIOTAS (1998). Tanto DANÇANDO NO ESCURO (2000) quanto DOGVILLE (2003) eu odiei e nem quis ver seus trabalhos seguintes. Por isso que eu acho que foi uma ótima sacada do diretor fazer um filme "de terror" com cenas chocantes. Se a tal trilogia da América já não estava interessando nem aos fãs do diretor, o que parece que foi um dos motivos de ele ter entrado em depressão, nada como sair de uma doença com um projeto novo e ousado. Ao menos, indiferente ninguém sai da sessão. Aliás, von Trier sempre gostou de polêmicas e dessa vez ele precisava chamar ainda mais a atenção. E como já dizia Truffaut, um pouco de polêmica não faz mal a ninguém.

Inclusive, o que salva o filme da letargia são justamente as cenas chocantes de violência, sexo explícito e mutilação genital. O prólogo em preto e branco e em câmera lenta dá logo a entender que o diretor estava agindo com ironia. E uma ironia perversa, levando em consideração que ele estava narrando uma tragédia, a morte do filho pequeno de um casal, interpretado por Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg, atriz bastante corajosa na maneira como se expõe para a composição de seu papel. De uma mulher frágil e perturbada pela morte do filho, ela se transforma no "anticristo", ou no que von Trier acredita ser o anticristo: algo simplesmente maligno, uma maneira bem simplista de tratar um dos principais eixos da doutrina cristã. No fim, o resultado final é uma salada, onde o mais importante é o aspecto psicológico, em detrimento do sobrenatural, embora haja também elementos fantásticos, como os simbolismos em torno dos três animais.

A trama, dividida em quatro atos mais um prólogo e um epílogo, mostra a dor de uma mãe depois que seu filho pequeno salta da janela do apartamento, enquanto ela está transando com o marido. Segue-se então uma espécie de calvário da mulher, que passa por diversos estágios da depressão e da ansiedade, enquanto o marido, psicólogo, procura meios de tratá-la. Como von Trier talvez tenha passado por situação parecida, é possível que os sintomas que a mulher sente e que é mostrado no filme tenham vindo da experiência de vida do próprio diretor. O que chega a incomodar a muitos é a maneira com que ele mostra a mulher. Se von Trier já soava misógino ao fazer suas "heroínas" comerem o pão que o diabo amassou em seus filmes, em ANTICRISTO, essa impressão se torna ainda mais forte. Não apenas pelo sofrimento da mulher, mas pela maneira como ela pode se transformar num monstro e ser capaz de atos inacreditáveis. Nada que vá chocar o público acostumado a ver a franquia JOGOS MORTAIS, mas que pode chocar o espectador despreparado.

P.S.: Ontem foi dia da cerimônia do Emmy. Primeira vez que assisti a essa premiação, que não deixa de ser curiosa. Deu MAD MEN e 30 ROCK entre os prêmios principais. Só não dedico um post à premiação, porque vi com atraso e também porque não saberia falar sobre alguns prêmios relativos a programas de televisão que são quase que exclusividade dos americanos. A surpresa da noite foi o prêmio para Michael Emerson, o Ben de LOST. A beldade da noite foi Anna Torv, de FRINGE. E o momento mais hilariante foi ver Steve Carell dando gargalhada com uma presepada de Jimmy Fallon no palco.

P.S.2: Recebi por e-mail um pedido de divulgação para o novo filme de Roberto Moreira, QUANTO DURA O AMOR?, que tem estreia prevista para o dia 02/10 e conta no elenco com Silvia Lourenço, Danni Carlos e Paulo Vilhena. Como gostei de CONTRA TODOS, estarei lá para prestigiar o novo filme. Segue link para o trailer.

sexta-feira, setembro 18, 2009

UP - ALTAS AVENTURAS (Up)



Vou ter que nadar contra a corrente e ser contrário à opinião geral de que UP - ALTAS AVENTURAS (2009) está entre os melhores trabalhos da Pixar. O filme até que me animou no começo, com aquele prólogo belo e sensível sobre a vida do protagonista com o amor da sua vida, mas toda a aventura dele com o garotinho na casa com balões me provocou mais tédio do que qualquer outra coisa. Acho que tem algo nessas aventuras juvenis mais convencionais, dessas com música de aventura - no caso de UP, de autoria do sempre competente Michael Giacchino -, que me dá um sono, um desinteresse que chega a me incomodar. Lembrei, inclusive, de minha relação com a quarta aventura de Indiana Jones, que pra mim não foi uma boa experiência.

Em compensação, o curta de seis minutos que passa antes do filme é uma beleza. Chama-se PARCIALMENTE NUBLADO e mostra a relação entre uma cegonha e uma nuvem que produz filhotes. A nuvem é responsável por produzir filhotes nada fáceis para a pobre cegonha carregar enquanto que as demais cegonhas pegam encomendas muito mais leves e tranquilas. O detalhe nos olhos da cegonha é tão perfeito que faz lembrar o olhar amoroso de um cachorro, cheio de inocência. Incrível como os animadores da Pixar trabalham tão bem esses detalhes que são fundamentais para trazer ternura para suas produções.

Mas voltando a UP, diria que a comparação do velhinho irritado com o personagem de Clint Eastwood em GRAN TORINO, como vem sendo comparado por aí, não procede muito. Por mais que o prólogo e a situação dele, tendo que abandonar a sua casa, seja até fácil de nos solidarizarmos, não se trata de um personagem tão cativante assim. Nem ele nem o garotinho. Claro que não dá pra dizer que eles erraram a mão. Inclusive, acredito que se eu visse o filme em outro dia, talvez até gostasse mais. Porém, vendo com distanciamento, ainda considero o filme uma das obras menores da já rica lista de grandes filmes da Pixar. Pra encerrar, arrisco um top 5 dos meus favoritos:

1. TOY STORY (1995)
2. WALL-E (2008)
3. PROCURANDO NEMO (2003)
4. RATATOUILLE (2007)
5. OS INCRÍVEIS (2004)

quinta-feira, setembro 17, 2009

UMA CANÇÃO DE AMOR (Le Chant des Mariées)



Antes de mais nada, vou reclamar mais uma vez da escura cópia digital da Rain, que prejudica a apreciação deste UMA CANÇÃO DE AMOR (2008), o mais novo trabalho de Karin Albou. E como o trabalho anterior da cineasta, o ótimo A PEQUENA JERUSALÉM (2005), tinha uma fotografia de dar gosto, dá pra imaginar o quanto se perde assistindo o filme por essa via.

Nascida na França, de uma família judia oriunda do norte da África, Albou é uma autoridade tanto em cultura hebraica quanto árabe. Em UMA CANÇÃO DE AMOR, Albou muda de tempo e espaço. Sai da França contemporânea e vai para a Tunísia de 1942, época em que a França estava ocupada pelos alemães e os judeus que viviam na colônia começavam a sentir o baque da chegada dos nazistas. A cada bombardeio anglo-americano, os líderes nazistas que já haviam tomado o país cobravam multas exorbitantes a serem pagas pelos judeus, que, vindos em sua maioria da França, faziam parte da elite do país, tendo, inclusive, preconceito com os "nativos", os africanos que adotavam o islamismo como religião oficial e modo de vida.

No meio de tanta divisão, há uma amizade bonita entre duas jovens: uma judia e uma muçulmana. Elas mantêm uma amizade desde a infância e agora que chegaram à idade de casar, a situação das duas é agravada pela guerra. O namorado de Nour, a islamita, chega a trabalhar para os nazistas. Enquanto isso, a judia Myriam sofre com a imposição da família para que ela se case com um homem que não gosta, mas que pode ajudá-los financeiramente na situação complicada em que vivem agora.

O filme ainda conta com curiosidades das duas culturas. O momento mais memorável do filme acaba sendo a cena de depilação com cera que uma das moças recebe para ficar preparada para a lua de mel. Para as brasileiras, adeptas da hoje conhecida "Brazilian wax", a cena talvez nem tenha tanto impacto, pois já faz parte da rotina, por mais doloroso que isso seja. No filme, é citado como uma preparação "à oriental", que foi como o noivo preferiu. Fica subentendido, então, que "à ocidental" seria sem depilação.

E falando nisso, lembrei que dia desses, conversando com um amigo sobre circuncisão, ele comentou que o Brasil adota o estilo francês, que é não operar o pênis, diferente dos Estados Unidos, que segue a tradição judaica de levar a faca ao pênis para retirar a pele. E falando sobre depilação e circuncisão, acabei escrevendo demais e ficando sem dar as considerações finais sobre o filme. Que é digno de interesse tanto para os aficionados pela Segunda Guerra Mundial, quanto para os interessados nas culturas judaica e islamita.

P.S.: Tem edição nova da Revista Zingu! no ar. Tem Dossiê João Callegaro e especial José Agrippino de Paula, o escritor underground que chegou a dirigir um longa-metragem: HITLER IIIº MUNDO, resenhado por Sergio Alpendre. Como destaque na seção de lançamentos em DVD, um dos meus filmes preferidos: O ESTRANHO QUE NÓS AMAMOS, de Don Siegel. Outro destaque da edição é uma matéria (assinada por Alan Smithee) que fala sobre o bestialismo no pornô nacional.

quarta-feira, setembro 16, 2009

TRUE BLOOD - A SEGUNDA TEMPORADA COMPLETA (True Blood - The Complete Second Season)



Baita decepção a segunda temporada de TRUE BLOOD (2009). Depois de ter empolgado com uma primeira temporada cheia de charme, os produtores, roteiristas e diretores da série erraram a mão e fizeram um produto tosco. Mesmo personagens amáveis na temporada passada, como os protagonistas Bill e Sookie, tornaram-se irritantes na nova temporada. Bill, então, se tornou um vampiro bobão. Mas nada se compara à nova vilã da série, Maryann (Michelle Forbes), que havia aparecido nos últimos dois episódios da temporada anterior. Toda a trama envolvendo a personagem tornou a série um show de horrores trash beirando o ridículo. Talvez por isso que, sabendo disso, os roteiristas jogaram a toalha em determinado momento e transformaram a série numa comédia. Como no momento em que Jason salva Sam da população da cidade, toda dominada pela entidade maligna Maryann, usando uma máscara e uns galhos para dizer que era o deus que viera para buscar a sua oferenda. Pelo menos, nesse momento, os responsáveis pela série tiveram o bom senso de usar de bom humor.

E pensar que a temporada começou tão bem. A começar pelos números de audiência. O primeiro episódio da segunda temporada bateu o recorde de audiência da HBO, superando o episódio final de FAMÍLIA SOPRANO, que seguia, até então, imbatível. Inclusive, o primeiro episódio veio com uma tórrida cena de sexo entre Sookie e Bill e contendo uma interessante subtrama envolvendo a vampira virgem Jessica, a melhor personagem da temporada. E falando em personagem bom, Lafayette fez tanto sucesso na temporada anterior que os roteiristas resolveram mantê-lo vivo. No livro no qual a série se baseia ele é encontrado morto logo no início da trama.

Os melhores momentos da temporada acontecem em Dallas, quando Bill e Sookie fazem uma viagem e encontram lá um vampiro bem diferente, Godric, responsável pelo momento mais emocionante da série. Quer dizer, mesmo com toda tosquice, TRUE BLOOD foi capaz de me fazer chorar. Godric, o "criador" de Eric, é uma espécie de vampiro iluminado que questiona os atos cruéis de sua raça e age como uma espécie de mártir, de santo vampiro. O que não deixa de ser mais uma inovação, que conta pontos positivos para a série. Assim como também conta pontos a criação de Jessica, que se tornou vampira quando era virgem e está fadada a ser virgem até o fim de seus longos dias como vampira. Os flashbacks mostrando o passado de Bill e Eric também estão entre as melhores coisas da temporada.

Jason, o irmão de Sookie, continua sua tradição de pegar meninas lindas. Dessa vez, em seu contato com uma igreja onde os líderes centram sua atenção na caça aos vampiros. A esposa do pastor é Sarah, uma loirinha linda que logo se engraça do rapaz, que pode ser burro mas que tem algo que atrai as mulheres. A subtrama envolvendo essa igreja e a esperada batalha entre humanos e vampiros era uma das coisas mais interessantes da temporada. Tanto que quando teve o seu desfecho, a série perdeu ainda mais o rumo. Nem a participação especial de Evan Rachel Wood nos últimos episódios, no papel de uma rainha vampira, chegou a empolgar. O final da temporada, aliás, ficou parecendo fim de novela da Globo. A única coisa que a diferencia é o fato de ter um gancho. Melhor sorte na próxima temporada, já confirmada. Ainda espero que a série volte a ser tão boa quanto era antes.

terça-feira, setembro 15, 2009

A ÚLTIMA CASA (The Last House on the Left)



Quantas refilmagens de clássicos do horror dos anos 70 e 80 Hollywood produziu nos últimos anos? Relembrando alguns títulos, sem ordem cronológica: SEXTA-FEIRA 13, DIA DOS NAMORADOS MACABRO, VIAGEM MALDITA (remake de QUADRILHA DE SÁDICOS), O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA, HALLOWEEN, MADRUGADA DOS MORTOS (remake de O DESPERTAR DOS MORTOS), A MORTE PEDE CARONA, HORROR EM AMYTIVILLE (remake de A CIDADE DO HORROR). Está faltando algum? Sempre bom listar todos esses títulos até para ver até que ponto a indústria tem apelado, devido à falta de inspiração. No entanto, esse é um recurso que já se tornou tão comum que até já nos acostumamos. O lado positivo é que algumas dessas refilmagens conseguem mesmo oferecer autênticas e viscerais experiências de horror. É o caso deste A ÚLTIMA CASA (2009), refilmagem de ANIVERSÁRIO MACABRO, produção de 1972 que marcou a estreia de Wes Craven na direção.

E é uma pena que A ÚLTIMA CASA não tenha passado pelos cinemas e esteja saindo direto em dvd. Se em casa, em uma telinha pequena (29 polegadas pra mim ainda é pequena), o filme é um espetáculo de horror e tensão, capaz de fazer o sangue gelar e o coração mudar a frequência cardíaca, fico imaginando o impacto que teria na telona. Por isso, arrisco dizer que dentre todas esses remakes, A ÚLTIMA CASA, dirigido por um cineasta grego semidesconhecido - Dennis Iliadis, com apenas um filme grego chamado HARDCORE (2004) no currículo -, foi a mais bem sucedida transposição para os dias de hoje da obra original.

Se o novo filme perde em crueza em relação ao anterior, isso se deve a uma produção mais esmerada, a muito mais dinheiro em caixa. Na verdade, o novo filme utiliza apenas o esqueleto do original e constrói um novo corpo. E falando em corpo, impressionante o quanto o corpo humano é enfatizado neste novo trabalho, seja mostrando a pele da garota saindo do banho, seja mostrando explicitamente os ferimentos. A trama básica permanece: um grupo de homens perversos sequestra, tortura e faz coisas muito más com duas garotas. Mas o filme vai além disso, em sua segunda metade, quando os criminosos vão parar na casa dos pais de uma delas. Entre as meninas, um rosto conhecido: trata-se da gracinha Martha MacIsaac, que apareceu em SUPERBAD - É HOJE.

Trocando a crueza da produção de baixo orçamento de Craven por uma sofisticação visual, mas sem perder a violência necessária para a construção de suspense e da indignação e consequente identificação, Dennis Iliadis acerta em cheio. Eu já imaginava que o filme sairia legal desde que vi o trailer, ao som de uma versão de "Sweet Child O' Mine", que não chega aos pés da original, mas que no "cartão de apresentação" funciona que é uma beleza.

segunda-feira, setembro 14, 2009

UMA PROVA DE AMOR (My Sister's Keeper)



Uma das maiores virtudes de UMA PROVA DE AMOR (2009) é assumir-se como melodrama sem medo de carregar nas tintas. É com certeza o grande filme pra se chorar do ano. De derramar lágrimas e ainda ficar com o queixo tremendo enquanto ouve o pranto do resto da audiência. O tema por si só é ao mesmo tempo comovente e controverso: uma garotinha de onze anos entra com um processo judicial contra a própria família por não mais querer ser repositora de órgãos para a irmã com câncer. A garotinha, interpretada por Abigail Breslin (PEQUENA MISS SUNSHINE), prestes a doar um rim para a irmã doente, contrata com um advogado bem sucedido (Alec Baldwin) e surpreende seus pais (Cameron Diaz e Jason Patric) com sua atitude. A questão principal levantada pelo filme é: até que ponto é ético trazer uma criança ao mundo com o objetivo principal de salvar a vida de outra, e de uma maneira dolorosa? Mas há muito mais em torno.

Nick Cassavetes acerta não somente na escolha do tema e no carinho com que trata cada um dos personagens, mas também na eficiente estrutura narrativa, que começa mostrando os pontos de vista de diversos personagens. Assim podemos entender um pouco o que cada um pensa da situação. Os flashbacks são incluídos nos momentos certos e quando se acha que o filme não vai evoluir mais, ele mostra outras camadas, como no flashback da garotinha com câncer, que lembra de quando teve a sua primeira experiência amorosa com um rapaz. Ver aquele casal de jovens enfrentando a morte e procurando a felicidade através do amor faz com que nos arrependamos de ter reclamado da vida algum dia.

O filme ainda conta com alguns momentos que parecem grandes videoclipes, feitos com o objetivo de emocionar a plateia e na fronteira com o brega. Mas nem esses momentos me fizeram ver o filme de modo negativo. A estrutura de idas e vindas no tempo e o que é deixado para se contar no final ajudam a trazer sofisticação, equilibrando um pouco a obra. Com o filme, Cassavetes se supera e, se não vai mesmo conquistar o mesmo status que o pai ganhou, pelo menos tem se tornado um bom diretor de melodramas, tendo já no currículo outros dois bons exemplos: LOUCOS DE AMOR (1997) e DIÁRIO DE UMA PAIXÃO (2004). Claro que trabalhar com bons atores nesse tipo de filme ajuda muito. Em UMA PROVA DE AMOR, um dos momentos mais tocantes vem de uma atriz coadjuvante, Joan Cusack, que, sem dizer uma palavra, leva a plateia às lágrimas.

sexta-feira, setembro 11, 2009

NOITES BRANCAS (Le Notti Bianche)



Na época que vi AMANTES, o amigo Renato Doho me lembrou de NOITES BRANCAS (1957), de Luchino Visconti, filme que aborda situação semelhante: a do sujeito apaixonado por uma mulher que já é loucamente apaixonada por outro homem. E assim como AMANTES, a obra-prima de Visconti inspirada no texto de Fiódor Doistoévski também mostra o estado febril de estar apaixonado e do posterior desencanto. Espero não estar fazendo dessa minha última frase um spoiler, pois se o filme tivesse mesmo um final feliz não teria a mesma força que tem.

NOITES BRANCAS já conquista pela sequência inicial, brilhantemente orquestrada pelo cineasta, que captura imagens lindas de Veneza à noite, com uma iluminação toda especial, a cargo do diretor de fotografia Giuseppe Rotunno, mais conhecido por sua parceria com Federico Fellini. A imagem e os movimentos de câmera são tão perfeitos que capturam a atenção do espectador de imediato. Com cinco minutos de filme, já sabemos estar diante de uma obra-prima. Nem parece aquela imagem escura de ROCCO E SEUS IRMÃOS (1960), o filme seguinte de Visconti.

O mais nobre dos cineastas italianos, talvez até por sua preferência sexual, gostava também de trabalhar com atores bonitos como Helmut Berger, Alain Delon e, como é o caso de NOITES BRANCAS, o jovem Marcello Mastroianni. Mas vale lembrar que Visconti também tinha bom gosto na escolha do elenco feminino. Basta lembrar de quem já passou por suas mãos: Claudia Cardinale, Alida Valli, Ana Karina, Romy Schneider. Mulheres que mais parecem deusas do Olimpo. Se é que as deusas do Olimpo são tão bonitas. Para o papel de Natalia, Visconti trouxe a linda austríaca Maria Schell, com seu rosto angelical.

Depois de uma sequência inicial praticamente sem diálogos, mas com um uso sublime da câmera e do som, o encontro de Natalia com Mario (Mastroianni) numa ponte dá o pontapé inicial para essa história de amor e dor, narrada em tons que hoje, com uma tendência mais naturalista de atuação, podem parecer um tanto exagerados, mas que são perfeitamente fiéis tanto ao espírito apaixonado da obra original, quanto à própria natureza operística dos italianos.

Algumas sequências são memoráveis, como a da dança, quando vemos um desajeitado Mastroianni levando a sua amada para um bar onde as pessoas se divertem, já sob o espírito da contracultura. Mario tentando fazer uma dança-solo, como que para mostrar que sabe tanto quanto o mais habilidoso dançarino da festa, chega a ser patético, mas é um dos momentos mais realistas do filme. O flashback, usado para mostrar a história pregressa de Natalia também é um dos pontos altos. E a sua história é contada de uma maneira tão boa que quase nos esquecemos da trama principal. E como esquecer a cena que ilustra o título do filme, quando começa a nevar? Não embarquei no delírio de Mario, mas o entendi totalmente. Difícil mesmo é segurar as lágrimas no final.

quinta-feira, setembro 10, 2009

DESEJO E PERIGO (Se, Jie / Lust, Caution)



Meses atrás, a Liga dos Blogues Cinematográficos tentou fazer uma mobilização para que alguns filmes que estavam misteriosamente ausentes do circuito comercial, dirigidos por cineastas consagrados e de primeira linha, como Ang Lee, Quentin Tarantino e Brian De Palma, alcançassem os cinemas brasileiros. A mobilização foi suspensa quando se soube que a Europa Filmes finalmente lançaria DESEJO E PERIGO (2007), de Ang Lee, nos cinemas, bem como o tantas vezes adiado À PROVA DE MORTE. Quanto ao filme do mestre De Palma, GUERRA SEM CORTES, pelo visto terá o mercado de dvd como destino. O lançamento de DESEJO E PERIGO, porém, ficou relegado ao circuito alternativo, com poucas cópias disponíveis. E uma delas só chegou a Fortaleza nos últimos dias. E em tempos de cópias ruins em digital, ainda é pra ser feliz ter a oportunidade de ver uma das melhores obras de Ang Lee em gloriosa película. É o caso de se dizer que valeu a pena esperar.

Um dos elementos mais recorrentes nas obras recentes de Ang Lee é o embate interior. Em HULK (2003), havia o embate de um homem atormentado com seu monstro interior; em O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN (2005), um homem lutava contra seu próprio desejo reprimido do amor por outro homem. Em DESEJO E PERIGO esse embate interior é ainda mais complexo, pois trata de sentimentos contraditórios como o ódio e o amor; o desejo e a razão. Wong Chia Chi (a estreante Tang Wei) é uma jovem estudante de teatro que aceita fazer parte de uma conspiração para derrubar uma das figuras mais importantes do governo colaboracionista chinês na época da dominação japonesa, Yee (Tony Leung). Ela tinha alimentado o ódio pelo inimigo, mas, como era de se esperar em uma tragédia, os sentimentos conflitantes acabam por tornar a missão ainda mais difícil.

Ang Lee combina política, violência e sexo para compor o seu painel de um país em conflito. Nesse sentido, o filme lembra A ESPIÃ, de Paul Verhoeven, que também trata de sentimentos conflitantes e de espionagem e sexo em tempos de guerra, mas com a sutileza característica do cinema de Lee. Sutil em termos, pois DESEJO E PERIGO é o mais sangrento e erótico dos filmes do diretor. As cenas mais tórridas de sexo, que dizem ter ido além da simulação, foram filmadas com uma equipe reduzida e uma única câmera em um ambiente fechado. Tudo isso para dar o grau de intimidade necessária para que tudo fluísse da melhor maneira.

Além da excelente reconstituição de época que remete às melhores superproduções hollywoodianas e de todo o cuidado técnico, a narrativa é de uma fluidez de dar gosto. Especialmente para um filme com uma duração de 157 minutos. DESEJO E PERIGO começa em 1944 e depois retrocede quatro anos, quando vemos a entrada da adolescente Chia Chi num grupo de teatro amador que, depois do primeiro sucesso de público, transforma-se num grupo de resistência política. Chia Chi, por ter sido uma revelação durante a peça e por ser bonita, é a escolhida para ser a principal arma do grupo contra o colaboracionista vivido por Tony Leung, um homem casado e sempre rodeado de guarda-costas. O intervalo de tempo da trama evolui à medida em que a complexidade de sentimentos e de intenções dos personagens vai se tornando mais forte. Até o belo e doloroso final, que remete à cena da camisa que encerra O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN.

quarta-feira, setembro 09, 2009

MAUS HÁBITOS (Entre Tinieblas)



Desde junho que não via nenhum filme do Almodóvar. Espero não demorar tanto a dar continuidade à revisão da sua obra. Se bem que revisão mesmo vai ser a partir do próximo, já que os dois primeiros longas e este MAUS HÁBITOS (1983) eram até então inéditos para mim. E embora não esteja entre suas melhores obras, MAUS HÁBITOS é um belo filme. E já um trabalho de ruptura. Por mais que as situações sejam motivo de riso, o registro escolhido por Almodóvar é o de um filme sério. É o que chamam de falsa comédia. A começar pelos créditos iniciais, ao som de uma música bem melancólica, enquanto vemos os prédios de uma cidade (Madri?) ao fundo. Mas foi justamente esse tom mais melodramático que me fisgou. Adoro, por exemplo, uma cena musical onde a protagonista canta um bolero bem dor-de-cotovelo com uma das freiras.

Vale dizer que as freiras são a melhor coisa do filme. Almodóvar não gostou do desempenho da protagonista, Cristina S. Pascual, que só estava no filme porque era mulher (ou namorada) do produtor. MAUS HÁBITOS, aliás, foi o primeiro filme de Almodóvar com uma produtora de verdade financiando o projeto e dando melhores condições de trabalho para ele e a equipe. Se o filme perdeu um pouco da velocidade e do lado moleque dos dois longas anteriores foi por escolha do diretor. O que acabou resultando em algo mais rico, um objeto híbrido e estranho, mas que já apontava para a sofisticação visual que seria marca dos filmes seguintes do diretor.

Na trama, Yolanda (Pascual) é uma cantora de bolero que foge de um grupo de traficantes depois que o amante morre de overdose e vai se esconder num convento decadente, prestes a ser fechado, onde um pequeno grupo de freiras faz coisas proibidas como escrever novelas eróticas e usar drogas (heroína, cocaína). No convento, a Madre Superiora (Julieta Serrano) é apaixonada por Yolanda e Carmen Maura é a freira que cuida de um tigre. Elas se autodenominam "Redentoras Humilhadas" e utilizam para si os nomes Irmã Sórdida, Irmã Perdida, Irmã Rata de Esgoto e Irmã Víbora.

Interessante a seriedade com que Almodóvar fala do filme na entrevista do livro "Conversas com Almodóvar". Principalmente ao falar do caráter cristão dos atos das freiras. Também fala com entusiasmo do fato de ter usado pela primeira vez o primeiro plano e de como esse tipo de plano é "uma espécie de radiografia da personagem". E complementa: "num primeiro plano se põe a nu a personagem e o ator, e também nos desnudamos."

terça-feira, setembro 08, 2009

O SEQUESTRO DO METRÔ 1 2 3 (The Taking of Pelham 1 2 3)



O maior problema de O SEQUESTRO DO METRÔ 1 2 3 (2009), para quem viu o original de 1974, de Joseph Sargent, é justamente parecer repetitivo, ir ao cinema já sabendo da história. Era, inclusive, esse um dos motivos pelo qual eu não estava tão entusiasmado para vê-lo, mesmo considerando o trabalho anterior de Tony Scott, DEJA VU (2006), uma obra-prima. O lado divertido está em poder ver o quanto Scott imprime o seu estilo todo próprio na atualização da obra. Aliás, como ambos os filmes são baseados no romance de John Godey, podemos dizer que não se trata de uma refilmagem, mas de uma nova adaptação do livro. Quem não gosta do estilo de Scott, com um número de cortes por vezes excessivo e muitos filtros na imagem, deve continuar não gostando do trabalho do diretor, mas há muito o que se considerar neste novo filme.

E o desempenho de John Travolta é um caso à parte. Uma surpresa, levando em consideração seus últimos trabalhos, especialmente os que ele interpreta um vilão. Como cabeça do grupo de criminosos que sequestra um vagão no metrô de Nova York e exige dez milhões de dólares de resgate à prefeitura da cidade, Travolta está impressionantemente bem. É o tipo de vilão que conquista a simpatia do espectador. Talvez, mais até do que o personagem de Denzel Washington, o herói, o sujeito que atende a ligação do criminoso na central de controle e se torna o elo de ligação na negociação. O novo filme tem algumas mudanças bem interessantes em relação ao original. Entre elas, o fato de o personagem de Washington estar passando por uma situação difícil, sendo acusado de ter recebido suborno e de estar sendo investigado pela polícia.

O estilo de Scott está presente em cada fotograma, como em cada vez que o filme congela a imagem para mostrar o tempo que resta para chegar o horário estabelecido pelo sequestrador para a entrega do dinheiro. E o nível de tensão cresce de tal forma que haja unhas para roer. Como é de hábito nos filmes de Scott, cenas de batidas de carro não poderiam faltar, ainda que no caso desse filme, isso fosse até dispensável. Ainda assim, tem uma cena de batida que realmente impressiona. Em tempos de exagero no uso de efeitos de computação gráfica, Scott impõe peso e violência na cena da tal batida.

Há quem reclame de um excesso de dramaticidade nas cenas envolvendo o personagem de Washigton, mas não vejo problema nenhum. Em sua terceira colaboração com Scott nos últimos cinco anos, Denzel imprime a seu personagem um equilíbrio entre heroísmo e fragilidade raro de se ver. E o embate Denzel-Travolta é tão intenso que sobra pouco espaço para que bons atores como Luiz Guzmán, John Turturro e James Gandolfini pudessem fazer muita coisa. Mas isso não chega a ser um problema para o filme, que ainda ganha um belo desfecho.

segunda-feira, setembro 07, 2009

OS NORMAIS 2 – A NOITE MAIS MALUCA DE TODAS



A intenção era sair pra ver no domingo UMA CANÇÃO DE AMOR, de Karin Albou, mas acabei aceitando o convite para ver OS NORMAIS 2 – A NOITE MAIS MALUCA DE TODAS (2009). Mais pelo encontro com a turma e menos pelo filme. Acabei não tendo tempo de conversar com o povo. Só com a Valéria, que ainda deu pra conversar durante um tempinho. Capricorniano é um tipo de gente que costuma chegar sempre na hora nos lugares e ela honra essa tradição. As demais meninas acabaram chegando na última hora - no último minuto, na verdade -, e no fim da sessão eu saí para outra programação, encontrar outras pessoas. Talvez, se desse tempo, ainda veria o filme da Albou. Não deu. Quem sabe no próximo fim de semana, se o filme continuar em cartaz. E até que, para quem achava que ia passar o feriadão na clausura, até que eu socializei bastante nesses dias.

Quanto a OS NORMAIS 2, que nem estava na minha lista de preferências, diante das várias opções disponíveis nos cinemas, acabou me surpreendendo positivamente. Não que o filme seja bom. Mas é bem mais divertido do que eu imaginava. O começo, com os créditos de abertura, mostra o simpático casal Rui (Luis Fernando Guimarães) e Vani (Fernanda Torres) cantando "Livin' la vida loca" num karaokê, sem muita preocupação em parecerem desafinados. O que torna essa sequência de abertura ainda mais legal e um dos pontos altos do filme.

Sendo um pouco generoso com o trabalho de José Alvarenga Jr., daria para fazer uma comparação com as screwball comedies dos anos 30, já que OS NORMAIS 2 leva às últimas consequências o termo "comédia maluca". Como não vi o primeiro filme, não sei quanto existe em comum entre os dois, mas acredito que eles são independentes. O tema do filme é a busca de uma parceira para um ménage à trois, a fim de aquecer a relação do casal, já bastante desgastada. Depois disso, segue uma série de situações que provocam ora risos, ora constrangimentos.

Há um farto elenco de celebridades globais - Danielle Winits, Drica Moraes, Cláudia Raia, Daniele Suzuki, Alinne Moraes e Daniel Dantas -, mas nem sempre o elenco de apoio entra em sintonia com a já azeitada química que existe entre Guimarães e Fernandinha. O problema mesmo é a falta de piadas melhores. Ou de um pouco mais de bom senso. Nem se trata aqui de reclamar de piadas de "mau gosto", como a do sujeito sendo praticamente empalado por uma bengala enquanto esperava para fazer um exame de toque, mas do mau funcionamento desses momentos engraçados mesmo.

Alguns desses momentos realmente funcionam, como a busca do casal por uma "bi". No caso, a Daniele Suzuki. Pode-se dizer também que o filme tem outros méritos, como usar o formato de tela larga sem se preocupar em futuras exibições na televisão, como na cena da conversa no sofá entre Luis Fernando Guimarães e Cláudia Raia, além dos palavrões, que até parecem estranhos dentro do ambiente de um filme oriundo de uma série de tv.

No fim das contas, apesar de parecer tosco e de produção barata, OS NORMAIS 2 ainda provoca mais risos e tem um timing mais acertado que A MULHER INVISÍVEL, para comparar com outra comédia brasileira, sucesso de bilheteria.

Quanto à série de tv, não lembro se cheguei a ver um episódio inteiro quando passava na Globo. Mas cheguei a ver um episódio recentemente só porque tinha a participação da Mel Lisboa.

sexta-feira, setembro 04, 2009

HANGING SHADOWS



Uma coisa que não deve ser motivo para se animar em relação a documentários é o tema. Às vezes a gente fica entusiasmado com determinado assunto e, quando vai ver o documentário, se depara com algo pobre e até chato. É o caso de HANGING SHADOWS (2009), que lida muito superficialmente com o cinema de horror italiano. O que o diretor do filme consegue de bom são as entrevistas com Dario Argento (foto), Michele Soavi, Lamberto Bava, Ruggero Deodato, alguns cineastas que desconheço (quem são Sergio Stivaletti e Roger A. Fratter?), além de técnicos, roteiristas e críticos que tentam suprir a ausência de cineastas já falecidos, como Mario Bava e Lucio Fulci.

Uma das primeiras coisas que se menciona no documentário é a atual fase decadente do gênero. Dario Argento, um dos que mais participam do documentário, comenta da dificuldade de se conseguir patrocínio e apoio no cinema contemporâneo italiano. E ele até cita o fato de que o cinema de horror é um dos que mais fácil se pagam internacionalmente, como se pode ver com o sucesso de algumas cinematografias que se aventuraram pelo gênero, como a espanhola, a japonesa, a francesa e a sul-coreana. Claro que nem sempre um bom resultado nas bilheterias pode ser garantido. Depende de uma série de fatores, entre eles o problema da distribuição.

O que eu mais senti falta no documentário foram cenas de alguns filmes citados. Não deu para esconder o fato de que isso se deveu à pobreza da produção, que provavelmente não pôde conseguir os direitos para exibição de alguns trechos e encheu linguiça com cenas de alguns filmes de terror desconhecidos ou talvez sejam apenas cenas feitas especialmente para o documentário. O máximo que eles puderam fazer foram colocar fotos de cartazes dos filmes citados passando pela tela ou a imagem de uma televisão exibindo um dos filmes, como foi o caso de O PÁSSARO SANGRENTO, de Soavi.

Entre as declarações, uma das que mais me chamou a atenção foi a de Ruggero Deodato, que afirmou que não gosta de zumbis e fantasmas, que gosta de realidade. E falou que até se sente ofendido quando dizem que o seu CANNIBAL HOLOCAUST é um filme de horror. O depoimento de Argento sobre os filmes que o influenciaram também estão entre os momentos de destaque. Ele cita SANGUE DE PANTERA, A SÉTIMA VÍTIMA (o de Mark Robson) e O GATO PRETO (o de Ulmer). Achei bem coerente com o tipo de cinema que ele faz, que privilegia a construção de atmosfera. Ele conta, inclusive, que prefere ambientes luxuosos para mostrar cenas de horror e violência, pois acredita que torna o efeito muito mais eficaz. Não sei se concordo com ele, mas não deixa de ser interessante o seu ponto de vista. Claro que há muito mais no documentário, mas o resultado final não deixa de ser decepcionante. Talvez boa parte da culpa seja do tema, muito abrangente para um doc de apenas uma hora.

quinta-feira, setembro 03, 2009

OS CURTAS DE GUERRA DE HITCHCOCK



Os curtas de guerra que Alfred Hitchcock dirigiu em 1944 para o Ministério da Informação britânico não são lá exemplos de grandeza na carreira do mestre. No máximo, servem como curiosidade para aqueles que têm interesse na obra do cineasta ou são entusiastas da Segunda Guerra Mundial. Os dois curtas foram produzidos na Inglaterra, mas são falados em francês e foram feitos com a ajuda de homens que pertenciam às Forças Francesas Livres. A intenção era mesmo fazer filmes enaltecendo a Resistência Francesa. Mas se Howard Hawks fez um grande filme de propaganda nos Estados Unidos com FORÇA DE HERÓIS em pleno calor do combate e John Ford fez o maravilhoso FOMOS OS SACRIFICADOS, após o fim do guerra, Hitchcock não foi tão feliz em sua contribuição para a batalha do século. E a intenção de Hitchcock foi mesmo dar uma pequena contribuição ao esforço de guerra, já que ele dizia ser gordo e velho demais para combater.

BON VOYAGE

Até tem alguns momentos de BON VOYAGE (foto) que lembram OS 39 DEGRAUS (1935), mas seus maiores pecados são ser confuso e aparentar certo desleixo técnico. Talvez por ter sido feito às pressas e sem pensar no futuro, naqueles que assistiriam o filme muitos anos depois da guerra, o filme parece meio atropelado na narrativa. A trama envolve um homem da Royal Air Force que atravessa a França com a ajuda de membros da resistência. Ele encontra um oficial polonês que o ajuda, mas que depois ele descobre ser um membro da Gestapo. Mas estou escrevendo isso com a ajuda do livro "Hitchcock/Truffaut - Entrevistas", já que na maior parte do filme eu não fazia ideia do que estava acontecendo. Talvez rever seja uma boa para esclarecer e dar uma nova chance ao filme, mas confesso que não estou com a mínima vontade. Uma cena autenticamente hitchcockiana se salva desse trabalho de encomenda: a da morte da moça francesa.

AVENTURE MALGACHE

Menos confuso que BON VOYAGE, AVENTURE MALGACHE se passa em dois tempos. Em 1944 e no flashback, em 1940. Nota-se que a intenção de exaltar o esforço da Resistência é mais enfatizado nesse trabalho. O filme começa com um grupo de atores que interpretam Molière num teatro. E é numa conversa nos bastidores que um deles relembra dos tempos que foi participante ativo da Resistência, quando mantinha uma estação de rádio usada para combater os nazistas. 1940 foi o ano em que os franceses se renderam aos alemães e se tornaram seus "aliados". Madagascar, então colônia francesa, foi deixada para decidir se seguia os passos de seu colonizador ou se ficava com os britânicos no combate aos nazistas. Pequenos detalhes como esse ajudam a enriquecer os conhecimentos sobre a Segunda Guerra, mas o filme não facilita muito para aqueles que não estão a par da historia da guerra e precisam se situar nos acontecimentos.

quarta-feira, setembro 02, 2009

ALL ABOUT ANNA



No sábado à noite, estava de bobeira em casa. Precisava descansar dos últimos fins de semana, que foram bem agitados. E precisava parar um pouco para dar uma trégua para o meu corpo e descansar a mente também. Também queria ver algum filme diferente. Que não fosse dos cineastas que ando acompanhando a filmografia atualmente (Hitchcock, Almodóvar, Cronenberg, Pollack, Mulligan, Bava, Argento). Peguei, meio sem me lembrar do que se tratava, ALL ABOUT ANNA (2005). Vi os primeiros quatro minutos, achei um lixo e desisti. Mas não sem antes fazer uma rápida pesquisa na internet sobre o dito cujo. Foi quando eu soube que o filme continha cenas de sexo explícito, o que já me animou a dar-lhe mais uma chance. No dia seguinte, pela manhã, resolvi retomar. Não é que eu gostei?

Trata-se de uma obra difícil de ser classificada. É um melodrama açucarado com cenas de sexo hardcore, algumas softcore. E que prende a atenção até o final. ALL ABOUT ANNA, por ser dirigido por uma mulher (Jessica Nilsson), faz alguma diferença. Até na maneira como valoriza os corpos masculinos, em especial do personagem Johan, cujo corpo deve fazer a alegria do público feminino. Aliás, ALL ABOUT ANNA é um belo filme para se assistir com a namorada. O problema é se ela quiser fazer comparação entre você e o galã do filme. A trama regada a sexo tem como eixo o amor de uma mulher por um sujeito que desapareceu há cinco anos. Depois de anos chorando pelo cara, ela resole voltar a viver. E conhece outro homem. O que ela não esperava era que o tal namorado do passado reaparecesse para balançar as suas estruturas.

ALL ABOUT ANNA é uma produção dinamarquesa falada em inglês que é dividida em capítulos, como "All about work", "All about pain", "All about fun". A fotografia do filme lembra a de algumas produções televisivas europeias, mas aos poucos a gente vai se acostumando. As cenas de sexo são curtas e boas, sem closes ginecológicos e o elemento sentimental está sempre presente, o que ajuda a apimentar ainda mais as coisas. Uma das cenas mais excitantes do filme é uma em que a companheira de quarto de Anna aplica um blowjob em seu namorado. Como não se trata de sexo simulado, mas real, as situações ganham ainda mais força.

O problema é que muita gente pode achar o filme de mau gosto, principalmente por causa das atuações e dos diálogos. A narração da protagonista contribui para o jeitão meio cafona de telenovela vagabunda, mas uma vez que se passa por isso, dá pra se perceber as qualidades desse filme especial. Sem falar também nos atributos físicos da atriz, a bela Gry Bay. O filme foi indicado e vencedor de vários festivais de filmes adultos, tanto internacionais como escandinavos.

Agradecimentos a Renato Doho pela cópia.

terça-feira, setembro 01, 2009

O HOMEM LEOPARDO (The Leopard Man)



Uma pena ter me decepcionado com O HOMEM LEOPARDO (1943), logo depois de ter ficado em êxtase com as obras-primas A SÉTIMA VÍTIMA, de Mark Robson, e A MORTA-VIVA (1943), de Jacques Tourneur. E lembrando que também sou admirador de outra obra de Tourneur para a produtora de Val Lewton, o clássico SANGUE DE PANTERA (1942). O HOMEM LEOPARDO é filme-irmão de SANGUE DE PANTERA, utilizando-se basicamente dos mesmos meios para atingir o espectador, como cenas de mulheres indefesas andando em ruas desertas escuras, temendo sempre o perigo à espreita. A diferença aqui é que há mais da ambiguidade em relação ao aspecto mais fantástico da trama.

O problema de O HOMEM LEOPARDO, a meu ver, está no excesso de personagens e consequentemente na dificuldade de se apegar a eles. E com o excesso de personagens, a trama também se torna um pouco confusa e aparentemente carente de maior coesão. Boa parte dos personagens, aliás, é vítima do leopardo que está à solta. Ou seria um homem o autor dos estranhos assassinatos? Como havia dado certo em A MORTA-VIVA, que se passa numa ilha do Caribe, Tourneur aposta novamente no exótico, ao ambientar a trama numa cidade que fica na fronteira entre Estados Unidos e México, rodeada de latinos por todos os lados.

Algumas cenas em especial merecem destaque, especialmente as noturnas e atmosféricas e que exploram o jogo de luz e sombras, muitas sombras, já conhecidas de quem entrou em contato com as produções de terror/suspense de Val Lewton. Além das cenas que envolvem as moças sendo atacadas ou perseguidas, gosto bastante da sequência da procissão dos mortos (ou algo parecido), quando um grupo de pessoas usa vestimentas semelhantes às da Ku Klux Klan, só que de cor negra.