segunda-feira, agosto 31, 2009

AMANTES (Two Lovers)























Estar apaixonado é estar fora de si, é ver o mundo por uma outra ótica. Às vezes torta e dolorosa, às vezes mais colorida. É ver mais sentido nas canções de amor, ao mesmo tempo que é estar desinteressado pelo que mais há no mundo que não tenha relação com o sentimento. É estar disposto a enfrentar todos os desafios que a vida impõe, a ponto de perder até o bom senso, dizer "foda-se" para o futuro e para a lógica. É agir feito um idiota, mas um idiota cheio de amor pra dar. Tudo isso e muito mais é mostrado em AMANTES (2008), este que é um dos filmes mais belos a explorar esse estado de espírito. James Gray ainda acrescenta o fato de que a paixão também pode ser transgressora, quase um crime. Quando Leonard, o personagem de Joaquin Phoenix, sai de casa para se encontrar com a amada para ambos fugirem, às escondidas de sua família e da garota que representa a estabilidade emocional para ele, é como se ele estivesse cometendo um crime, fazendo algo muito errado. Por isso, o mundo do crime mostrado em filmes anteriores de Gray, como CAMINHO SEM VOLTA (2000) e OS DONOS DA NOITE (2007), é quase que transposto para o universo romântico.

Nem se trata aqui de se estar dilacerado entre dois amores. A busca pela paixão sempre pesa mais que a relação estável e mais fácil de lidar. O desejo de Leonard pela problemática Michelle está acima de tudo. Pouco importa se ela é apaixonada por um sujeito casado ou se tem problemas de dependência química. Deixa de ser importante também se a doce Sandra (Vinessa Shaw) está disposta a cuidar dele, que tanto já sofreu por amor, a ponto de tentar o suicídio algumas vezes. O filme, aliás, abre com uma cena de Leonard pulando de uma ponte, a fim de dar cabo de sua vida. Mas ele se arrepende e volta para casa encharcado. Sua mãe (Isabella Rossellini, assumindo de vez um papel de mulher mais madura) e seu pai vivem preocupados e tentam lidar com o problema do filho da melhor maneira possível, tentando levantar a sua autoestima através do trabalho, do seu interesse por fotografias, além de dar um empurrãozinho ao procurar outra garota para ele.

E quando o filme se encaminha para um final que até já esperávamos, levando em consideração o clima cinza, Gray mostra um epílogo tão belo, tocante e delicado que engrandece ainda mais a sua obra. AMANTES não é um melodrama tão lacrimoso. Gray aposta mais na dor de viver e de amar. E é isso que torna o seu filme tão único e especial. Algumas cenas são de uma beleza e uma poesia ímpares, como a cena em que Leonard escreve com os dedos no braço de Michelle. Nos últimos anos, o cinema raramente produziu momento tão belo. Agradeçamos a James Gray por manter o cinema tão vivo e tão próximo de nossos corações com sua filmografia curta mas irretocável.

Quanto a Joaquin Phoenix, uma pena ele ter supostamente preferido seguir por outro caminho, pois ele é um ator e tanto. E que teve o privilégio de trabalhar com feras como James Gray, M. Night Shyamalan e Gus Van Sant. Se AMANTES é mesmo sua despedida das telas, trata-se de uma senhora despedida.

P.S.: No sábado o Diário de um Cinéfilo, nascido sob o signo de Virgem, completou sete anos. Bem que merecia um post mais alegrinho para comemorar. Isso fica para a próxima.

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