sábado, junho 27, 2009

O MISTÉRIO DO Nº 17 (Number Seventeeen)



E eu que estava achando que não tinha mais tanto filme ruim de Alfred Hitchcock antes de eu chegar nas pérolas de sua filmografia. Quem pensa que a fase britânica do mestre do suspense foi tão boa quanto a americana é porque ou não conhece os filmes ou quer parecer diferente. O MISTÉRIO DO Nº 17 (1932) é um dos filmes que eu acreditava ser mais divertidos dessa fase inglesa, já que de acordo com François Truffaut, o problema do filme era aparentemente a trama confusa, coisa que geralmente não me incomoda muito, principalmente quando eu já estou psicologicamente preparado para uma narrativa sem pé nem cabeça. Mas isso é algo que definitivamente não combina com Hitchcock, principalmente quando ele se mostra claramente desinteressado pelo projeto, empurrado à força para ele pela produtora britânica, que não sabia valorizar o diretor.

Depois do fracasso comercial do interessante RICH AND STRANGE (1931), que era um trabalho que dá pra sentir que foi feito com gosto pelo cineasta, os produtores quiseram compensar as perdas com um trabalho mais barato e mais comercial. Acho que de tanto ele se dar mal com a produtora, O MISTÉRIO DO Nº 17 foi a gota d’água: o último filme de Hitchcock para a British International Pictures. Achei até que ele demorou demais para encerrar o contrato com essa companhia. A única qualidade de O MISTÉRIO DO Nº 17 é a sua curta duração: pouco mais de uma hora. Se fosse um longo filme, com certeza estaria entre as piores obras de Hitchcock, junto com CHAMPAGNE (1928), JUNO AND THE PAYCOCK (1930) e, pelo que dizem, VALSAS DE VIENA (1933), que ainda não vi e é o próximo da lista. (Medo.)

Nas palavras do próprio Hitchcock para Peter Bogdanovich, ao falar de O MISTÉRIO DO Nº 17: "o filme era horrível"; para Truffaut: "um desastre". Claro que nem sempre temos que concordar com os próprios diretores quando eles falam de suas obras, mas aqui definitivamente é o caso. Uma coisa positiva no filme é que em certo ponto pode ser um precursor da comédia O TERCEIRO TIRO (1956), já que ele começa com um suposto cadáver, que depois desaparece. O que também é lembrado no filme como um de seus pontos altos é a cena da perseguição entre um ônibus e um trem, claramente duas maquetes, disfarçadas apenas pela fotografia em preto e branco em tom escuro. Mas até chegar nessa sequência, o filme exibe um ar de teatralidade que é um passo atrás do mestre, depois da graça e do esforço de fazer cinema de verdade que foi RICH AND STRANGE. O MISTÉRIO DO Nº 17 é mais um título a macular a felizmente vasta filmografia do mestre, que, ainda bem, não se deixou abalar por essa má fase e continuou perseguindo o seu melhor.

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