segunda-feira, junho 29, 2009

JEAN CHARLES



Um filme bem frágil na dramaturgia, especialmente nas tentativas nem sempre bem sucedidas de emocionar, mas que tem uma narrativa envolvente e desperta a simpatia da audiência, muito por causa da presença de Selton Mello. Apesar da fragilidade dramática, JEAN CHARLES (2009) tem os seus momentos. Gosto especialmente da cena de Jean ligando para a mãe, no Brasil, informando que só poderá enviar o dinheiro no próximo mês. A cena dos três amigos chorando a morte do companheiro, perto do final, também chega a ser emocionante. Na maioria das vezes, contudo, as tentativas de Henrique Goldman de causar comoção na audiência é frustrada e forçada. Mesmo assim, o filme funciona tanto como retrato da situação dos imigrantes ilegais em Londres como da tragédia de repercussão internacional envolvendo o brasileiro Jean Charles de Menezes, morto pela polícia inglesa, ao ser confundido com um suspeito de terrorismo, durante um período de ataques às estações de metrô da capital britânica em 2005.

O diretor Henrique Goldman e o roteirista Marcelo Starobinas fizeram um trabalho de investigação antes de montar o roteiro. Um dos pontos positivos do filme foi o de mostrar um aspecto não tão agradável para a família de Jean Charles, que é o seu envolvimento com a emissão de passaportes ilegais. Mas que bom que havia isso para trazer mais emoção à trama. Imaginem se o filme só mostrasse o rapaz trabalhando e depois sendo morto. Só um grande cineasta conseguiria tirar algo bom de uma trama tão simples. Goldman usa um registro de ficção convencional com a utilização de imagens de arquivo de noticiários televisivos britânicos. Selton Mello, mesmo com sua persona forte, tem um carisma natural e traz entusiasmo para o filme. A jovem Vanessa Giácomo também consegue se destacar, especialmente nas cenas onde aparece sozinha.

O que mais nos deixa indignado é o fato de Jean Charles ter morrido com sete tiros na cabeça. O que demonstra uma brutalidade que não encontra justificativa, mesmo num cenário tenso de guerra ao terrorismo. Se o filme passasse com mais força essa indignação, com certeza ganharia mais respeito, tanto do público quanto da crítica. No lugar da indignação, o que mais fica é a tristeza, um sentimento de passividade e conformação diante da tragédia. Felizmente, o epílogo, que se passa depois de três anos da tragédia, dá sentido à trama e tem um ar poético. Outro ponto alto do filme é a participação de Sidney Magal, cantando num show para brasileiros em Londres o clássico "O meu sangue ferve por você", que tanto embalou a minha infância. Lendo uma entrevista de Henrique Goldman, soube que o que ocorreu na verdade foi que Jean Charles deu um jeito na aparelhagem de som de uma apresentação de Zeca Pagodinho, que até foi convidado para o filme, mas não pôde participar. A substituição por Magal não poderia ser mais acertada, tornando tudo mais divertido, especialmente quando vemos Selton Mello cantando a plenos pulmões junto com o público essa bela canção, tão carregada de latinidade, cafonice e paixão.

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