terça-feira, junho 16, 2009

INTRIGAS DE ESTADO (State of Play)























Uma boa surpresa este INTRIGAS DE ESTADO (2009), adaptação hollywoodiana de uma minissérie inglesa da BBC. O começo do filme chega a ser um pouco confuso, dando a impressão de que foi fruto de um trabalho ruim de edição, mas felizmente, quando o diretor Kevin MacDonald resolve se aquietar, parar com as picotagens excessivas e as câmeras tremidas e se concentrar mais nas boas interpretações dos astros, o filme entra nos eixos. Até porque seria um desperdício não aproveitar os desempenhos de Russell Crowe e Rachel McAdams. E apesar de o elenco de apoio não ficar atrás (Ben Affleck, Helen Mirren, Robin Wright Penn), é o casal de protagonistas quem dá um show, aproveitando papéis que estão entre os melhores de suas carreiras.

A caracterização de Russell Crowe, como um repórter especial do Washington Post, é das mais interessantes. Ele é um sujeito gordo, de cabelos desgrenhados, pouco afeito a luxo e bens materiais (continua com um velho carro), e com uma vida tão tumultuada e bagunçada quanto seu local de trabalho, o banco traseiro de seu carro e seu próprio apartamento. Pra completar, ele teve um caso no passado com a mulher de seu melhor amigo, o congressista vivido por Ben Affleck. Rachel McAdams, adorável, é uma jovem jornalista que tem planos de subir na vida. Por enquanto, ela é colunista do blog do jornal e inicialmente é tratada mal pelo personagem de Crowe, que desvaloriza os blogues e as notícias em tempo real do mundo de hoje, que valoriza mais a rapidez do que a qualidade no conteúdo.

O assassinato da assessora do congressista e as fofocas que dizem que ele estava tendo um caso com a moça levam o jornalista a se interessar pessoalmente pelo caso. É quando o jornalismo se confunde com a investigação policial. E claro que a polícia não gosta nem um pouco quando começa a comer poeira com o avanço das investigações da dupla de jornalistas, que por ironia do destino, apesar das diferenças ideológicas, passam a atuar juntos, sem saber o quão perigoso é o caso. A trama é envolvente e complexa e o filme torna tudo não apenas interessante, mas até mesmo fascinante na busca pela verdade, na discussão sobre ética e no modo como alguns jornalistas investigativos vivem emocionantes aventuras, muitas vezes deixando de ter uma vida privada e até uma boa noite de sono para se dedicar com afinco ao seu trabalho.

O formato de thriller, que gera bons momentos de suspense, faz com que INTRIGAS DE ESTADO seja uma obra que deve agradar a um grande público, talvez não tão disposto a ver um filme com um pano de fundo político. E por mais que se perceba o quanto deve ser estressante se responsabilizar por uma matéria importante que vai ser a primeira página do jornal, a vontade que eu sempre tive de trabalhar num jornal, só aumentou. O filme também gera uma interessante reflexão sobre a atual situação dos jornais, que estão num momento de crise, com a popularização da internet e a queda crescente nas vendas dos impressos de papel, em detrimento das edições online, que têm a vantagem de trazer notícias mais quentes. O jornal de papel vai eventualmente deixar de existir? Estaria mesmo com os dias contados? O que isso pode trazer de bom e de ruim para a qualidade da informação? Essas e outras questões ficam no ar. Enquanto isso a vida continua e os jornais tentam sobreviver aos novos tempos da melhor maneira possível.

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