quarta-feira, março 04, 2009

VALSA COM BASHIR (Vals im Bashir / Waltz with Bashir)






















Confesso que eu fico confuso com a complexidade das guerras no Oriente Médio. Lembro que quando eu era criança via quase todos os dia no Jornal Nacional notícias sobre a Guerra do Líbano. Não sabia as razões do conflito e me achava novo demais para compreender assuntos tão complicados e políticos. E o tempo foi passando e eu não me atualizei sobre o conflito. E embora tenha havido um novo conflito em 2006, a Guerra do Líbano não costuma ser tão lembrada nos filmes e na mídia em geral. E é sobre esse "esquecimento" dessa guerra que trata VALSA COM BASHIR (2008), premiado documentário-animação de Ari Folman, que ganhou vários prêmios mundo afora, apareceu em várias listas de melhores filmes de 2008, venceu o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro e era o favorito na mesma categoria na premiação do Oscar nesse ano. A animação é realmente um primor e enche os olhos e o filme tem um jeitão todo próprio de contar a história, através de memórias de pessoas que participaram do conflito.

O formato da narrativa é atípico e lembra WAKING LIFE, de Richard Linklater, inclusive pelo recurso de sequências que são mistos de sonhos e memórias vagas dos personagens. É um filme bem adulto (tem até uma cena pornográfica), que lida com um tema difícil e que, por ser uma animação, talvez não encontre o seu espaço no circuito comercial. Na trama, o próprio Ari Folman, o diretor, que foi soldado das forças israelenses na época, conversa com ex-colegas sobre o que eles lembram do conflito. O que mais o perturba é o fato de que muitos eventos daquela guerra terem sido apagados de sua memória. Como se ele, inconscientemente, quisesse negar a sua culpa no genocídio de tantos libaneses, inclusive mulheres e crianças. Interessante o diálogo de Ari com seu psicólogo que defende o fato de ele ter apagado as memórias como consequência dos traumas provocados pela guerra.

O problema é que a animação chama demais a atenção e desvia o pensamento do espectador para o objetivo principal do longa-metragem, que é fazer uma reflexão sobre a Guerra do Líbano e o quanto os israelenses foram responsáveis pelo massacre de centenas de libaneses. A animação também diminui o impacto das cenas de violência. A única sequência que não é uma animação acontece no final do filme e realmente mostra o quanto VALSA COM BASHIR seria mais forte se resolvesse ser um documentário "normal", sem uso da animação. Que é, portanto, um trunfo e um problema para o filme. Um trunfo, já que é um meio de chamar a atenção; um problema, por desviar a concentração do assunto em questão, com o espectador ficando maravilhado com as imagens.

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