quinta-feira, março 12, 2009

SALOMÉ























"Lembro também de 'Bom-dia, Tristeza', de Françoise Sagan, e de ter me sentido completamente niilista depois de ler o livro. Nessa ocasião já tinha recusado a educação religiosa. (...) Reconheci-me também completamente em GATA EM TETO DE ZINCO QUENTE, filme baseado em Tennessee Williams e que, para a Igreja, era a própria expressão do pecado, e dizia a mim mesmo: 'Pertenço ao mundo do pecado, da degenerência'"
Pedro Almodóvar, em "Conversas com Almodóvar".


Já tinha lido uma sátira de Woody Allen ao episódio bíblico de Abraão levando seu filho Isaque para o sacrifício. Mas não sabia que Pedro Almodóvar, em sua fase "pré-histórica", havia feito o mesmo à sua maneira em SALOMÉ (1978), talvez o único curta do diretor disponível na internet. Já se notava um senso de humor apurado da parte de Almodóvar. Em SALOMÉ, ele mistura duas histórias bíblicas: a já citada história de Abraão e a história de Salomé, a mulher que pediu a cabeça de João Batista ao Governador da Judéia, Herodes. Almodóvar fez de Abraão um velho tarado, que fica fascinado com a beleza de Salomé e pede para que ela dance para ele, prometendo a ela qualquer coisa que ela pedir em troca. Eis o que ela pede: a cabeça de Isaque. O legal é que Isaque aparece com aquele figurino de época, mas calçando um par de tênis.

SALOMÉ é o primeiro dos trabalhos de Almodóvar que pretendo ver/rever associado à leitura do excelente e fundamental "Conversas com Almodóvar". O livro contém, além de uma longa entrevista do cineasta a Frederic Strauss, vários textos importantes, a maior parte deles escritos pelo próprio Almodóvar. No começo da entrevista, Almodóvar fala de seu lado "pudico" em relação aos seus trabalhos mais antigos e fala de coisas como sua infância solitária, seu hábito da leitura e sua cinefilia, que já começou perto dos dez anos de idade.

Fiquei sabendo que antes de PEPI, LUCI, BOM E OUTRAS GAROTAS DE MONTÃO (1980) Almodóvar já havia realizado um outro longa-metragem, em super-8, que não foi exibido comercialmente. Bem interessante as circunstâncias da realização e exibição desse filme, chamado FOLLE...FOLLE...FÓLLEME...TIM (1978). Tenho também um prazer em ler sobre os filmes que fizeram a cabeça de cineastas antes de eles se tornarem profissionais. Falarei mais de Almodóvar nos próximos meses.

Nenhum comentário: