quinta-feira, fevereiro 05, 2009

STEREO





















Os critérios para escolher os filmes para ver ultimamente têm levado em consideração a duração. Assim, como já estava acumulando alguns filmes de David Cronenberg que ainda não havia visto, e como seus dois primeiros trabalhos são curtinhos – pouco mais de uma hora –, achei por bem começar com a estreia do cineasta na direção de longas-metragens. STEREO (1969) é um trabalho que já traz o DNA do cineasta que dirigiria os filmes inconfundíveis que aprendemos a respeitar e a gostar. Sua carreira tomou novo rumo recentemente, a partir de MARCAS DA VIOLÊNCIA (2005), mas Cronenberg continua imprimindo a sua marca e seus filmes continuam sendo enigmáticos, mesmo quando trazem uma trama aparentemente mais convencional.

Mas "convencional" definitivamente não é uma palavra que possa se aplicar ao experimental STEREO, um filme mudo, sem nomes de personagens, sem trilha sonora e com apenas imagens e um narrador falando coisas estranhas sobre um projeto científico que necessita algumas revisões para entender melhor do que se trata, embora a palavra "telepatia" seja uma constante na narração. Mas elementos que estariam presentes em outros de seus filmes aparecem tanto de modo enfático quanto sutil. Está lá o homossexualismo – que é discutido no filme e visto pelo narrador/cientista/pesquisador como sendo tão estranho quanto o heterossexualismo. Na verdade, o corpo humano é um objeto estranho em praticamente todos os filmes de Cronenberg. Um objeto que ele às vezes tenta ver de maneira nem sempre agradável. Às vezes com frieza, às vezes com maravilhamento.

A utilização do gore como elemento que seria mais presente em seus filmes dos anos 70 e 80 ainda não surgia em STEREO, talvez por ser claramente um trabalho de estudante, um filme com poucos recursos, mas com um senso estético de dar gosto. Os cenários são ótimos e passam a impressão de um filme de orçamento maior. O preto e branco, com uma acentuação maior no branco, torna o trabalho de Cronenberg quase asséptico, que me fez lembrar tanto THX-1138, de George Lucas, quanto QUINTETO, de Robert Altman, sendo que STEREO antecipou esses dois filmes. Não é um filme fácil de ver e é bom que só tenha uma hora de duração. Deve ser mais agradável para as pessoas mais cerebrais, mas não deixa de ser um filme no mínimo interessante e curioso.

P.S.: Sairam hoje os indicados para o Alfred, a premiação anual da Liga dos Blogues Cinematográficos. Confiram o belo trabalho de Chico Fireman e o resultado semifinal das preferências da Liga.

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