quarta-feira, fevereiro 11, 2009

QUESTÃO DE VIDA (Nine Lives)























Rodrigo García tem um desafio e tanto pela frente: superar a excelência de sua magnífica série EM TERAPIA (2008). Sua carreira pregressa, no entanto, ainda que bastante dedicada à televisão, já dava uma amostra de seu interesse e habilidade em investigar a alma humana, mais particularmente a alma feminina. Em CONFISSÕES AMOROSAS (2001), seu segundo longa-metragem, depois da bem sucedida estreia com COISAS QUE VOCÊ PODE DIZER APENAS OLHANDO PARA ELA (2000), já demonstrava que o diretor preferia projetos mais experimentais e intimistas, ao mostrar depoimentos de dez mulheres falando de experiências que elas tiveram com homens que marcaram suas vidas. Uma bela seleção de atrizes conta para a câmera, e consequentemente para o espectador, como se estivessem numa sessão de análise. O filme também pode ser visto como uma espécie de precursor de JOGO DE CENA, de Eduardo Coutinho, ainda que o cineasta brasileiro tivesse ambições maiores e diferentes enquanto o trabalho de García contém apenas monólogos, sem nenhuma intervenção aparente do diretor/entrevistador.

Vendo ontem QUESTÃO DE VIDA (2005), lançado em DVD no Brasil pela VideoFilmes, percebi o quanto essas experiências de García foram desembocar na aclamada série da HBO, embora cada trabalho tenha a sua importância e sua força, se analisados separadamente. QUESTÃO DE VIDA é uma série de nove planos-sequência que flagram minutos da vida de nove mulheres. Cada capítulo do filme ganha o nome dessas mulheres: Sandra, Diana, Holly, Sonia etc. As histórias – se é que dá pra chamar esses capítulos de histórias – estão, de alguma maneira, interligadas, trazendo personagens em comum com as demais. O olhar de García é sempre um olhar carinhoso para com suas personagens e mesmo se tratando de um filme episódico e, portanto, passível de irregularidade, o resultado final de cada episódio é comovente, cada um à sua maneira.

Algumas histórias são abandonadas no ato de um momento muito importante, como a de Holly, por exemplo. Outras aparentam ter um final. Com o tempo, vamos percebendo que os episódios não estão necessariamente em sua ordem cronológica. Entre os grandes momentos do filme, vale destacar a conversa entre os ex-namorados que se encontram depois de dez anos num supermercado (Robin Wright Penn e Jason Isaacs). Agora que suas vidas estão modificadas é doloroso ter que rever o outro, com os sentimentos teimando em brotar novamente, trazendo consigo as dores. Também achei lindo o episódio estrelado por Amanda Seyfried, a jovem que tem a vida inteira pela frente, mas que não quer abandonar o pai na cadeira de rodas (Ian McShane) e a mãe (Sissy Spacek). A dificuldade de comunicação entre os pais e ela servindo de elo de ligação, com a câmera a seguindo é angustiante. Pode-se sentir o peso que aquela jovem carrega e o quanto o amor às vezes pode ser um obstáculo para o crescimento pessoal. Um dos capítulos mais interessantes acontece num velório - o que novamente me fez lembrar de EM TERAPIA - onde William Fichtner é um homem com deficiência auditiva que acabou de ficar viúvo, mas que mantinha um caso com outra mulher. O encontro dos dois amantes durante o velório é um ponto alto do filme. Enfim, cada história poderia ser mencionada aqui. Mesmo as que não são tão marcantes têm a sua beleza e importância dentro do painel. E que belo capítulo final o filme nos aguarda, com o diálogo entre mãe e filha (Glenn Close e Dakota Fanning) fazendo um piquenique em frente a um túmulo.

Agradecimentos especiais ao amigo Zezão, que me apresentou esse belíssimo filme de García. E falando no diretor, não entendi porque ele aceitou fazer um filme de terror (PASSAGEIROS, 2008), claramente de encomenda, e que nada tem a ver com o seu histórico e sua marca autoral.

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