segunda-feira, fevereiro 09, 2009

O LEITOR (The Reader)





















Não era nem necessário ver os filmes para perceber que havia alguma coisa errada naquela lista de indicados ao Oscar deste ano. A impressão que fica é que para cada passo dado a frente, como foi o caso da boa safra do ano passado, a Academia dá três passos para trás. O melhor exemplo disso é a inclusão deste O LEITOR (2008), do inglês queridinho da Academia Stephen Daldry, na lista de melhores filmes do ano. Interessante notar que os outros dois longas-metragens de Daldry - BILLY ELLIOT (2000) e AS HORAS (2002) - também foram muito bem recebidos. No entanto, até mesmo a interpretação de Kate Winslet neste filme fica aquém da mostrada no superior FOI APENAS UM SONHO, de Sam Mendes.

O que muitos dizem, com uma ponta de cinismo, mas não com menos verdade, é que o filme ganhou o apoio dos votantes pelo tema e não por suas qualidades estéticas. A Academia tem um fraco por filmes que tratam do Holocausto e O LEITOR é um exemplo de isca para se pegar um peixe grande. Provavelmente não ganhe dos favoritos, mas só a indicação já é um presentão para um filme tão morno e sem graça. Em nenhum momento, Daldry conseguiu me comover com sua história de amor fria envolvendo um jovem de quinze anos e uma mulher com o dobro de sua idade.

Na trama, que se passa em diversas épocas, mas que se inicia de verdade numa Alemanha ainda se recuperando do baque deixado pela Segunda Guerra Mundial, David Kross é um jovem estudante que desce do ônibus passando mal, vomitando, devido a uma doença da época: a febre escarlatina. Ele é ajudado por uma mulher (Kate Winslet) que trabalha de recolher os tickets dos passageiros. Ele descobre onde ela mora e, meses depois, surge em sua casa, com flores, como forma de agradecimento. O que ele não esperava é que no segundo dia de visita, o sexo acontecesse tão fácil. Assim, o jovem vai tendo a sua iniciação sexual, ao mesmo tempo em que retribui esse enorme favor através da leitura. Hanna, nome da personagem de Kate Winslet, é uma mulher que adora boas histórias, clássicos da literatura, tem um senso estético, apesar de não ter tido, claramente, uma boa educação. Ela prefere que outros leiam para ela.

O filme, assim, é também sobre o gosto pela leitura, e com certeza deve funcionar melhor em sua fonte original: o romance de Bernhard Schlink. Mas o principal tema, além da valorização da leitura e do sexo e amor entre pessoas de idades diferentes é a questão da culpa coletiva que os alemães carregam nas costas por causa do Holocausto. E a figura de Hanna, responsável por administrar uma ala de um campo de concentração, é a representação da própria Alemanha, uma espécie de bode espiatório. Sua inocência, seu senso de responsabilidade e principalmente sua vergonha a levam a se sacrificar. E a aspereza é uma dominante no filme e até que funciona. Pena que nos momentos em que Daldry tenta soar um pouquinho mais melodramático, o filme quase se torna uma comédia involuntária, como nas vezes em que Hanna chora ao escutar emocionada a leitura dos romances narrados pelo seu jovem amante. É Kate Winslet pagando mico e levando o espectador junto com ela. Pelo menos as cenas de sexo e nudez ajudam a equilibrar um pouco a coisa. Quanto a Ralph Fiennes, sua interpretação é tão pouco destacável que dá para esquecer facilmente dele no filme.

O LEITOR recebeu cinco indicações ao Oscar: melhor filme, melhor diretor, melhor atriz (Kate Winslet, pela sexta vez), melhor roteiro adaptado e melhor fotografia.

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