quarta-feira, fevereiro 25, 2009

MILK – A VOZ DA IGUALDADE (Milk)























Dos indicados ao Oscar de melhor filme, dois deles se passam nos anos 70 e se utilizam de um registro semi-documental: FROST/NIXON, de Ron Howard, e este MILK – A VOZ DA IGUALDADE (2008), assinado por Gus Van Sant, cineasta que até pouco tempo era tratado com desprezo pela crítica e pela maioria dos cinéfilos, mas que depois de GERRY (2002) resolveu radicalizar e fazer um trabalho experimental e autoral, revelando-se um dos cineastas mais importantes da atualidade. Assim como Van Sant ousou se libertar do academicismo e da mesmice hollywoodianos para abraçar o diferente, assim também Harvey Milk ousou peitar a polícia e a sociedade de sua época e não apenas assumir publicamente sua homossexualidade, mas também lutar pela igualdade de direitos e pelo fim da discriminação. Não era uma luta fácil, é verdade. E muita coisa ainda não mudou, mas muito do que foi conseguido se deve a Harvey Milk, a primeira figura política assumidamente gay, que começou procurando mudar a sua rua, a Rua Castro, da cidade de San Francisco, cidade que já teve a fama de ser matadora de homossexuais e hoje é uma espécie de meca da diversidade sexual.

Quanto a Van Sant, também homossexual assumido, digamos que ele fez algumas concessões para tornar a sua obra de mais fácil acesso ao grande público. Concessões estéticas, ainda que sua obra encontre pontos que a vinculam a ELEFANTE (2003), por exemplo. Não é para menos que conseguiu ficar entre os cinco indicados ao prêmio da Academia e a premiação de ator e as cenas de beijos entre Sean Penn e James Franco na festa meio que vieram para compensar a falta de prêmios mais importantes para O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN numa edição passada do prêmio. Se o filme de Ang Lee era sobre o amor que não pode ser dito, MILK é sobre a coragem de dizer. Dizer como forma de sobreviver. A certa altura do filme, Harvey Milk, num discurso privado para seus amigos mais íntimos, pergunta se alguém ali já saiu definitivamente do armário, se já contou para toda sua família e amigos quem eles são realmente. Um deles afirma que nunca contou o fato para o pai e é encorajado por Milk a ligar para ele imediatamente.

No entanto, tentar mudar a cabeça de uma nação que cresceu com raízes puritanas tão fortes não é fácil. E o filme já começa com Milk deixando um testamento numa fita cassete, para ser ouvido caso ele seja assassinado. E os homossexuais morrem no filme não apenas assassinados pela polícia, por grupos extremistas ou por psicopatas em potencial. Eles morrem também de suicídio, seja por não aguentarem a pressão da sociedade, seja por se sentirem sozinhos e abandonados. Um dos momentos mais bonitos do filme é quando um jovem do interior dos Estados Unidos liga para Milk e diz que vai tirar a própria vida, pois o pai quer levá-lo para uma clínica para "consertá-lo". Milk diz para ele fugir dali imediatamente e ir para a cidade grande mais próxima. Mas o jovem também tem outro problema: ele não consegue andar.

Apesar de tratar de um tema tão forte, deprimente e de fácil caminho para o melodrama, Gus Van Sant se utiliza de um registro mais seco, com a câmera na mão frequentemente, como forma de tornar o seu filme mais próximo da realidade, mais próximo dos Estados Unidos da década de 70. MILK não nega seu caráter panfletário. É mesmo um filme de natureza política. Assim MILK se aproxima mais do seu objeto de estudo, como para dar continuidade à luta de Harvey Milk. Não é para menos que o discurso de Sean Penn no Oscar tenha sido tão incisivo. Ele quis verdadeiramente proclamar a sociedade americana a se unir para quebrar de vez o preconceito aos grupos homossexuais. E acredito que tanto o também oscarizado roteirista quanto o diretor Gus Van Sant tiveram motivos para ficar orgulhosos do astro.

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