segunda-feira, fevereiro 02, 2009

OLHOS DIABÓLICOS (The Girl who Knew Too Much / La Ragazza che Sapeva Troppo)





















No ano mais fértil de sua carreira, o grande Mario Bava lançou três pérolas. Pouco antes dos sensacionais BLACK SABBATH (1963) e THE WHIP AND THE BODY (1963), o genial cineasta realizou THE GIRL WHO KNEW TOO MUCH (1963), considerado pelos especialistas como o primeiro filme do gênero giallo. (Vou utilizar o título em inglês do filme pois é como ele é mais conhecido. OLHOS DIÁBOLICOS é o título de quando ele passou nos cinemas brasileiros.) Apesar de o título original fazer uma clara homenagem aO HOMEM QUE SABIA DEMAIS, de Alfred Hitchcock, a obra de Bava encontra mais relações com as literaturas de suspense baratas, os famosos gialli, pouco conhecidos no Brasil, mas acredito que quem já leu um gibi do Dylan Dog pode ter uma ideia do clima desses livros.

O fato é que, ainda que a narrativa tenha uma boa importância na trama, Mario Bava – e seus demais seguidores, em especial, Dario Argento – transformou o que seria uma simples e banal trama de mistério e assassinato em algo especial, que valoriza enormemente o aspecto visual. Embora Bava seja mais conhecido pela sua bela e original paleta de cores, THE GIRL WHO KNEW TOO MUCH, assim como sua estreia na direção, BLACK SUNDAY (1960), são adeptos do bom e velho preto e branco. Mas sem deixar de lado o extremo cuidado com a fotografia e a direção de arte. E ao mesmo tempo, conseguindo um efeito atmosférico excepcional, construindo um clima de suspense e terror únicos.

A sucessão de eventos que acontecem durante a primeira meia hora de filme já é de deixar o espectador entusiasmado e com um sorriso no rosto. Nessa frenética meia hora, a heroína estrelada pela bela Leticia Roman, já no avião, vindo de Nova York e com destino a Roma, dá de cara com um traficante de drogas. Ao chegar ao seu destino, a casa de sua tia moribunda, não leva muito tempo para que ela testemunhe a morte da velha, em circunstâncias arrepiantes e numa noite de tormenta. Depois disso, a jovem ainda é assaltada enquanto circula desesperada pelas ruas de Roma e testemunha um brutal assassinato, antes de perder os sentidos e acordar num hospital.

E isso é apenas o começo de uma trajetória de mistério e diversão, onde as sombras são tão importantes quanto a luz. Além do mais, o filme fornece uma boa leva de suspeitos, que por si só já servem como diversão para o espectador – tentar adivinhar quem matou a mulher. Se é que mataram mesmo, já que muitos afirmam que tudo é fruto da imaginação de uma mulher viciada em Agatha Christie e livros de suspense em geral. E diferente de Hitchcock, que costumava entregar logo de cara em seus filmes o assassino, Bava resolveu seguir uma tradição de "quem matou fulano?" e sem querer deu início ao giallo, um gênero que seria aprimorado por ele mesmo em BLOOD AND BLACK LACE (1964), ganhando características próprias e algumas regras que podem ser ou não seguidas pelos vários cineastas que resolveram se aventurar pelo estilo. Mas a base estava nesse belo filme em preto e branco desse cineasta sem igual.

P.S.: Está no ar a homenagem que Davi de Oliveira Pinheiro fez a David Lynch e com a participação do próprio cineasta. O curta se chama SOUL DETECTIVE e pode ser visto direto do site da Fangoria! E em melhor qualidade de som e imagem no endereço www.v2cinema.com. Confiram!

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