domingo, fevereiro 22, 2009

FROST/NIXON























Numa atitude de rebeldia diante do descaso e desrespeito das distribuidoras, eu, que sempre costumo esperar para ver o filme no cinema, resolvi pegar da internet FROST/NIXON (2008), um dos cinco indicados a melhor filme do Oscar 2009. Este ano, pela primeira vez em muito tempo, as distribuidoras não conseguiram agendar o lançamento de todos os cinco indicados ao prêmio principal até pelo menos o final de semana do Oscar. Como não sou de ficar contando o que gasto com cinema durante o ano – pelo menos a tão falada crise ainda não chegou a esse ponto – vejo que perdi de ver um filmão no cinema, mas por outro lado, ver o filme na hora que me convém e no conforto da minha poltrona e com as luzes apagadas para se aproximar do clima da sala escura tem a suas vantagens. Como não se trata de um filme que tenha muitos planos gerais, tendo mais cenas se passando em lugares fechados, acredito que não se perde muito vendo na telinha. Ao contrário, foi um prazer ver esse filme nessas condições. E "prazer" é uma palavra que surpreendentemente combina com FROST/NIXON.

Digo "surpreendentemente" porque a direção do filme é de Ron Howard, cineasta que tem mais erros do que acertos em sua filmografia. E porque o filme é sobre uma entrevista dada a um político. Quer dizer, jamais imaginaria que um filme com um tema desses se tornasse algo tão agradável e empolgante. FROST/NIXON parece um filme de luta de boxe misturado com drama de tribunal. Ron Howard e o roteirista Peter Morgan – que já havia se saído muito bem abordando temas políticos em A RAINHA - recebem muitos pontos positivos com esse trabalho. Aliás, daria para fazer uma comparação entre esses dois ótimos filmes, dado o tom semi-documental adotado por ambos, ainda que de maneira distinta. No filme de Howard, a inclusão de pequenas entrevistas com os personagens do filme, dadas como se eles estivessem participando de um documentário ou um programa jornalístico, torna-o ainda mais interessante.

No terreno das interpretações, quem rouba a cena é mesmo Frank Langella, que faz um Richard Nixon decadente, logo após ter se afastado da presidência após o escândalo Watergate. Mas Michael Sheen não faz feio no papel do apresentador de entrevistas para a TV David Frost. Eu diria que o ator, só agora, alcançou a visibilidade necessária. Eu, pelo menos, só fui me lembrar que era ele que havia interpretado o Primeiro Ministro Tony Blair em A RAINHA vendo sua filmografia no IMDB. O ótimo elenco ainda inclui Rebecca Hall, outra atriz que havia passado batido por mim até vê-la em VICKY CRISTINA BARCELONA, de Woody Allen, e ter me apaixonado por sua personagem. Novamente, ela encanta no papel da moça que David Frost conhece na primeira classe de um voo e que, logo no dia em que a conhece, a convida para um encontro com Richard Nixon. Ela, claro, não ia deixar de perder essa oportunidade. Kevin Bacon é o braço direito de Nixon, o cara que levaria uma bala pelo seu chefe; e Sam Rockwell é o homem que quer ver Nixon se humilhar diante das câmeras e pagar pelos crimes que cometeu enquanto Presidente dos Estados Unidos.

Mas quem acha que foi fácil preparar essa histórica entrevista não sabe o quanto David Frost teve que penar, à procura de patrocinadores, bancando com o seu próprio dinheiro e tendo que fazer a entrevista de forma independente, para depois vender para alguma emissora de televisão interessada. Os bastidores dessa luta de Frost pela entrevista, que durou anos para se realizar, também tornam o filme atraente. Mas nada como os detalhes da personalidade de Nixon, que é mostrado não exatamente como um vilão, mas que pode despertar sentimentos contraditórios no espectador: da raiva ao desprezo, da indignação à pena. E por isso que sua indicação ao Oscar é mais do que merecida. Deu de dez no Richard Nixon de Anthony Hopkins no tedioso NIXON, de Oliver Stone.

P.S.: Ontem fiz uma viagem histórica para a casa de meu avô, homem bastante querido por todos que o conhecem e que se encontra abatido pela sequelas de dois AVCs. Por razões que vão além de nossa compreensão, a viagem para ir vê-lo nunca dava certo. Ontem, para minha surpresa, finalmente deu. Agora o patriarca, o sr. José Fernandes, vive sob os cuidados de sua filha (minha tia) numa localidade do município de Aratuba. O lugar é longe e de difícil acesso, mas valeu a pena ter estado lá. Eu, que costumo sempre dizer que só choro em filmes e não na vida real, tive que conter as lágrimas. Foi muita emoção. Aos 88 anos de idade, ele fica cada vez mais emocionando quando alguém da família vai visitá-lo. E chora com a partida. Muita coisa passou pela minha cabeça, olhando para aquela vida simples e sofrida, e me senti um pouco como um Eduardo Coutinho, escutando com atenção e interesse a conversa de senhores velhos e que tem tanta história pra contar. Só que fazendo parte da história. Enfim, daria um post inteiro só pra esse assunto.

P.S. 2: O Diário de um Cinéfilo foi citado na Folha Online, numa matéria sobre sites de cinema. Bacana. :)

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