terça-feira, fevereiro 17, 2009

EASY VIRTUE






















A peregrinação pela fase muda de Alfred Hitchcock não está sendo tão agradável quanto ver seus melhores filmes. Mal posso esperar para iniciar logo os filmes dos anos 30. Mas enquanto não chego lá, vou vendo aos poucos os que ainda restam da fase muda do mestre do suspense. Chegamos, então, a este EASY VIRTUE (1928), um dos quatro filmes do diretor produzidos em 1927. E vale esclarecer que não estou seguindo a ordem de lançamento dos filmes, mas a ordem de produção, que é a ordem de como eles são comentados nas entrevistas que o cineasta deu para François Truffaut e Peter Bogdanovich nos livros "Hitchcock/Truffaut - Entrevistas" e "Afinal, Quem Faz os Filmes". Como se trata de um filme menosprezado tanto pelos fãs e pela crítica quanto pelo próprio cineasta, pouco se fala de EASY VIRTUE nas entrevistas. O próprio Bogdanovich pergunta a Hitchcock se vale a pena falar alguma coisa sobre esse filme. Quer dizer, o próprio entrevistador já não valorizava esse trabalho.

O que Hitchcock destaca em ambas as entrevistas é a cena da telefonista, na qual não vemos (e nem ouvimos, claro, já que é um filme mudo) a conversa dos dois namorados. Sabemos o rumo da conversa e a decisão final da protagonista - se ela aceita ou não casar com o rapaz da alta sociedade - através apenas da expressão facial da telefonista. Há algum suspense na expectativa de que a heroína, divorciada e tendo passado por um escândalo na sociedade, não tenha seu passado descoberto pela família do noivo, que a odeia desde o primeiro momento que a vê. O fato de ela ser inocente, de não ter chegado a trair o marido que vivia bêbado, faz com que o filme seja mais um que traz o principal tema recorrente hitchcockiano: a pessoa inocente pagando por algo que não fez. O início do que seria tratado nos filmes de Hitchcock como a transferência da culpa. O mesmo havia acontecido no anterior, DOWNHILL (1927).

Há outras coisas em comum entre EASY VIRTUE e DOWNHILL. O rapaz que faz o papel do noivo no filme é Robin Irvine, o mesmo ator que contracena com Ivor Novello em DOWNHILL. A atriz, Isabel Jeans, também está em DOWNHILL. Diria que EASY VIRTUE é um pouco melhor resolvido narrativamente, mas perde pontos no aspecto inventivo com o outro filme. Tirando a cena da telefonista, EASY VIRTUE não apresenta praticamente nada de novo. E eu diria que, talvez por ser baseado numa peça de teatro e ter duas cenas se passando num tribunal, o filme carece muito do som. Hitchcock, ao contrário de cineastas como Charles Chaplin, Buster Keaton e F.W. Murnau, nasceu mesmo para o cinema falado.

Há uma refilmagem inglesa de EASY VIRTUE, com Jessica Biel no papel principal, que está estreando aos poucos em alguns países da Europa, mas que ainda não chegou ao mercado americano. Segundo o IMDB, o remake chegou a ser exibido no Brasil, durante o Festival do Rio do ano passado.

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