quarta-feira, novembro 12, 2008

UMA GAROTA DIVIDIDA EM DOIS (Une Fille Coupée em Deux)



Hoje em dia, os filmes de Claude Chabrol se tornaram tão obrigatórios de se ver no cinema pra mim quanto os filmes de Woody Allen. Infelizmente eu só tomei consciência disso muito recentemente, a partir de A DAMA DE HONRA (2004), quando eu pude sentir, pela primeira vez, o prazer que é ver um filme do diretor na tela gigante. E como Chabrol tem uma obra extensa, tendo iniciado seu primeiro longa-metragem em 1959 com NAS GARRAS DO VÍCIO, marco da nouvelle vague, correr atrás dos filmes não vistos é uma tarefa ao mesmo tempo prazerosa e árdua.

Assim como A DAMA DE HONRA e demais filmes do diretor, UMA GAROTA DIVIDIDA EM DOIS (2007) trata novamente de questões familiares, elemento bastante comum no cinema de Chabrol. Dessa vez, o ciúme reaparece com força, tendo sido abordado mais explicitamente no perturbador CIÚME – O INFERNO DO AMOR POSSESSIVO (1994), que contava com uma Emmanuelle Béart no auge da beleza. E falando em mulher bonita, um dos maiores trunfos de UMA GAROTA DIVIDIDA EM DOIS é justamente a presença sempre sensual e resplandecente de Ludivine Sagnier, que tem deixado de ser apenas a musa de François Ozon para se tornar também uma atriz querida e disputada por cineastas do porte de Chabrol e Christophe Honoré, que a utilizou no maravilhoso CANÇÕES DE AMOR. No filme de Chabrol ela interpreta a moça da meteorologia de um telejornal. Com sua beleza, seu sorriso e seu carisma, ela tem todas as chances de subir no terreno profissional, até porque ela é abordada constantemente por seus superiores, muito provavelmente para "tirarem uma casquinha" da moça.

Sua vida muda quando ela encontra o escritor de best-sellers Charles Saint-Denis (François Berléand), homem bem mais velho que ela, mas cujo charme desperta na moça uma atração fatal. Ao mesmo tempo, ela é desejada pelo jovem "emo" Paul (Benoît Magimel), milionário que não faz nada da vida a não ser usufruir da fortuna herdada pelo seu pai. Como ele tem um temperamento instável, é constantemente seguido de perto por outro rapaz, que o filme não deixa claro, mas parece se tratar de uma espécie de guarda-costas contratado pela família. Paul se ressente da mãe, que não lhe deu a devida atenção quando criança, e por isso vive revoltado com tudo e com todos. Mais detalhes sobre a infância de Paul serão relatados no final do filme. Paul nutre um ódio especial por Charles Saint-Denis, especialmente quando ele tem bem mais chances que ele de conquistar a garota por quem ele se apaixona.

E como se trata de um filme de Chabrol é natural que as coisas se encaminhem para algum crime ou algo próximo do suspense, apesar de os filmes do diretor terem um andamento todo próprio, mais lento, o que os diferencia bastante dos trabalhos de Hitchcock, com quem ele é freqüentemente comparado. Há quem diga que Chabrol, nessa sua fase mais tardia, está no auge de seu talento e criatividade. Assim como o personagem de François Berleand, o diretor tem a experiência e a sabedoria ao seu lado para compensar a velhice. Se o filme não me conquistou tanto quanto os dois trabalhos anteriores do diretor – A DAMA DE HONRA e A COMÉDIA DO PODER (2006) - talvez tenha sido, em parte, culpa da péssima cópia digital distribuída nos cinemas brasileiros. Sei que o sistema digital veio para ficar mas é sempre bom dar uma alfinetada nos responsáveis pelas cópias, para que haja pelo menos uma melhoria na qualidade das exibições.

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