segunda-feira, setembro 01, 2008

BEZERRA DE MENEZES - O DIÁRIO DE UM ESPÍRITO



O Brasil é o país com a maior concentração de kardecistas do mundo. Logo, BEZERRA DE MENEZES - O DIÁRIO DE UM ESPÍRITO (2008) tem potencial para ser um filme bem sucedido comercialmente, especialmente dentro da comunidade espírita e entre os milhares de simpatizantes da doutrina de Allan Kardec. Tanto é que eu assisti o filme num domingo às duas da tarde, horário geralmente vazio, num shopping curiosamente localizado na Av. Bezerra de Menezes, e a sala estava praticamente cheia.

Bezerra de Menezes é considerado por muitos o Allan Kardec brasileiro, pois foi em fins do século XIX que ele, só depois dos 50 anos de idade, abraçou a causa espírita, após ter lido "O Livro dos Espíritos". Ele que, como médico, já era uma pessoa extremamente caridosa, tornou-se ainda mais depois do esforço de propagar o Espiritismo pelo Brasil. No filme de Glauber Filho e Joe Pimentel, o exemplo maior de convicção e poder de argumentação de Bezerra é mostrado na cena em que ele é convidado a participar de um debate com um grupo de racionalistas.

No papel do "médico dos pobres" está Carlos Vereza, também espírita, e que ficou bastante feliz com o papel. Dizem até que, durante as filmagens, um médium chegou a ver o espírito de Bezerra de Menezes ao seu lado. O filme, no entanto, sofre de uma irregularidade de ritmo (embora às vezes lembre uma obra de Manoel de Oliveira), da falta de mais fatos interessantes na vida de Bezerra - especialmente de sua mocidade -, e de parecer um filme estritamente religioso e engajado, como se fosse feito mais para agradar os espíritas e não tivesse um comprometimento mais artístico. A título de comparação com outro filme religioso, LUTERO, por exemplo, era um filme que também se podia ver dentro desse nicho, porém, sua narrativa era bem mais rica historicamente.

Nos seus poucos 75 minutos de duração, BEZERRA DE MENEZES – O DIÁRIO DE UM ESPÍRITO, parece ter pouco a mostrar. No que se refere aos fenômenos sobrenaturais, há pouca coisa mostrada, com exceção da cena do rapaz pagando adiantado para que o jovem Adolfo Bezerra de Menezes, carente de dinheiro para bancar os seus estudos e sua alimentação, lhe dê aulas de Matemática. Porém, não deixa de ser interessante notar o quanto o filme descarta da vida cotidiana do médico coisas importantes como seus namoros, casamentos ou a dificuldade de se adaptar no Rio de Janeiro, coisa que seria normalmente mostrada numa cinebiografia mais convencional. Assim, o fime prefere dar espaço para que o que os realizadores consideram mais importante: a doutrina espírita e o caráter elevado e caridoso do médico, com direito a uma seqüência puramente documental durante os créditos finais.

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