sábado, julho 26, 2008

CINCO CURTAS



A semana foi marcante principalmente pelos cinco dias do curso de Crítica de Cinema, ministrado pelo Ruy Gardnier. No curso - ou oficina - pude conferir dois desses cinco curtas: o absolutamente genial UMA SEMANA (1920), de Buster Keaton, e o nacional MAN.ROAD.RIVER (2004). Mas antes mesmo de ver esses dois filmes, já havia tido a idéia de baixar alguns curtas para justificar o fato de escrever algumas linhas sobre o primeiro trabalho de Jaume Balagueró, o curta ALICIA (1994). Aí fui aproveitando pra pegar mais uns dois curtas para ver, dando preferência, claro, para trabalhos de diretores de quem eu gosto. Além do mais, a vantagem do curta é que, se ele for ruim, passa rápido. :)

UMA SEMANA (One Week)

Sem dúvida, uma obra-prima. Conheço pouco do trabalho de Buster Keaton, mas do pouco que vi - A GENERAL (1926) e COPS (1922) -, eu pude ter certeza do quão genial esse sujeito era. UMA SEMANA é mais uma prova disso. O filme tem uma ritmo e outras características que remetem aos desenhos animados que ainda se popularizariam nas décadas seguintes, isto é, ele antecipou tudo. Claro que não foi só ele, já que havia também na época Chaplin, Harold Lloyd e outros menos conhecidos que realizavam esse tipo de humor mais físico, mas acredito que foi ele quem levou as brincadeiras às últimas conseqüências, através de situações completamente absurdas e de uma produção tão bem cuidada que até hoje deixa muita gente admirada - eu, inclusive. Em UMA SEMANA, Keaton é o noivo que está em lua de mel com sua jovem mulher e ganha de presente uma caixa contendo uma casa de madeira que pode ser construída bastando seguir as instruções. Acontece que um sujeito que não quer ver a felicidade do casal faz sabotagem, trocando a ordem das caixas. Resultado: a casa, à medida que vai sendo construída, vai adquirindo um jeitão bem estranho. O filme atinge status de puro maravilhamento na cena da tempestade. Uma co-direção foi atribuída a Edward F. Kline.

MAN.ROAD.RIVER

O filme é um trabalho de dez minutos que utiliza câmera de vídeo e o recurso do zoom para fazer uma reflexão sobre a diferença entre visualizar as coisas a partir de um quadro menor e o esclarecimento que se tem quando se vê a expansão do quadro, a partir do lento uso do zoom-out. O filme mostra, aparentemente em tempo real, uma travessia de uma pessoa por uma rua alagada, que se transformou num rio. Não chega a ser tão chato quanto ver grama crescer, mas a idéia é interessante. Além do mais, trabalhos experimentais assim não tem mesmo a obrigação de entreter. Direção de Marcellvs L. Foi exibido nos festivais internacionais de curtas de São Paulo e Rio de Janeiro.

O DIA DA ESTRÉIA DE CLOSE UP (Il Giorno della Prima di Close Up)

O próprio Nanni Moretti (foto) interpreta o dono de uma rede de cinemas que está particularmente preocupado com a estréia de CLOSE UP, o então novo filme de Abbas Kiarostami. O filme começa com Moretti fazendo a contabilização dos números que os blockbusters americanos obtêm nos cinemas. O REI LEÃO, por exemplo, é o campeão das bilheterias na época. Para a estréia de CLOSE UP ele quer que o maior número de pessoas vá ver o filme e fica preocupado quando vê que a telefonista diz que o filme que está passando é iraniano, enquanto que ele acha que dizer apenas isso pode afastar a clientela, que ela precisa dar melhores atrativos para o espectador. Nota-se também que os italianos têm o hábito de ver filmes dublados e ele quer fazer um trabalho de reeducação para que as pessoas vejam os filmes em sua língua original e não com aquelas mesmas vozes que aparecem em todos os filmes e na televisão. Mas parece que é uma batalha em vão e o filme é visto apenas por uns poucos gatos pingados. O DIA DA ESTRÉIA DE CLOSE UP (1994) é uma delícia de curta. Além do mais, as preocupações de Moretti são facilmente compreendidas pelos cinéfilos. Ainda por cima aumentou a minha vontade de ver O CROCODILO (2006).

ALICIA

Jaume Balagueró ainda estava engatinhando na direção de filmes e estreou com esse filme de seis minutos em preto e branco e com imagens impactantes e oníricas de uma jovem, a Alicia do título, que enquanto brinca de se masturbar percebe que sua vagina está sangrando. Ela é capturada por seres estranhos que usam máscaras usadas geralmente em caso de contaminação radioativa ou biológica ou algo do tipo e é levada para uma criatura ainda mais estranha para satisfazer as suas taras. Não vou dizer o que eles fazem com Alicia pra não estragar a surpresa mas digamos que Balagueró se utiliza do grotesco para falar ao mesmo tempo de vampirismo e de maternidade. Sabe Deus quais foram as suas intenções com esse primeiro trabalho. O clima apocalíptico seria continuado e aperfeiçoado em seu curta-metragem posterior: DÍAS SIN LUZ (1995), já comentado aqui no blog.

COUP DE VICE

Curta que Chabrol dirigiu para o projeto LES REDOUTABLES (2001). Trata-se de uma mini-série para a tv trazendo episódios dirigidos por vários cineastas. O veterano Chabrol é de longe o mais conhecido de todos do projeto. Ainda assim, apesar do final-surpresa dessa estória de serial-killers, o curta está longe da elegância característica dos longas do diretor. Talvez porque ele não se adequasse bem ao projeto ou por a trama ser simplista demais. O filme mostra um homem de meia-idade cujo carro aparentemente pára de funcionar no meio da estrada. Pra completar, começa uma forte chuva. Uma mulher, numa caminhonete, o socorre. No rádio, ouvimos a notícia de que há um assassino à solta, cujo modus-operandi é usar uma chave de fenda na jugular de sua vítima. Não dá pra dizer mais, pois o curta é... curto. :) Assim como geralmente são também os comentários sobre curtas. Acho que o único curta que eu dediquei um comentário integral aqui no blog foi para o belo VINCENT, do Tim Burton, e nem sei como encontrei tanto o que falar a respeito.

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