segunda-feira, junho 02, 2008

SALÃO KITTY (Salon Kitty)



Considerado um dos mais importantes filmes da filmografia de Tinto Brass, SALÃO KITTY (1976) até que me decepcionou bastante. Talvez pelo fato de o erotismo do velho tarado (que na época nem era tão velho) ainda não ter atingido o grau de excelência e voltagem erótica, só conseguida de verdade a partir da década de 80. Nessa época, Brass, apesar de nunca negar o forte erotismo de seu trabalho, ainda se preocupava em ser uma espécie de Luchino Visconti, no que se refere ao cuidado com a direção de arte e a uma certa semelhança com a temática de OS DEUSES MALDITOS, filme de Visconti que também abordava os absurdos do nazismo realizado em 1969. Há inclusive, um protagonista que é um dos atores preferidos de Visconti: Helmut Berger. No entanto, longe da sutileza de Visconti, Brass faz um autêntico naziexploitation, apesar de ser uma das produções mais sofisticadas e caras do diretor. Tanto é que o desenhista de produção do filme, Ken Adam, tinha recém-saído da tortuosa produção da obra-prima kubrickiana BARRY LYNDON. Ainda traumatizado com o perfeccionismo de Kubrick, Adam encontrou em Brass um alívio e ainda pôde executar belos trabalhos. Quem vive com dor de cabeça nos filmes de Brass são os diretores de fotografia que têm que se virar para que a câmera não apareça nas inúmeras seqüências de espelhos, já uma marca presente nesse filme e que se tornaria uma obsessão para o cineasta nos filmes seguintes.

O Salão Kitty do título é o bordel onde os nazistas levaram mulheres completamente dedicadas ao "Nacional Socialismo", capazes de fazer tudo que seus superiores mandarem. O primeiro ato do filme mostra uma orgia onde moças e rapazes fazem uma coreografia de erotismo para os nazistas se deleitarem. Há também as cenas das experiências com pessoas defeituosas, como a mulher que transa com um homem sem pernas, ou outra que foge de um sujeito do tamanho do Hulk. Os quartos do bordel também seriam utilizados como meio de descobrir se há algum soldado desleal ou que não acredita no lema de Adolf Hitler. Para isso, esses quartos são equipados com radiotransmissores. Mas o filme vai ficando melhor quando foca a sua atenção justamente na prostituta mais bonita do bordel - a belíssima Teresa Ann Savoy, que apareceria também em outra controversa superprodução da putaria dirigida por Brass chamada CALÍGULA (1979). Margherita, a personagem de Teresa, se apaixona por um de seus clientes, mas jura devoção ao Reich. Helmut Berger brilha como o perverso oficial da SS e até aceitou fazer uma cena de nu frontal, mas só depois que Tinto Brass o convenceu que raspando os pêlos pubianos o pênis aparenta ficar maior.

Mesmo assim, apesar de suas qualidades, SALÃO KITTY é um filme frio e chato demais para uma produção com tantas cenas de sexo e uma personagem tão envolvente, bela e trágica quanto a de Teresa Ann Savoy. (Fico imaginando o mesmo filme nas mãos de Paul Verhoeven.) A dona do bordel, Madame Kitty, é uma personagem que poderia ser mais interessante, mas que acaba não gerando nenhum apelo ou simpatia. Mesmo assim, o filme foi uma das produções mais rentáveis da carreira do diretor, tendo faturado bastante na Europa, mesmo com (ou por causa de) todos os escândalos que causou na época e que hoje em dia não parecem tão escandalosos assim. Mas sou daqueles que preferem as produções mais modestas do cineasta. Em grandes produções como essa, Tinto Brass parece não se sentir totalmente à vontade para exercitar as suas taras e utilizar a sua câmera para fazer o que ele sabe melhor: flagrar os ângulos maravilhosos do corpo de suas musas.

P.S.: Para saber mais sobre naziexploitation, confiram o ótimo texto de Marcelo Carrard presente numa edição passada da Revista Zingu!, que cita alguns dos principais filmes desse subgênero obscuro.

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