terça-feira, maio 20, 2008

XXY



Algumas pessoas costumam estabelecer com freqüência comparações entre o cinema brasileiro e o cinema argentino e muitos dizem que o produzido na Argentina é superior ao nosso. É a velha rivalidade entre Brasil e Argentina mas que, diferente do que acontece no futebol, no cinema o povo costuma dizer que os argentinos são melhores. O fato é que são poucas as produções argentinas que chegam ao circuito nacional, não dando, portanto, para estabelecer uma comparação justa entre as referidas cinematografias, levando em consideração o que passa apenas nos cinemas e os lançamentos em dvd nacional. Os filmes argentinos que chegam aqui são os de cineastas mais conhecidos e/ou premiados ou que possuem temáticas que sejam intrigantes o suficiente para causarem o interesse do espectador. Esse é o caso de XXY (2007), estréia na direção da roteirista Lucía Puenzo, que recebeu prêmios em Cannes e em outros festivais com esse filme. Isso garantiu uma distribuição do filme pelo menos dentro do circuito alternativo. A trama chama a atenção com o tema da jovem (ou do jovem) que possui os dois sexos, o chamado hermafrodita.

No elenco, como o pai da jovem "diferente" interpretada por Inés Efron está o "onipresente" Ricardo Darín. Valeria Bertucelli, outro rosto conhecido, é a mãe protetora. Eles criaram a jovem sem optar pela cirurgia na infância, mas como tinham que escolher por um sexo, preferiram criar Alex (um nome "unissex") como uma menina. Os problemas começam a ocorrer com mais força na adolescência. Alex precisa tomar hormônios femininos para que os traços masculinos não comecem a aparecer. A trama se passa numa ilha no Uruguai, onde a família formada pelos três passa uns dias junto com outro casal (onde um deles é especialista em cirurgia corretiva) e seu filho adolescente. Com a presença do rapaz, Alex se mostra, de cara, bastante ousada, já logo convidando o rapaz para o seu quarto. E tratando de dizer que o viu se masturbando e que também fazia isso todos os dias. Ele, de início, evita, tem medo dela, embora não saiba ainda que ela não é uma menina normal. A relação dos dois é o foco do filme, mas vale destacar também os momentos de Alex com o pai e com a mãe. E como XXY não escolhe para si um único ponto de vista, um dos destaques de Ricardo Darin no filme é o momento em que ele se encontra com um frentista que nasceu hermafrodita também.

O filme, embora não seja inovador na estética e tenha uma narrativa até bastante convencional, traz algumas tomadas interessantes, como o momento em que o pai flagra a filha (ou o filho) fazendo sexo com o jovem. Os momentos em que Alex sai correndo na floresta também são destaques visuais. No meio dessa pequena tragédia, que não é nada pequena se pensarmos nos sentimentos e nas preocupações dos pais e do próprio adolescente em relação a ter que escolher o seu próprio sexo, sem nem ao menos saber se gosta de homem ou de mulher. Alguns momentos do filme, não sei porque, me fizeram lembrar do cinema italiano, principalmente a seqüência do estupro na praia. Como se tivesse algo de Antonioni ou de Zurlini ali. Quanto a Inés Efron, ela fez tanto sucesso com esse filme que já tem no currículo trabalhos com dois cineastas argentinos mais conhecidos e respeitados mundo afora: Daniel Burman (EL NIDO BACÍO) e Lucrecia Martel (LA MUJER SIN CABEZA).

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