terça-feira, abril 01, 2008

UMA GAROTA TÃO BELA COMO EU / UMA JOVEM TÃO BELA COMO EU (Une Belle Fille comme Moi)



Falta pouco pra eu terminar minha mini-peregrinação pelo cinema de François Truffaut. Infelizmente depois do muito bom AS DUAS INGLESAS E O AMOR (1971), o diretor pisou na bola novamente com UMA GAROTA TÃO BELA COMO EU (1972). E é impressão minha ou os franceses nunca foram muito bons no território do humor? Até Jacques Tati, que é considerado o grande mestre da comédia francesa, nem sempre me faz rir. E Truffaut, em sua primeira tentativa de fazer um filme essencialmente cômico falhou em diversos aspectos, principalmente na construção dos personagens, dando a impressão de que todos os homens são idiotas e a anti-heroína é uma sacana. Claro que se ele tivesse conseguido construir um clima cômico favorável, o filme poderia ter funcionado, mas infelizmente não foi o caso. Tanto que o filme tem poucos fãs, embora eu não duvide que eles existam. Afinal, ao que parece, eu fui um dos poucos que consideraram A SEREIA DO MISSISSIPI (1969) uma obra-prima, um filme que o próprio Truffaut foi desgostando com o tempo, talvez influenciado pelas críticas negativas.

UMA GAROTA TÃO BELA COMO EU, apesar de ser pouco satisfatório, é um filme com a cara de seu diretor. Há nele muitos elementos comuns de outros trabalhos de Truffaut, como a figura da garota selvagem, tema que surge de forma mais explícita em obras como OS INCOMPREENDIDOS (1959) e O GAROTO SELVAGEM (1970); e a figura do teórico, do estudioso da natureza humana, como o cientista do já citado O GAROTO SELVAGEM. Segundo o próprio Truffaut, em entrevista contida no livro "O Cinema segundo François Truffaut", o filme seria uma crítica a si mesmo, já que ele não apenas se identificava com a personagem da jovem rebelde e marginal, mas também com o sociólogo, pintado no filme como um completo idiota, que apaixonado pelo seu objeto de estudo, acaba ficando cego e se dando mal no final. Aliás, aí está outro tema bastante próprio do cinema de Truffaut: o do amor cego do homem por uma mulher que tem desde o início a intenção de seduzí-lo. O problema é que fica complicado para o espectador identificar-se com um idiota completo como o personagem do sociólogo, interpretado por André Dussollier (de UM CASAMENTO PERFEITO, de Eric Rohmer).

A personagem título do filme é vivida por Bernadette Lafont, que havia debutado no cinema justamente com o primeiro trabalho de Truffaut, o curta OS PIVETES (1957). E como ela não é tão adorável e bela como outras beldades de filmes do diretor como Claude Jade, Catherine Deneuve, Isabelle Adjani e Jacqueline Bisset, talvez a escolha dela para o filme não tenha sido muito feliz para o cineasta. No fim das contas, num futuro ranking de filmes de Truffaut, UMA GAROTA TÃO BELA COMO EU figuraria entre os que eu menos gosto.

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