quinta-feira, abril 17, 2008

CARTÕES POSTAIS DE LENINGRADO (Postales de Leningrado)



Enquanto o Cine Ceará encerra-se hoje, com a exibição de uma cópia restaurada de O DRAGÃO DA MALDADE CONTRA O SANTO GUERREIRO, de Glauber Rocha, não tive como conferir os filmes exibidos de segunda-feira pra cá. Mas ainda resta um longa-metragem do festival para comentar, que é esse simpático filme venezuelano que trata da ditadura militar na Venezuela dos anos 60. Com direção de Mariana Rondón, CARTÕES POSTAIS DE LENINGRADO (2007) é um filme que se assemelha ao argentino KAMCHATKA, de Marcelo Piñeyro, e ao brasileiro O ANO EM QUE MEUS PAIS SAÍRAM DE FÉRIAS, de Cao Hamburger, já que ambos tratam de tema similar e sob a ótica de uma criança, embora o venezuelano não tenha alcançado um resultado tão favorável quanto o dos filmes de seus países vizinhos.

O que mais me chamou a atenção no filme foi a maneira mais transparente como a ditadura militar da Venezuela tratava seus presos políticos. As propagandas de televisão deixavam claro que o exército estava treinado para prender ou matar os guerrilheiros, a resistência. E diferente do que acontecia no Brasil, quando os presos políticos eram dados como desaparecidos e tudo era muito velado, na Venezuela era permitido à família do preso visitá-lo, embora a tortura também estivesse presente como uma rotina. Talvez isso tenha mesmo acontecido de fato, ou talvez Mariana Rondón tenha preferido adotar um tom mais leve para o seu filme, em que o sangue é substituído por tintas rabiscadas nas cenas imaginadas e narradas pelas crianças. Passa, inclusive, um certo estranhamento quando ouvimos as vozes das crianças se sobrepondo às vozes dos adultosem determinados momentos do filme. Mas são esses pequenos detalhes que tornam CARTÕES POSTAIS DE LENINGRADO uma obra que foge do lugar comum e que merece ser visto.

O problema com o filme é que a sua estrutura fragmentada pode esconder falhas na narrativa. Por exemplo, fiquei na dúvida sobre quem seria de fato o protagonista, de quem seria o ponto de vista da estória: se da garotinha - possivelmente o alter-ego da diretora - ou de Téo, o menino que aparece mais vezes no filme e quem rouba a cena. Téo mora com a avó, que ele acreditar estar ficando louca. Um dia, o seu suposto tio, também de nome Téo, aparece para visitar a família, mas durante uma festa familiar ele é levado preso pela polícia. E é por causa dessa impressão de "bagunça" que o filme passa que o vejo com algumas reservas. Fica parecendo um filme com problemas de roteiro ou de edição.

CARTÕES POSTAIS DE LENINGRADO foi o filme escolhido pela Venezuela para concorrer ao Oscar de Filme Estrangeiro de 2008. Não ficou entre os finalistas.

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