sábado, fevereiro 02, 2008

VIAGEM A DARJEELING (The Darjeeling Limited)



O cinema de Wes Anderson não é pra todos os gostos. Ainda assim, ou talvez por isso mesmo, ele tem se tornado cada vez mais popular dentro de um certo círculo de cinéfilos. Meu favorito dele continua sendo OS EXCÊNTRICOS TENENBAUMS (2001), filme síntese de sua curta mais importante filmografia e o filme que consegue conjugar beleza plástica com emoção em um conjunto de canções selecionadas de modo a tornar o filme em uma espécie de longo e sofisticado videoclipe. VIAGEM A DARJEELING (2007), talvez pelo fato de não ter Bill Murray como protagonista (ele só aparece rapidamente no início do filme), diminui um pouco o aspecto de estranheza tão comum em seus últimos trabalhos, já que Murray é que é campeão em fazer "cara de pedra". O filme também parece ser mais despretensioso que os anteriores, menos preocupado em tornar cada fotograma uma pintura, um quadro, embora haja vários momentos nos quais os personagens parecem posar para a câmera, como se tivessem consciência de que estão participando de um filme. Essa espécie de consciência faz lembrar, inclusive, os filmes do Godard. Quem procura um filme por causa da estória pode se decepcionar bastante com VIAGEM A DARJEELING. A estória é menos importante do que as imagens, tanto que essa despreocupação, essa falta de pressa em chegar a um ponto está presente desde o início do filme, já que até pessoas atrasadas correndo para pegar um trem em movimento são mostradas em câmera lenta! E isso tem tudo a ver com os indianos, em especial com o hinduísmo, com o fato de desencanar da vida terrena, afinal, quando morremos, iniciamos um novo processo de vida, através da reencarnação.

Assim, VIAGEM A DARJEELING é daqueles filmes pra se assistir bem relaxado, quem sabe até com um incenso queimando do lado. Boa parte do elenco, que se tornou quase uma família para o diretor, está quase todo lá: Owen Wilson, Jason Schwartzman, Angelica Huston, Bill Murray. O principal elemento novo da vez é Adrien Brody como um dos irmãos que aceita o convite de um deles (Wilson) e se junta ao outro (Schwartzman) para uma viagem espiritual até Darjeeling, na Índia. A intenção da viagem, segundo o personagem de Wilson, é torná-los novamente próximos, depois de um tempo distantes um do outro. Depois ficamos sabendo que a intenção da viagem é também rever a mãe, que se tornou uma freira na Índia e sequer foi para o enterro do pai dos rapazes. Brody parece ser o mais normal dos três, o personagem de Owen Wilson aparece com a cabeça toda enfaixada e é cheio de mistérios e Jason Schwartzman (ô nomezinho difícil de escrever) gosta de andar descalço e é bem ativo sexualmente, já que ele dá em cima da moça que atende nas cabines. Ou então, seria uma forma de compensar o trauma do fim de um relacionamento, que para entender melhor é preciso ver HOTEL CHEVALIER (2007), um curta-metragem que funciona como uma espécie de prólogo e que não foi exibido num dos cinemas de Fortaleza que exibiu o filme (Espaço Unibanco Dragão do Mar) e eu só conseguí ver através de download. Vale a espiada, não só pelo fato de trazer Natalie Portman nua, mas porque é um belo trabalho, que muitos dizem ser melhor que o longa. E talvez seja mesmo. Mas tanto o curta quanto o longa trazem belos travellings, belos enquadramentos, belas utilizações da câmera lenta e das cores.

HOTEL CHEVALIER, com seus 13 minutos de duração, nos apresenta um pouco mais à intimidade do personagem de Schwartzman, que recebe a visita em seu quarto de alguém que ele ama muito e que tem se distanciando dele. É uma pequena estória de um coração partido e uma despedida. Mas voltando a VIAGEM A DARJEELING, o filme bem que podia explorar mais a sujeira e a bagunça que é o país, mas como sujeira não faz parte do gosto estético de Anderson, o lugar é pintado com uma beleza multicolorida de encher os olhos. A trilha sonora, sempre muito boa no cinema de Anderson, traz canções de bandas inglesas dos anos 60 (a mais conhecida talvez seja "Play with Fire", dos Rolling Stones) misturadas com temas retirados de filmes indianos de cineastas como Satyajit Ray. O resultado ficou bonito. Mas fica aquela sensação de que podia ter sido melhor.

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