sexta-feira, janeiro 04, 2008

A BÚSSOLA DE OURO (The Golden Compass)



Desde o sucesso de HARRY POTTER e O SENHOR DOS ANÉIS que todo final de ano aparece um novo filme de fantasia para tentar conseguir sucesso semelhante. Alguns não foram muito bem sucedidos nas bilheterias - como DESVENTURAS EM SÉRIE e AS CRÔNICAS DE NÁRNIA - e A BÚSSOLA DE OURO (2007) ainda é um icógnita. Será que vai se transformar numa franquia e fascinar as audiências? Sei não, mas com essa tendência de Hollywood trazer de volta o clima dos filmes mais realistas estilo anos 70, tenho uma leve impressão de que até as crianças andam um pouco enjoadas de universos fantasiosos. E por mais que Chris Weitz seja um diretor que eu simpatize - ele dirigiu UM GRANDE GAROTO (2002), ora -, o projeto parece ser "grande" demais para ele, que nunca havia dirigido uma super-produção. Um atrativo é a presença de Nicole Kidman, mas até ela parece estar pouco à vontade no papel. Mesmo assim, confesso que prefiro este A BÚSSOLA DE OURO ao último exemplar da franquia Harry Potter, embora perceba-se que ambos tragam a política e a rebeldia quase que como eixos de sustentação. Só que A BÚSSOLA DE OURO é mais transgressor. Principalmente em sua origem.

O filme é baseado no romance "A Bússola Dourada", do inglês Philip Pullman, ateu convicto e que costuma atacar a Igreja Católica sempre que tem oportunidade. O livro é explícito nesse sentido mas o filme tenta ser mais discreto, trocando o termo Igreja por Magistério, para evitar escândalos, ainda mais em se tratando de uma obra mais direcionada ao público infanto-juvenil. Não vejo nada de errado em criticar a Igreja, mesmo em livros infantis, isso até ajuda a exercitar a veia crítica das crianças, mas o que eu acho mais bizarro no filme é um pequeno detalhe: os dimons, termo que pronunciado em inglês tem o mesmo som de "demons" (demônios). Esses dimons são pequenos animais (que às vezes mudam de forma) dos mais diversos tipos e que todo mundo possui. Esses dimons não são ligados apenas afetivamente às pessoas, mas à própria alma delas. E os vilões da estória são os membros do magistério e um grupo que seqüestra as crianças e as separam de seus queridos dimons.

A protagonista do filme é a pequena Lyra, interpretada por Dakota Blue Richards, que tem um sotaque britânico bem carregado e bonito, o que dá um charme a mais à garota. A ela é dada uma bússola de ouro, um instrumento que nas mãos da pessoa certa é capaz de fornecer "a verdade". Assim como O SENHOR DOS ANÉIS, A BÚSSOLA DE OURO se passa num universo alternativo. Em nenhum momento do filme vemos a nossa dimensão. Nessa mundo estranho habitado por Lyra, há um grupo de ursos polares falantes, além de bruxas voadoras - Eva Green é uma delas. Na peregrinação de Lyra, ela torna-se amiga de um velho caubói, desses com sotaque de caipira americano, que possui um barco voador. No final, fica a impressão de um filme simpático e com um belo visual, mas que não tem a capacidade de encantar de verdade. Outro mérito de A BÚSSOLA DE OURO, além da simpática turma de Lyra, está em ser enxuto, isto é, não é um desses filmes com mais de duas horas de duração. No entanto, os leitores do livro talvez achem exatamente o contrário, já que muita coisa deve ter sido cortada nessa adaptação.

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