domingo, dezembro 23, 2007

NO VALE DAS SOMBRAS (In the Valley of Elah)



Não sou do grupo dos odiadores de Paul Haggis. Nem dos que odiaram o oscarizado CRASH - NO LIMITE (2004), embora tenha sido mesmo surreal a premiação para o dito cujo. Os roteiros de Haggis para os últimos trabalhos de Clint Eastwood são um pouco esquemáticos e não agradam a todos, mas suspeito que se ele não tivesse ganhado fama com CRASH seu nome passaria desapercebido. NO VALE DAS SOMBRAS (2007) é um trabalho melhor de Haggis, sente-se mais de perto as influências do velho Clint, com quem ele trabalhou nos últimos anos, e eu até diria que se colocassem um "Directed by Clint Eastwood" no final, aposto que enganaria muita gente. NO VALE DAS SOMBRAS tem muito em comum, por exemplo, com A CONQUISTA DA HONRA. São guerras diferentes, mas ambos fazem uma reflexão sobre a morte dos jovens enviados para lutar pelo seu país num ambiente estranho e as conseqüências na vida daqueles que voltam.

NO VALE DAS SOMBRAS é um filme que tem cara de Oscar. Deve ter sido realizado pensando no Oscar. E deve ganhar algumas indicações, principalmente para ator (Tommy Lee Jones). Apesar da sensação de vazio que fica no final e do incômodo patriotismo do protagonista, o filme tem as suas qualidades. Tommy Lee Jones é um militar aposentado que recebe a notícia de que seu filho, na primeira semana após ter voltado da Guerra do Iraque, é dado como foragido, desaparecido. Seu pai parte em sua busca. Quando o corpo do rapaz é encontrado, sua missão passa a ser a de descobrir os assassinos. Charlize Theron é a detetive encarregada das investigações que acaba tendo que lidar com os militares que estranhamente tentam acobertar o caso.

Ao lado de REDACTED, de Brian De Palma, e do já citado A CONQUISTA DA HONRA, NO VALE DAS SOMBRAS é mais um filme a mostrar o quanto a guerra mexe com a sanidade de uma pessoa enviada para lutar. Não se trata apenas de chorar pelos mortos de uma família. Seria, se olhássemos apenas o ponto de vista da mãe (Susan Sarandon), que perdeu os dois únicos filhos, vítimas da guerra. Já o personagem do pai, de Tommy Lee Jones, é mais complexo. Apesar de tudo, ele ainda acredita na força militar dos Estados Unidos, independente de quem esteja no poder, seja um presidente republicano ou um democrata, como se pode notar nas duas cenas da bandeira. Quanto à Charlize Theron, ela continua no seu processo de desglamourização, de quase rejeição de sua beleza, na intenção de se tornar uma grande atriz. E talvez ela esteja no caminho. Ela tem momentos brilhantes tanto dentro da delegacia, quanto em casa, com o filho pequeno. Também gosto da cena em que Tommy Lee Jones conta a estória de Davi e Golias para o garoto. Esse é o momento que justifica o título original. E um dos que justificam o filme também.

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