quinta-feira, novembro 22, 2007

O GATO PRETO (The Black Cat)



Aproveitando a oportunidade que eu tive de baixar uma cópia deste O GATO PRETO (1934), da série de filmes de terror da Universal dos anos 30, resolvi assistí-lo antes de ver A NOIVA DE FRANKENSTEIN, por razões cronológicas. Sem falar que quando eu for ver A NOIVA... vou querer ver também logo depois os extras e os comentários em áudio, o que necessitaria de mais tempo disponível. E tempo para o lazer é uma coisa que anda faltando pra mim. O que tenho feito mesmo é trabalhar. Sorte que esses dias estão menos conturbados e pelo menos estou conseguindo atualizar o blog no horário do almoço.

Mas não é apenas por ser um terror da Universal que O GATO PRETO me atraiu. Existem pelo menos outras três razões: 1) foi o primeiro filme em que os dois "monstros sagrados" da Universal, Bela Lugosi e Boris Karloff, trabalharam juntos; 2) o filme foi dirigido por um mestre do cinema B: Edgar G. Ulmer; e 3) seria mais uma adaptação da famosa obra de Edgar Alan Poe que eu passaria a conhecer. Acontece que o filme não tem nada a ver com o conto de Poe. O nome do escritor aparece nos créditos provavelmente por pura picaretagem. Se por um lado, eu fiquei desapontado, por outro, havia a vantagem de assistir uma estória totalmente nova, original, ainda que, no final, o filme em si não tenha me agradado tanto. Quanto a um gato preto, pelo menos tem um no castelo do personagem de Karloff. E o bichano aparece umas duas ou três vezes.

A estória parece ter sido criada meio que "na coxas", mas Ulmer conseguiu se virar muito bem com o material que dispunha. Na trama, jovem casal americano em lua-de-mel na Hungria conhece um estranho (Bela Lugosi) num trem (ou seria um ônibus?, não lembro bem). Em certo momento, acontece um acidente e o motorista morre. Como eles já estavam perto da casa onde Lugosi ficaria, eles aceitam ir a pé até o castelo onde o personagem de Lugosi ficaria para se acomodarem por lá durante uma noite. O tal castelo, construído em cima de um campo de batalha, pertence ao personagem de Karloff, cujo grande hobbie é matar e colecionar corpos, que ficam imóveis feito estátuas em redomas de vidro, escondidos numa sala secreta em seu castelo. Logo, o casal estaria correndo grande perigo naquele lugar.

O filme tem o mesmo espírito das tradicionais produções de horror da Universal daquele período, inclusive, com direito àquela mesma música romântica que abriu filmes como A MÚMIA nos créditos de abertura. Quanto aos dois astros rivais, lendo a entrevista de Edgar G. Ulmer no livro "Afinal, quem faz os filmes", o cineasta conta que gostou muito de Karloff, que era um sujeito de muito bom humor. Já Lugosi, segundo ele, dava muito trabalho, sendo necessário mantê-lo sempre na linha pra ele não exagerar muito na dramatização. Lembro que em ED WOOD, de Tim Burton, Lugosi era mostrado não apenas como um velho decadente, mas Burton também escancara a inveja que ele tinha de Karloff. Lugosi era revoltado, achava-se um ator muito melhor, dizia que Karloff só sabia grunhir, devido às várias vezes em que o astro interpretou a criatura de Frankenstein.

Um dos maiores méritos de O GATO PRETO se deve ao seu visual, influenciado pelo expressionismo alemão. O filme é muito rico no uso das sombras. Na entrevista, Ulmer conta que a força visual do filme se deve ao período em que ele freqüentou a Bauhaus, a escola de design, arquitetura e artes que funcionou na Alemanha, do final da década de 1910 ao início dos anos 30. Apesar de seus méritos, a melhor fase de Ulmer aconteceria mesmo nos anos 40, quando ele faria obras-primas do cinema noir como CURVA DO DESTINO (1946).

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