domingo, novembro 18, 2007

CLINT EASTWOOD EM TRÊS FILMES



Acho que já devo ter falado isso aqui, que quando eu crescer, quero ser que nem o Clint Eastwood. Acredito que na história do cinema não exista uma persona que tenha um apelo tão forte tanto em relação ao público masculino quanto ao feminino. Os homens o admiram, querem ser iguais a ele, talvez por quererem ter a mesma auto-confiança de seus personagens; as mulheres suspiram por ele, tanto dentro quanto fora das telas. E como diretor, se hoje ele é considerado um dos grandes até pela Academia, nos anos 80, as coisas não eram bem assim. Ao que parece, essa "canonização" surgiu a partir de BIRD (1988) ou de CORAÇÃO DE CAÇADOR (1990), mas a verdade é que Clint Eastwood, o diretor, já começou arrebentando. Afinal, qual outro cineasta tem o talento e a sorte de mandar uma obra-prima já em seu segundo trabalho de direção? Em sua carreira de diretor constam 27 filmes até o momento e mais dois sendo produzidos ou preparados. Poder ver filmes dos primeiros momentos de sua carreira é bom para ajudar a enaltecer tanto o carisma do ator quanto o talento e a sensibilidade do autor.

O ESTRANHO SEM NOME (High Plains Drifter)

Bebendo da fonte de Sergio Leone e do western spaghetti em geral, Clint retoma aqui a figura do pistoleiro sem nome que chega numa cidade estranha. O clima sinistro, inclusive com aquela música que mais parece saída de um filme de terror, também lembra bastante os melhores westerns realizados na Itália. Em O ESTRANHO SEM NOME (1973), Clint é um pistoleiro que chega numa cidade que carrega sobre si um clima opressor. Ele, na maior tranqüilidade do mundo, pede para lhe fazerem a barba e oferecerem-lhe um banho. Mas é só ele chegar na cidade que três sujeitos mal encarados mandam o homem cair fora do lugar. E ele se protege dos caras armados, mandando bala nos três. Logo após esse incidente, ele fica logo famoso na cidade e o xerife, meio covarde, lhe oferece uma proposta: ajudá-lo a matar três pistoleiros perigosos que estão prestes a sair da prisão. De tão desesperados que estão com a chegada dos três bandidos, os cabeças da cidade acabam oferecendo tudo de graça para o estranho, em troca de seus serviços. Inacreditável o que acontece em seguida. O ESTRANHO SEM NOME é provavelmente o filme mais explicitamente sombrio da carreira de Clint e lida com a temática da culpa como sentimento coletivo como poucos. E o bom é que o dvd da Universal valoriza a janela original do filme, em scope, e fica aquela imagem linda, de dar gosto. Pra quem curte a trilogia dos dólares de Leone, esse filme é essencial e talvez até tão bom quanto os do mestre italiano. Obra-prima.

ESCALADO PARA MORRER (The Eiger Sanction)

Esse eu já vi faz tempo. Esperava a oportunidade de ver outros filmes de Clint para resenhá-lo junto, mas o tempo foi passando e só agora rolou a chance. Trata-se de um trabalho menor do diretor/ator, mas ainda assim é um bom filme. Em ESCALADO PARA MORRER (1975), Clint interpreta um professor de arte e colecionador que também trabalha como agente secreto do governo americano. Um dos velhos amigos dele morreu ao escalar uma montanha e a agência secreta sabe que uma pessoa do grupo dos escaladores foi o responsável. Daí, "convidam" Clint a apanhar o responsável, se infiltrando no grupo. Há realmente pouca coisa que eu lembro do filme, o que acaba não sendo um ponto muito positivo, mas é, com certeza, ao menos um bom entretenimento. Gravado da Globo.

O CAVALEIRO SOLITÁRIO (Pale Rider)

Nos anos 80, o western havia "saído de moda", mas ainda assim O CAVALEIRO SOLITÁRIO (1985) foi um dos mais bem sucedidos filmes do gênero na época. Clint faz novamente um estranho sem nome que aparece como salvador de um grupo de pessoas necessitadas, mas dessa vez sem os tons sombrios de O ESTRANHO SEM NOME. Por usar um daqueles acessórios brancos ao redor do pescoço, o povo acredita que ele é um padre, tratam-no como um padre. Mas um padre muito estranho, desses que enfrentam três homens sozinho e com habilidades no gatilho invejáveis. Destaca-se também no filme Michael Moriarty, como o líder do grupo de mineradores de ouro que são constantemente atacados por um rico proprietário de terras local. Uma cena em particular me emocionou: a cena em que a jovem de quinze anos (Sydney Penny) declara-se apaixonada pelo "padre". O clímax final - um tiroteio, claro - é também muito bom, mas a cena de Moriarty ajudando a salvar Clint me pareceu copiada do final de O ESTRANHO SEM NOME. Mas são clichês do gênero que acabam sendo difíceis de evitar. O CAVALEIRO SOLITÁRIO homenageia o clássico OS BRUTOS TAMBÉM AMAM, de George Stevens (1953).

Agradecimentos especiais à amiga Socorro Araújo, que fez a gentileza de me emprestar os dvds de O ESTRANHO SEM NOME e O CAVALEIRO SOLITÁRIO.